Artigo: Ataque a escola em Suzano, as raízes do problema

Fachada da Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP) - Reprodução de Internet

Fachada da Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP) – Reprodução de Internet

O artigo abaixo foi especialmente preparado para o SRzd pelos autores Rose Ribeiro Barbosa, Lucimar Ribeiro Barbosa e Clovis Pe. Rose Barbosa, 40 anos, professora na rede estadual (SP) há 22 anos. Leciona em 3 escolas da periferia da Grande SP. Todas elas muito próximas da Raul Brasil, onde ocorreu o atentado de Suzano:

Em meio a tanta dor e sofrimento, estão familiares, amigos, sociedade e uma categoria que pouco se manifesta e pouco é ouvida. Estamos nós professores, massacrados por familiares desestruturados, por um sistema midiático que visa o lucro acima de tudo e de todos, por políticas públicas ineficazes e/ou inexistentes e outros que no momento são tão insignificantes que não valem a pena citar.

Estamos imersos a uma cultura de violência a qual não percebemos. O termo violência possui alguns significados, no caso empregado ficaremos com dois: Qualidade do que é violento; 2- força súbita que se faz sentir com intensidade; fúria; veemência; palavra que deriva do latim violentia, violência impetuosidade, que está relacionada a violação.

O sociólogo H. L. Nieburg define a violência como “uma ação direta ou indireta, destinada a limitar, ferir ou destruir as pessoas ou os bens”. Para as definições citadas acima você leitor, pensaria em um ato ou ação, dentro do seu cotidiano ao qual você, sem perceber, emprega uma ação ou atitude que poderia ser considerada violenta?

Nosso cotidiano é repleto de momentos e situações que praticamos violência. O fato preocupante, é que não notamos o quão a violência está inserida em nossas escolhas. Nossas crianças, jovens e adolescentes estão sendo bombardeados dia após dia, com uma violência midiática a qual nós, professores, apenas nos tornamos expectadores de seus contos e ações diárias, que possuem como base de vivência o mundo que eles conhecem, o mundo da violência. É óbvio que não é regra, todavia é um número bem pequeno de alunos, que podemos dizer que possuem pouco contato diariamente com violência, seja ela direta ou indiretamente.

Se possuíssemos famílias estruturadas, com seus empregos e suas dignidades, crianças, jovens e adolescentes com bem menos tempo ocioso, sem tantas atividades de ordem violenta, será que teríamos tragédias como esta que foi mais uma em nosso país?

Após o ocorrido na EE Raul Brasil, que situada geograficamente a 10 minutos da escola onde a professora Rose Ribeiro leciona, ela percebeu que nós temos uma tendência de falar, analisar e nos manifestar frente ao fato ou seus sintomas. Dificilmente falamos ou tratamos da raiz do problema. “Tenho notado que há uma série de posts, reportagens, colocações e outros sobre o fato propriamente dito, as consequências e os efeitos colaterais dos fatos acerca da escola e das famílias e as causas (superficiais). Porém, pouco se fala da verdadeira raiz do problema”, diz ela.

Nós professores diariamente lidamos com alunos e famílias desestruturadas, crianças, jovens e adolescentes criados e sustentados por avós (com origem tão adversas ou até mesmo devido os pais terem problemas com dependência química). A cultura de violência a qual nossas crianças, jovens e adolescentes estão imersos e a permissividade adotada pelos pais ou responsáveis nos tempos atuais.

A conclusão é que a sociedade vem na contra mão do correto – e do politicamente correto de tempos atrás. Mario Sérgio Cortella diz que precisamos abrir mão do arcaico, e o que é tradicional, pertinente aos tempos atuais, deve ser associado ao contemporâneo. Hoje apenas desprezamos o tradicional. Por diversas vezes, escutamos de pais: “ darei ao meu filho o que não tive; não sei o que fazer com meu (a) filho (a); faz o que você achar que é correto professora; o que a escola está fazendo que meu filho volta para casa pior do que saiu”; e outras frases que, deixa evidente o quão a família transferiu responsabilidades e compromissos as quais são de sua incumbência.

