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Bastidores da festa: Marcella Gil, muita poesia no Carnaval

Bastidores da festa: Marcella Gil , muita poesia no Carnaval. Foto: Acervo pessoal

Eu fiquei desejosa de saber, e contar aqui nesta coluna, quem é Marcella Gil, a bailarina que “cuida” do bailado do casal salgueirense há quatro anos. Mandei um recado por whatshapp e ela marcou um encontro. O nome do local que ela escolheu para tomarmos um café: Cheirin Bão! Ali, na Avenida Rio Branco, lugar no qual vivi lindos carnavais. Pois é, cheiro bom é coisa perfumosa, agradável, que afeta os sentidos, como os meus foram afetados por ela. E assim nos encontramos.

Na verdade, nos reencontramos, porque, eu já havia me encontrado com ela, quando aconteceu a primeira exibição do filme de Pedro Monteiro, “SALGUEIRO, um casal diferente”, no dia 20 de dezembro de 2022, na Estação Net Botafogo. Ela transitava entre os familiares da porta-bandeira Marcella Alves com desenvoltura. Havia carinho na relação! Depois, no dia 04 de janeiro de 2023, no Simpósio sobre a arte e a dança Mestre-Sala e Porta-Bandeira, tornei a encontrá-la. Silenciosa e sorridente, esparramando seu perfume pelo espaço, deslizava entre os casais presentes, com alguns, ela já havia trabalhado.

Recordando daquela cena vivida, recentemente perguntei a Daniel Werneck, primeiro mestre-sala da Grande Rio sobre Marcella Gill. Ele, gentil respondeu:

“Trabalhei com ela em 2018.” Lembrei que ele e a Veronica Lima, ganharam naquele ano, o Estandarte de Ouro. Ele afirmou: “Foi isso mesmo. E a Marcella Gill era nossa coreógrafa.” E completou; “Primeiro foi uma honra ter tido a oportunidade de trabalhar com ela, pois sempre foi atenciosa comigo e com a Verônica e sempre estava nos acompanhando em todos os compromissos desde ensaios na quadra, ensaios de rua e fora os nossos ensaios particulares. Posso dizer que aprendi algumas técnicas referente a dança que engrandeceu ainda mais o meu trabalho enquanto mestre sala”.

Quem é Marcella Gil para o Sidclei Santos? “Ela conseguiu em pouco tempo me levar do ódio ao amor… ela é totalmente comprometida… chata! Cobra muito, uma perfeccionista, totalmente entrega de corpo e alma ao trabalho, é uma verdadeira sambista, uma apaixonada pela nossa arte. Eu tenho muito a agradecer ela, ser grato a ela por muitas coisas que ela me passou, essa minha evolução, agradeço muito a ela. É um amor de ódio, paixão, carinho, respeito, tudo ao mesmo tempo! Ódio porque ela pega no meu pé, ela é muito perfeccionista, agora, ela é o amor da minha vida, não largo nunca mais!” E para Marcella Alves? “Então, sobre a Marcella! Desde quando nos conhecemos, tive a certeza de que ela era uma pessoa diferenciada no que se refere a dedicação. A Marcella é uma pessoa interessada em aprender e em dividir conhecimento, viciada em trabalho e atividade física… Acho que só isso, já seria um ponto a mais para ela dar certo conosco (risos).

Mas além disso, ela é humana, tem o prazer em ajudar o próximo e ser útil de alguma forma. O conhecimento e comprometimento da Marcella com o trabalho, fez total diferença para o crescimento da minha parceria com o Sid. Em qualquer área da nossa vida, quando somos direcionados e cobrados a fazer o melhor, quando tem uma pessoa ali mostrando que podemos mais do que estamos fazendo e que dedicação constante trás excelentes resultados, faz diferença não só no processo como no produto final. E é bem por aí… Nesses anos com ela, nossa parceria se consolidou e se aprimorou muito. Sou muito grata a Deus em tê-la conosco.” E enfim, eis o que nos diz sobre ela o preparador físico do casal, Bruno Germano: “É desafiador falar pouco de alguém que eu admiro bastante… duas coisas me chamam muito atenção na Marcella Gill: … ela não impõe nada, e é obstinada por ensaio…eles ensaiam bastante, sempre a partir da proposta do casal que apresenta suas ideias, ela então apresenta sugestões e sua visão, num olhar “de cima” do todo! A segunda, que eu acho muito bacana – ela vai em tudo! Eu acho isso muito importante porque as sugestões dela partem do que ela observa nos improvisos do casal. Ela vai onde o casal for se apresentar e pede para que eles dancem sem uma coreografia, observa e, então ela vai trazendo para a performance deles o que observou do dançar livre e espontâneo! Ela faz tudo com muita energia, muita dedicação, ela vibra, ela fala alto, dá um sorrisão, ela vive muito aquilo…” Ainda encantada com a leitura destes depoimentos, recebi e a reposta de nossa entrevistada, sobre “quem é Marcella Gill:

“Sim! Vejo muita poesia no carnaval!

Sou nascida e criada em Niterói. Sou bailarina, com formação também em Pilates e Girotonic, e pedagoga. Me formei em dança pela Fundação Fluminense de Ballet, de Helfany Peçanha, pessoa que não só me conduziu e orientou nos primeiros anos de vida profissional e na formação do meu caráter, como me mostrou, na prática, o verdadeiro significado da palavra comprometimento. Uma adolescência dedicada a dança e aos 17 anos, através de audição, ingressei no Rudra Bejart Ballet Lausanne, de Maurice Bejart.

