Entenda o Festival de Parintins: o que é, quando ocorre e como se apresentam os bois

Boi Caprichoso no Festival de Parintins 2017. Foto: Elcio Farias

‘Acho lindo, mas não entendo nada’, ‘É tudo igual, não vejo diferença’, ‘Como se julga isso?’. Esses são alguns dos questionamentos daqueles que não passaram de um primeiro contato com o Festival de Parintins. Até se interessaram, mas não conseguiram entender a festa que acontece no último final de semana do mês de Junho e que se iniciará, por mais um ano, na próxima sexta-feira (29). Para que o leitor possa entender e acompanhar a cobertura do festival, o SRzd tira dúvidas sobre a festa na ilha do boi-bumbá.

Parintins

Arena do Bumbódromo é destaque da cidade de Parintins. Foto: Reprodução

Parintins é um município brasileiro situado no Amazonas e na Ilha Tupinambarana. A cidade se tornou bastante conhecida devido ao festival entre os bois Garantido e Caprichoso. Parintins é considerada calma durante o ano, mas no mês de Junho o município recebe turistas de todo o mundo. Dentre os pontos turísticos da cidade, destacam-se o Bumbódromo, onde ocorre o festival, a Catedral de Nossa Senhora do Carmo e os currais Zeca Xibelão e Lindolfo Monteverde, de Caprichoso e Garantido.

Boi-bumbás

Festival de Parintins. Foto: Divulgação
Bois Garantido (esquerda) e Caprichoso (direita) são protagonistas do festival. Foto: Divulgação

Os protagonistas da festa se chamam Caprichoso, boi azul da estrela na testa, e boi Garantido, vermelho e simbolizado pelo coração. O primeiro se entitula ‘Boi da Cultura Popular’, enquanto o encarnado se orgulha de ser o ‘Boi do Povão’. Em 52 edições do festival, o Garantido foi campeão por 31 vezes, enquanto o Caprichoso venceu 22. Em 2000, houve empate.

A cidade de Parintins é dividida pelos bumbás. Enquanto o vermelho representa o bairro da Baixa do São José e arredores, o azul é oriundo da Francesa e redondezas. Ambos afirmam ter sido fundados em 1913 e comemoraram o centenário em 2013. Lindolfo Monteverde é o fundador do Garantido e Roque Cid, do Caprichoso. Levam adiante o legado, os presidentes Fábio Cardoso, do lado vermelho, e Babá Tupinambá, do lado azul.

O festival

Boi Caprichoso trouxe o colorido na terceira noite de 2017. Foto: Widger Frota

O Festival de Parintins surgiu em 1965 como forma de arrecadar fundos para a construção da Catedral de Nossa Senhora do Carmo. A primeira edição foi realizada em 1966 e o campeão foi o Boi Garantido. Até os dias de hoje, a festa sofreu numerosas mudanças. Atualmente, acontece no último final de semana do mês de Junho (sexta, sábado e domingo), no Bumbódromo, uma arena em formato de boi dividida em azul e vermelho.

Cada boi tem 2 horas e 30 minutos para se apresentar em cada noite. Entre os espetáculos de cada bumbá, há um intervalo de 30 minutos. Sendo assim, o festival que se inicia às 21h (horário de Brasília) termina por volta de 2h30min da madrugada. A ordem de apresentação em cada noite é sorteada duas semanas antes da disputa.

– Veja a ordem de apresentação do Festival de Parintins 2018

Na preparação para a festa, Garantido e Caprichoso iniciam os ensaios meses antes. As alegorias, fantasias e adereços são produzidos em galpões.

Temas e toadas

Caprichoso e Garantido já tem tema para o festival 2018. Foto: Reprodução

Cada boi escolhe um tema para defender no festival. Para 2018, o Caprichoso levará ao Bumbódromo “Sabedoria Popular – Uma Revolução Ancenstral” e o Garantido, “Auto da Resistência Cultural”. O tema é dividido em três subtemas (partes), onde é apresentado um em cada noite. Os assuntos abordados em cada tema e subtema, na grande maioria das vezes, tem a ver com a cidade de Parintins, o estado do Amazonas e a cultura da região.

Todo ano, os boi-bumbás lançam um álbum com, em média, 20 toadas (músicas) para representar o tema escolhido. As toadas variam de assunto e estilo. Muitas delas contam histórias típicas do local. Mas, independente da letra, todas ilustram musicalmente o que ocorrerá nas apresentações. Durante o espetáculo, no entanto, o boi é livre para utilizar as toadas que quiser. Não há obrigatoriedade de ser do ano atual, podendo ser do anterior.

