Claudio Francioni. Foto: Nicolas Renato Photography

Claudio Francioni

Carioca, apaixonado por música. Em relação ao assunto, estuda, pesquisa e bisbilhota tudo que está ao seu alcance. Foi professor da Oficina de Ritmos do Núcleo de Cultura Popular da UERJ, diretor de bateria e é músico amador, já tendo participado de diversas bandas tocando contrabaixo, percussão ou cantando.

Crítica: primeira semana do Rock in Rio

O Rock in Rio cresceu. É incrível, mas cresceu. A nova Cidade do Rock é fantástica. Um gigantesco parque de diversões a serviço da música. Como era de se esperar, o cansaço e a dor nas pernas cresceram na mesma proporção. Afinal, não só o Festival tornou-se maior de dois anos pra cá como minha idade também. Com tantos atrativos e a distância considerável, é difícil acompanhar todos os shows na íntegra. A não ser que você não coma, não beba, não vá ao banheiro e não veja muita coisa além dos palcos. De tudo que vi, o domingo sobrou. A música negra deu o tom dos melhores shows até agora, apesar da branquelice de Justin.

Como de costume, o Sunset proporcionou momentos épicos. Nile Rodgers & Chic transformaram o relvado sintético em pista de dança. Virou bailão. Além da guitarra funkeada de Nile, o destaque ficou com a fantástica cozinha formada pelo baterista Ralph Rolle (ex-Sting, Stevie Wonder e Prince) e o baixista Jerry Barnes (ex-Stevie Wonder, Diana Ross e Carly Simon). Uma verdadeira aula de groove.

No Mundo, Alicia Keys arrebentou novamente, assim como fez em 2013. Ao invés de desperdiçar linhas listando elogios ao que ela faz no palco, prefiro defini-la como hipnotizante. É capaz de tudo à sua volta desabar e o público nem perceber.

Justin manteve o padrão, apesar de ter lançado pouca coisa nova desde seu show na edição de quatro anos atrás. Sua enorme banda me lembrou o que fez Bruce Springsteen neste mesmo ano. Uma verdadeira massa sonora dando vida a arranjos grandiosos.

Em uma prateleira um pouco abaixo destes três estão Ivete e Maroon 5. A baiana dispensa comentários. Há dois anos, cheguei a defini-la aqui na coluna como um desperdício de talento em prol de uma música de qualidade duvidosa, mas suas virtudes compensam seu repertório cheio de sucessos e vazio de relevância. Cenário, banda, energia, arranjos e ela, carismática, comunicativa e grandiosa sobre um palco. Ivete é garantia de “lacre” ou seu dinheiro de volta.

De 2011 pra cá, quando fez um show fantástico antes do Coldplay, o Maroon 5 subiu de patamar. Mas seu repertório deu uma guinada depois dos primeiros álbuns. É festivo demais e musical de menos. O álbum de estreia “Songs About Jane” continua sobrando na turma. Adam Levine equilibra essa deficiência com sua ótima performance, apesar de um pouco rouco no sábado, noite que era sua desde sempre e onde foi recebido com muito mais afago pelo público.

Quem abriu o sábado foi o Skank, outra atração nacional que garante o dinheiro bem gasto. Com energia e hits do início ao fim, Samuel, Lelo, Haroldo e Henrique repetiram o showzaço da edição 2013.

Na sexta, o Pet Shop Boys encarou o desafio de pegar um palco fervendo pós-Ivete. Pertencente a uma outra geração da música eletrônica, o duo posicionou seus clássicos do meio pro fim do show e, aí sim, empolgou. A limpidez da voz de Neil Tennant, mesmo com o passar dos anos, ainda impressiona.

De volta ao Sunset, a Blitz colocou o povão numa máquina do tempo. Ela, responsável por dar o pontapé inicial da febre do BRock em 1982, botando todo mundo pra cantar “A Dois Passos do Paraíso” mais de três décadas depois. Pais e filhos, jovens e senhores juntos num dos momentos mais marcantes da primeira semana. A participação de Alice Caymmi cantando “Noku Pardal” e “Bete Frígida”, apesar de ter se esquecido de entrar na música e ser salva pelas meninas da banda (coisas de Sunset), foi fantástica.

O show Salve o Samba!, que fechou o palco secundário no primeiro dia, foi outro grande momento. Emocionante na medida certa desde a abertura com o Jongo da Serrinha. O único porém caiu na conta da participação de Criolo. Talvez o cantor tenha sido escalado para atrair a atenção do público mais jovem, mas o que se viu foi um peixe fora d’água.

Outros shows que agradaram foram os de Fernanda Abreu, na sexta, e de Maria Rita, no domingo. Na primeira, a participação da Focus Cia. de Dança e do Dream Team do Passinho deram um movimento e um colorido especial ao palco e ajudaram a disfarçar a fragilidade vocal da ex-Blitz. No de Maria Rita, brilhou o repertório que explorou a versatilidade da cantora. Assumir o desafio de sair de sua zona de conforto ao cantar Ella Fitzgerald sozinha e Tom Jobim na companhia de Melody Gardot foi o diferencial da apresentação.

O show de Frejat, que abriu o Mundo no domingo, merece um capítulo à parte. Em uma análise fria, uma ótima apresentação. Mas contextualizando os acontecimentos recentes não há como não implicar. O guitarrista passou mais de uma década freando o andamento do Barão Vermelho por causa de sua carreira solo. Quando resolve se afastar de vez e deixar o Barão seguir com Rodrigo Suricato, faz um show repleto de sucessos da banda. Ok, são canções de sua autoria. Ok, em show de festival deve-se apostar nos hits. Mas que soa esquisito, soa.

Dois shows do palco principal agradaram a nichos e deram sono a muitos. Shawn Mendes e 5 Seconds of Summer não são ruins. Mas não tem peso de Palco Mundo. Ambos têm algumas boas canções. O canadense fofinho tem muito apelo com a meninada. Os australianos têm uma boa pegada de palco. Mas, pra chegar ali, falta comer poeira. Talvez juntos em um dia temático, como aconteceu em 2001, incomodassem menos gente.

Sobre Fergie e Walk the Moon, pouco a falar. Ela, uma ex-backing vocal de um grupo de música eletrônica, e eles, uma banda de One Hit Wonder. E nem tão “hit” assim. Ok. E nem tão “wonder” assim. Difícil de engolir. Ambos se esforçaram. Ela, terceirizando o palco como bem falou um amigo, ele, suando horrores buscando transmitir energia de cima pra baixo. Desnecessários. Reconheço a dificuldade de se montar, de dois em dois anos, um line up à altura da grandeza do evento, mas a organização do Festival precisa rever estas questões.

Três dias para recuperar as pernas e quinta-feira lá vamos nós novamente. Até lá!

Juliana Dias/SRzd
Martini/I Hate Flash
Juliana Dias/SRzd
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Sabrina Bernardo/Estácio
Juliana Dias/SRzd
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Wilmore Oliveira/I Hate Flash
Fernando Schlaepfer/I Hate Flash
Martini/I Hate Flash

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