Desta forma, temos uma sociedade que realmente acredita que a escola irá educar (formal e informalmente) seus filhos, iremos ensinar-lhes certo e errado; iremos construir seu caráter; iremos indicar-lhes o caminho a seguir enquanto adulto. O que realmente seria de incumbência da escola, nem ao menos aparece em questionamentos de reuniões de pais e mestres (isso quando o pai ou responsável aparece na reunião, geralmente vão aqueles que possuem uma família um pouco mais estruturada, porém que ainda assim, os questionamentos, não estão no campo da aprendizagem, mas no campo da educação e postura dos alunos/ou professores).

Hoje, nós professores, vivemos aterrorizados, pois temos alunos com histórico bem pior do que os dois rapazes envolvidos no ataque da escola.

Assim me questiono; se possuíssemos famílias estruturadas, com seus empregos e suas dignidades, crianças, jovens e adolescentes com bem menos tempo ocioso, sem tantas atividades de ordem violenta, será que teríamos tragédias como esta que foi mais uma em nosso país?

Hoje, nós professores, vivemos aterrorizados, pois temos alunos com histórico bem pior do que os dois rapazes envolvidos no ataque da escola. Vemos uma perspectiva de que se politicamente não se tratar a raiz do problema, teremos mais tragédias como as do EE Raul Brasil e infelizmente temos a certeza de que as coisas são aperfeiçoadas. Já que o mundo ao qual eles (alunos) estão imersos, é de violência.

A violência tornou-se parte do cotidiano e de uma forma ou de outra está se tronando intrínseca a eles e a todos nós. Me assusta em diagnosticar que, é legal brincar de bater no amigo, é prazeroso matar no jogo virtual, é divertido mexer com o colega ao ponto de ele chorar; é normal ser criado pelos avós mesmo tendo pai e mãe vivos.

Então, percebemos por meio do nosso oficio, que estamos construindo uma nova estrutura familiar a qual estamos sujeitos a tudo que o tradicional condenaria. E boa parte desta construção concluo que seja devido à falta de políticas públicas eficazes a família, crianças, jovens e adolescentes que de fato possibilite-os a terem esperança no futuro, haja vista que o futuro se faz no presente. Assim, vislumbrando um futuro de sucesso e respeito a si e ao próximo.

Temos que realmente pensar na dor do outro e traduzi-la em aprendizagem, até mesmo para que ela não seja em vão. Precisamos nos reunir: povo, sociedade, família, coletivo e cobrar das autoridades, políticas públicas que realmente tratem da raiz do problema, não só os sintomas. Hoje vemos e lemos nas redes sociais de várias pessoas, seja política, estudiosa ou anônima que, precisamos disso daquilo, ou daquilo outro… mas poucos dizem ou tratam do que realmente precisamos para curar o problema. Remédios são eficazes, mas a cura é a longo prazo.

Afinal transformar uma sociedade leva tempo, se ainda não entendeu, analise: há quanto tempo estamos perdendo a família a qual muitos de nós conhecemos e fizemos parte? Há quanto tempo estamos imersos a tantos jogos violentos seja online ou físico mesmo? Há quanto tempo vimos ou lemos, apenas, o grito de uma categoria, clamando por melhores condições de trabalho?

Enfim, deixamos a cultura da inércia de lado e enquanto brasileiros, seres humanos, lutemos por nossas famílias, crianças, jovens e adolescentes e consequentemente teremos uma sociedade infinitamente melhor.

DIGA NÃO A CULTURA DA VIOLÊNCIA E SIM A CULTURA DE PAZ.

Bibliografia

https://www.google.com/search?q=viol%C3%AAncia&oq=viol%C3%AAncia&aqs=chrome.0.69i59l2j69i61j0l3.3176j0j4&sourceid=chrome&ie=UTF-8
https://sites.google.com/view/sbgdicionariodefilosofia/viol%C3%AAncia

Sobre os autores:

* Rose R Barbosa, 40 anos. Professora na rede estadual (SP) há 22 anos, professora de carreira há 13 anos. Leciona em 3 escolas da periferia da Grande SP. Sendo elas muito próximas ao do atentado.

Lucimar Ribeiro Brabosa, 42 anos
Professora e advogada.
Na educação faz trabalho voluntário com crianças cujas as guardas foram tiradas da família. Já na advogacia, trabalha para um escritório no centro da cidade de SP.

Clovis Pe, tem 53 anos de idade. Intérprete de escola de samba, um dos cantores que inicio sua carreira com Jamelão, autor de 3 sambas na Estação Primeira de Mangueira. Atualmente faz parte do grupo musical da São Clemente.

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