Blocos e itens

Garantido abriu a primeira noite em 2017 com seu símbolo maior. Foto: Widger Frota

O espetáculo de cada boi no Bumbódromo é complexo e envolve 21 itens (quesitos), além de outros segmentos não julgados, mas que não podem faltar, como Pai Francisco, Mãe Catirina e Gazumbá – personagens folclóricos do ‘Auto do Boi-Bumbá’. Os itens são divididos em blocos, de acordo com suas características. O Bloco A compreende quesitos comuns e musicais; o Bloco B, itens relativos a cenografia e coreografia; e o C reúne a parte artística do evento.

Durante a apresentação, os itens entram e saem da arena a qualquer momento. Diferente do Carnaval, não é um desfile, se assemelha mais a um espetáculo teatral.

Veja a lista de itens:

BLOCO A

Galera do Caprichoso foi destaque no Bloco A em 2017. Foto: Widger Frota

Apresentador (item 01): é o mestre de cerimônia do espetáculo do boi; responsável por apresentar os outros itens e tudo que ocorrer durante a festa.
Levantador de toadas (item 02): é o cantor; responsável por interpretar as toadas na Arena.
Batucada/Marujada (item 03): é o grupo rítmico que dá sustentação às músicas através dos instrumentos; no Caprichoso, se dá o nome de Marujada, enquanto no Garantido, se chama Batucada.
Amo do Boi (item 06): é o versador, que tira versos no improviso durante a apresentação.
Toada – letra e música (item 11): cada noite, os bois escolhem uma toada que irá para julgamento e é apresentada de forma especial.
Galera (item 19): são os torcedores presentes na arquibancada, que contam ponto para a apresentação.
Organização do conjunto folclórico (item 21): é o conjunto do espetáculo; a unidade de tudo que foi apresentado durante as duas horas e meia.

BLOCO B

Sinhazinha da Fazenda dança com o Boi Garantido em 2017. Foto: Widger Frota

Porta-estandarte (item 05): a mulher responsável por carregar e dançar com o estandarte do boi-bumbá.
Sinhazinha da fazenda (item 07): no folclore, é a representação da filha do dono da fazenda; uma mulher que se apresenta com um grande vestido rodado e precisa mostrar graciosidade e leveza na dança.
Rainha do folclore (item 08): é a mulher símbolo do folclore que, na sua dança, traz inspirações e ritmos do Brasil.
Cunhã-poranga (item 09): é a índia guerreira da tribo, que dança com garra, força e incorporação.
Boi-bumbá evolução (item 10): é o boi-bumbá, carregado por um homem responsável pelos movimentos, chamado ‘tripa do boi’.
Pajé (item 12): o xamã da tribo; homem responsável por uma dança de incorporação.
Coreografia (item 20): todas as coreografias e danças realizadas durante a apresentação são levadas em conta nesse quesito.

BLOCO C

Caprichoso trouxe lenda amazônica do Rei do Maranhão em 2017. Foto: Widger Frota

Ritual indígena (item 04): é a simulação do ritual de alguma tribo indígena; a apresentação conta com grande alegoria, coreografia e encenação.
Tribos indígenas (item 13): índios que apresentam danças e coreografias típicas de tribos.
Tuxaua (item 14): um pequeno elemento alegórico carregado por uma pessoa; representa o ‘chefe da tribo’; geralmente, são apresentados três tuxauas por noite.
Figura típica regional (item 15): homenagem a alguma figura emblemática da região, como pescador, artesão, juteiro, entre outros; a apresentação conta com alegoria e encenação.
Alegorias (item 16): todas as alegorias apresentadas durante a noite são levadas em consideração para esse quesito.
Lenda amazônica (item 17): representação de alguma lenda típica do Amazonas; apresentação conta com grande alegoria, coreografia e encenação.
Vaqueirada (item 18): homens que representam os guardiões do boi; se apresentam fantasiados com um cavalo e lança.

Julgamento e apuração

Caprichoso venceu o Festival de Parintins 2017. Foto: Evandro Santos

O corpo de jurados do Festival de Parintins é composto por 10 julgadores, dentre os quais: um é o presidente da comissão de júri; três julgam o Bloco A (os sete itens presentes nele); três julgam o Bloco B (os sete itens presentes nele); e os outros três, o Bloco C (os sete itens presentes nele). Cada noite é avaliada separadamente.

Os jurados são selecionados por uma comissão montada antes do festival por membros de Caprichoso e Garantido e são oriundos de diferentes estados brasileiros, exceto o Amazonas. Diferente do Carnaval, a cada ano, há uma rotatividade nos estados sorteados e jurados escolhidos.

A apuração ocorre segunda-feira na parte da tarde, após o último dia de festa (domingo). Das três notas dadas a cada item, se descarte a menor. Vence o festival o boi que acumular mais pontos no somatório de todos os blocos em todas as noites.

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