Diversidade aumenta produção dentro das empresas

Diversidade. Foto: Reprodução

Aumentar a contratação de pessoas que fazem parte de minorias torna o trabalho mais produtivo e também amplia o convívio plural no ambiente corporativo. De acordo com a pesquisa Demitindo Preconceito, da Consultoria Santo Caos, no Reino Unido, para cada 10% de aumento da diversidade, o lucro de uma empresa cresceu 3,5%.

Buscando trazer a temática para um debate aberto e, também, em comemoração aos seus dez anos de atuação, a agência Usina da Comunicação realizou uma mesa redonda sobre Diversidade no Ambiente Corporativo, no último dia 26. Executivos, ativistas, representantes do terceiro setor e a atleta olímpica Fabi Alvim formaram a mesa.

“Casos de racismo e homofobia dentro de empresas de diversos setores são recorrentes. Os vieses inconscientes já estão enraizados e todos nós os carregamos. Ou educamos os colaboradores e transformamos informação em conhecimento para derrubar estereótipos, ou seguiremos sendo empresas preconceituosas. A nossa proposta é provocar essas questões dentro das corporações. Queremos levar eventos como esse para dentro das empresas. Diversidade pode gerar divergências iniciais e, em um segundo momento, vai gerar produtividade, inovação e soluções plurais, seja como serviço ou produto”, comenta Claudia Abreu Campos, realizadora do evento.

As pessoas transexuais acabam não tendo qualificação, por falta de oportunidade. A maior dificuldade das transexuais é o acesso ao mercado de trabalho.

O estereótipo ainda é uma barreira a ser vencida. Lucas Paoli, gerente de projetos da Micro Rainbow International, foi um dos debatedores do evento. Ele focou na sensibilidade que as empresas precisam ter com a comunidade LGBT. “79% dos funcionários LGBTs não revelam sua orientação no local de trabalho. O público é muito diverso, mas enfrentam problemas para desenvolverem suas habilidades profissionais com medo da rejeição”, explicou.

Para Lucas, se já é difícil para uma pessoa homossexual revelar sua orientação no ambiente corporativo, para as pessoas trans, o cenário é ainda pior. “As pessoas transexuais acabam não tendo qualificação, por falta de oportunidade. A maior dificuldade das transexuais é o acesso ao mercado de trabalho. Elas enfrentam dificuldades desde cedo. O Brasil caminha lentamente para essa melhora”.

Não é só contratar e cumprir cotas. Temos que fazer essa pessoa se desenvolver e chegar à liderança.

Marcelle Esteves, mulher, negra e líder do Grupo Arco-íris de Cidadania LGBT, foi a representação em pessoa de um grupo restrito, que ainda não possui tanta representatividade. No debate, com um olhar sensível e uma fala forte, levantou questões para os próprios debatedores e convidados. “Teoria e prática não estão andando juntos. Empresas que falam sobre diversidade, mas não têm em seus núcleos uma pessoa negra. Será que eu percebo e quero perceber essa diversidade do meu espaço?, indagou.
Para Sheila Chriginio, gerente de logística da Bayer, outra mulher a compor a mesa, a inclusão de pessoas plurais em corporações não é só uma questão de incluir. “Não é só contratar e cumprir cotas. Temos que fazer essa pessoa se desenvolver e chegar à liderança. A cota é a porta de entrada. A convivência é fundamental! Se você não convive, você não tem como saber”.

Segundo Marcelle Esteves, o preconceito hoje em dia não é mais aberto, ele é sutil, vem nas piadinhas. “A piada importa. É só uma piadinha para você! É a sutileza. A sutileza está carregada de representação”.

Lucas Paoli sugeriu algumas atitudes que as empresas podem adotar no dia a dia. “Deixar que o funcionário utilize seu nome trans. Ter um banheiro unissex. Promover a discussão. Mostrar que o ambiente de trabalho é inclusivo, é acolhedor”.

Aline Klein, líder da iniciativa de Diversidade do Great Place To Work (GPTW) Brasil, integrou o time de debatedores e discutiu a forma de seleção dos recrutadores. “Por que os negros não chegam até o final dos processos seletivos? Muitas empresas não recebem. Talvez a primeira mudança seja as empresas criarem ações inclusivas”, sugeriu.

A seletividade continua sendo a medida de régua na contratação. “Empresas grandes tendem a subir muito a regra em contratações. No processo seletivo você já está excluindo, mas as pessoas podem te surpreender”, apontou Sheila Chriginio.

Para Aline Klein, a desconstrução do modelo atual de contratação é possível. “O caminho é promover as pessoas, criar referências. O primeiro passo é educacional. Os problemas têm raízes sociais!”

O Brasil é campeão em leis de acessibilidade na teoria, mas falha na prática. Tetraplégico desde 1997, o carioca Ricardo Gonzalez, biólogo e diretor do Instituto Novo Ser, representou os deficientes físicos e mentais. Para Ricardo, a ação de uma empresa é mais importante do que qualquer adaptação para o funcionário. “Mais vale uma atividade proativa do que mil rampas!”

Luiz Eduardo Rubião, sócio-fundador da Radix Engenharia e Software, outro empresário a integrar a equipe de debatedores, também foi o primeiro chefe de Ricardo Gonzalez. Ele enfatizou a necessidade de abraçar a causa da inclusão de funcionários com deficiência.

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