Foram quase 4 anos muito intensos e de muita dedicação. Na Europa também participei de projetos de dança no Balletto de Vila Franca, na Itália, Cia Jania Batista e Nômades, na Suíça. A cidade em que eu morava tinha uma pequena escola de samba e nas minhas folgas de bailarina me transformava numa bela passista!

O Carnaval sempre esteve em minha família, apenas como foliões, mas em vários anos pude ver meus pais se organizando “para o grande dia”. Em 1996, aos 21 anos, voltei ao Brasil para me juntar ao Gripo Corpo, de Belo Horizonte. Anos que nem poderia dizer que tinha residência! Saiamos em tournées de 90 dias e quando voltávamos eram alguns dias de folga e já retornávamos aos ensaios dos próximos espetáculos e novas viagens.

Em 2002, através de concurso, ingressei no corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro onde ainda estou, não mais como bailarina mas na Coordenação do Corpo de Baile. O Grupo de dança D.C., do Rio de Janeiro, também foi um lugar de muito trabalho e dedicação!

Desde o meu retorno ao Rio, Niterói, frequento quadras e escolas de samba. Já desfilei em quase todos os seguimentos, de musa à ala das baianas tive o privilégio de vivenciar.

Há 17 anos trabalho com assistência de comissões de frente e de casais de MS e PB, mas nunca deixo de passar tanto no sambódromo como nos grupos da Intendente como sambista! Na verdade, de sexta a terça de carnaval você não me encontra em outro lugar! Que sorte a minha! Acompanhei figuras, hoje ilustríssimas no carnaval, colando suas próprias alegorias em algum grupo de acesso. Minha total admiração e agradecimento pela dedicação e comprometimento, são essas pessoas que alimentam a HISTÓRIA do Carnaval.

Com Comissões de Frente foram 13 anos de noites sem dormir e com casais não consigo afirmar, entre “uma ajudinha”, “uma olhadinha”, “um incentivo” e meses de dedicação, quantos casais foram, de fato. Cruzei com muita gente incrível e aprendi muito (ainda aprendo todos os dias) mas cito Ana Paula e Robison como um despertar pela riqueza do seguimento, o início dos meus estudos, e Marcella e Sidclay como a realização e a conquista de uma longa busca. Com eles vejo meu trabalho em prática sem perder o que tem de mais precioso; a propriedade com que realizam o ofício e a magia que os leva a um lugar que só eles conseguem chegar! Pra mim, um lugar Divinal!

Coloquei meu olhar crítico de “diretora, coordenadora, intermediadora e amiga”, pois como bailarina não tenho a menor pretensão de ser coreógrafa de casal, em 6 Estandartes de Ouro, o que me deixa muito segura de que vou pelo caminho certo do trabalho e comprometimento.

Hoje, aos 48 anos, 3 filhas lindas: Lara, Nina e a pequena Mila, que por 2 carnavais foram elenco da comissão de frente do Aprendizes do Salgueiro, e inúmeros amigos que fiz nos anos de carnaval, ouso dizer que não foi o carnaval que me recebeu, eu quem sou presenteada todos os dias por fazer parte dessa linda festa, onde o erudito e popular se abraçam num movimento muito enriquecedor para todos que neles estão envolvidos. Seja como profissional, folião ou simplesmente admirador, lá do último setor!

Hoje, no Salgueiro, além de diretora do primeiro casal, cuido com muito carinho e sem menos dedicação dos segundo, Nathalia e Luan, e terceiro Letícia e Leonardo, casais da agremiação. Nos meses que antecedem a festa eu passo meus dias ensaiando, filmando e vendo vídeos de carnaval! Um vício! Todos os anos eu desejo que todos consigam seus objetivos.

Só nós sabemos o que acontece dentro da gente quando a sirene toca e os portões se abrem… Passando a primeira linha amarela, o meu trabalho está concluído! Tudo o que poderia ter feito já está! Eu entrego! E observo a poesia que ainda existe por ali”. Sim, uma poesia a qual Marcella Gill empresta seu perfume.

Eliane Santos de Souza é professora e pesquisadora do tema: dança, dança do samba, bailado do mestre-sala e porta-bandeira. Lecionou, como substituta, no curso de Bacharelado em Dança da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ. É Doutora em Arte pelo PPARTES-UERJ com a tese: Daqui de onde te vejo: reflexões de uma porta-bandeira sobre o mestre-sala, com publicação em formato de livro com o mesmo título. É Mestre em Ciência da Arte- UFF com a dissertação: Uma semiologia do samba: O bailado do mestre-sala e da porta-bandeira. Ainda é especialista em Educação pela Universidade Federal Fluminense, Docente do Ensino Fundamental e especializada em Educação Infantil. Porta-bandeira aposentada, é apoio, orientadora e apresentadora de casais. Foi membro de comissões julgadoras do quesito mestre-sala e porta-bandeira, no Rio de Janeiro, em Porto Alegre, São Paulo e Uruguaiana.

Crédito das fotos: acervo pessoal
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do portal SRzd

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