Artigo: Brasil, Estados Unidos e o resto…

Bandeira do Brasil e dos Estados Unidos. Foto: Reprodução/Facebook

Até a noite desta quarta-feira (21), mais de 60 líderes internacionais se revezam no púlpito da 76ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Assim como nas edições anteriores, o Brasil abre os discursos. É seguido pelos Estados Unidos e depois, numa ordem que muda anualmente, vêm os outros países. Mas, por que cabe ao Brasil a honra de ser o primeiro a falar?

Desde João Batista Figueiredo, em 1982, Itamar Franco foi o único presidente brasileiro que abriu mão desse direito. José Sarney, Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro preferiram não perder a oportunidade. Como eu, talvez você já tenha ouvido que isso é porque o país foi o primeiro a assinar a carta das Nações Unidas. Esqueça! O Brasil foi de fato um dos fundadores da ONU, mas outros 49 países também assinaram o documento em 26 de junho de 1945.

A tradição começou quase por acaso. Segundo o setor de protocolos da entidade, nos primórdios da organização, quando ninguém queria abrir os debates, os diplomatas brasileiros foram os primeiros a se pronunciar em repetidas ocasiões, o que acabou virando uma regra não escrita. Já a ordem dos demais países-membros, exceto os Estados Unidos, segue um complicado conjunto de critérios. São levadas em consideração a ordem de inscrição e a posição geográfica, para colocar em sequência países de diferentes regiões. Mas também conta o grau de representatividade: chefes de Estado têm prioridade, seguidos por chefes de governo e depois por chanceleres e demais ministros. Assim, por mais importantes que sejam os primeiros-ministros do Reino Unido, do Japão, ou de qualquer outro país, sempre ficarão no meio ou no fim da fila.

Mas o privilégio do Brasil se mantém mesmo quando o país é representado pelo ministro das Relações Exteriores. Em 2010, assim como havia feito Itamar, Lula preferiu enviar o seu chanceler. Dessa forma, Celso Amorim discursou logo antes do então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. A posição de destaque dá ao representante brasileiro uma oportunidade única de ser ouvido pelo mundo inteiro. Imediatamente após o Brasil é a vez dos Estados Unidos, no papel de anfitriões, já que a plenária acontece em Nova York. Por isso, quem pula o pronunciamento de Bolsonaro pode perder o de Joe Biden.

Teoricamente, cada discurso deveria durar, no máximo, 15 minutos. Mas na prática não há controle. Em 2009, Muammar Kadhafi, presidente da Líbia, falou por uma hora e 36 minutos. Ainda assim, foi pouco se comparado a uma série de discursos de 1960, quando os líderes da Indonésia, Guiné e União Soviética passaram mais de duas horas no púlpito. Nenhum deles, no entanto, chegou perto de Fidel Castro, No mesmo ano, o presidente cubano ocupou a tribuna por longas quatro horas e meia. Já pensou ser jornalista naquela época e ter que resumir todos esses quatro pronunciamentos na máquina de escrever?

* Artigo de autoria de Alexandre Tortoriello – jornalista e mestrando de Relações Internacionais da PUC-Rio.

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