Haroldo Monteiro. Foto: Nicolas Renato Photography

Haroldo Monteiro

Formado em Administração de Empresas e Engenharia Econômica pela UERJ. Possui vasta experiência no mercado de varejo tendo atuado como executivo em várias empresas deste setor. MBA em Business Administration pela Ohio University, e sócio da Planning & Management, consultoria especializada em gestão e estudos de tendências econômicas para o varejo. É professor convidado do Coppead, onde ministra Administração Financeira de Curto Prazo.

A verdade sobre a relação cartão x varejista x consumidor

A verdade sobre a relação cartão x varejista x consumidor

As últimas semanas foram recheadas de notícias sobre o mercado de cartões de crédito e o seu novo formato de negócio e como isso afetaria a relação cartão x varejista x consumidor.   O governo afim de estimular o consumo e passar uma mensagem de que não esta “parado” diante a crise,  usa a sua caneta para promover uma reformulação no setor onde estão empresas de cartões, administradoras , grandes bancos , varejistas  e o consumidor. Desta forma  as grandes corporações financeiras passariam a oferecer  melhores condições  aos varejistas no custo do recebimento com o cartão e o consumidor seria beneficiado.

A mídia exalta algumas medidas, e saem notícias com diferentes focos: quem na relação cartão x varejista x consumidor poderá sair ganhando ou poderá ser prejudicado.   A idéia central do governo é beneficiar o consumidor e reaquecer o consumo, mas será que realmente ele será beneficiado?

Em primeiro lugar é preciso deixar claro que os custos que os cartões cobram de taxa de administração e o custo financeiro do financiamento nas compras “sem juros” “com até 30 dias para pagar” oferecido ao consumidor,  gera uma facilidade para o lojista vender mais,  porém estão dentro das despesas do varejista  quando ele projeta  o custo do seu negócio, portanto o consumidor paga por estas despesas, e com certeza continuará pagando.

Desta forma vamos analisar alguns pontos destas novas medidas que sairam na mídia:

Governo autoriza desconto para quem pagar com dinheiro (EXAME)

Governo libera diferenciação de preços conforme meio de pagamento (Folha de São Paulo)

Esta discussão ocorre há muitos anos, e o que o governo fez agora foi simplesmente tornar as coisas mais transparentes. Deixando o mercado se acertar, pois quanto menos governo melhor!  A realidade é que não existe “almoço grátis” ou seja se os preços forem um só para a venda com cartão e a vista, o consumidor que tem condições de pagar um menor preço, pagando a vista,  por possuir os recursos na hora da compra é que seria prejudicado, pois os custos de venda com cartão estão no preço.

A verdade

A reportagem da Folha fala que esta medida pode gerar controvérsias nas associações de defesa do consumidor,  que consideram ilegal a cobrança de valores a depender do método de pagamento.  Segundo eles na venda com cartão haveria acréscimos.

A questão é de transparencia, e muito pelo contrário, ela beneficiará o consumidor que quer  pagar um menor preço a vista.   Quem quiser financiar suas compras pagará o valor deste financiamento, que é o que o consumidor  já paga hoje.

Juro do cartão de crédito bate recorde em novembro e chega a 482,1% ao ano (Folha de São Paulo)

O governo tenta pressionar os bancos para redução destes juros no rotativo.  Realmente um absurdo, mas o mercado já vinha se ajustando sem mesmo o governo se meter.  Vários cartões já ofereciam a modalidade de parcelamento de suas compras no cartão com juros “módigos” em média de 6% a.m. o que ao ano seriam 101,22%, ou seja bem inferior aos 482,1% ao ano, cobrados em média.

A verdade

O governo utiliza uma retórica de espanto com estas taxas, e desta forma manda mensagens que está se mexendo para reduzir estes juros. Mas como falei acima vários cartões já ofereciam estas modalidades de financiar sua fatura sem entrar na modalidade do rotativo com juros escorchantes.  Mais alarde na mídia do que algum efeito novo, no mercado.

Prazo menor a lojista desafia setor de cartões (Valor Econômico)

Esta é a medida mais polêmica, ainda que se fale que este menor prazo será implementado paulatinamente.  Mas o fato é que existe um custo financeiro (valor do dinheiro no tempo), por conta do prazo que o consumidor tem para pagar que gira em média de 26 dias para os cartões, e também sobre o que o varejista recebe em 30 dias após a vendas.

Hoje, o varejista precisando de recursos antecipa estes recebíveis  ou oferece-os como garantia de empréstimos e paga uma taxa de juros aos bancos.  Quando esta antecipação ocorre com uma  administradora de cartão o varejista não paga IOF. Logo em muitos casos esta antecipação é até mais barata.

O Futuro

O que acontecerá com as novas medidas ? Os bancos/e ou administradores deveriam pagar em 2 dias estes recursos ao varejista, portanto haveria um custo de antecipação, que com certeza será repassado aos varejistas. Hoje não vejo a hipótese de um banco financiar esta antecipação a custo zero, ainda mais tendo um governo no Brasil, que se financia com títulos públicos, pagando em média a Selic de 13,75% a.a. aos próprios Bancos, sem custo de administração e em tese com risco baixíssimo. Comparar o mercado de cartões no exterior com governo pagando em seus títulos taxa de juros negativa (menor que a inflação), não se aplica a nosso mercado. A dinâmica é diferente.

Logo esta medida não tem a príncipio nehum benefício para o consumidor, pois ele continuaria a ter que pagar o custo de antecipação do pagamento ao varejista através do preço de venda da mercadoria.

A Verdade

Na margem esta medida poderia ser benéfica aos varejistas que hoje tem um custo administrativo com sistemas de conciliação de cartões e pessoas para controlar uma grande quantidade de empréstimos e conciliação bancária no recebimento destas vendas com cartão. Depósitos a vista descontados à uma taxa fixa facilitariam os controles, e desta forma poderia haver uma redução de custos administrativos.

Caso o governo não tribute este recebimento do cartão o não pagamento de IOF para antecipar estes recebíveis reduziriam os custos de captação das empresas. Mas será que o governo vai querer perder arrecadação?

Redução da alavancagem financeira das empresas pois teriam a sua necessidade de capital de giro reduzida, ainda que tenham que pagar uma taxa extra pela antecipação dos recebíveis. Em alguns casos dada a maior transparencia do custo da antecipação estar na taxa administrativa, poderia também haver uma redução de despesas, dado que algumas operações financeiras oferecidas pelo sistema bancárias tem custos ocultos de dificil verificação por parte do varejista.

E o consumidor ? Bem, este continuará a pagar os custos que hoje já paga, talvez apenas  saberá o que está pagando. Boas Compras!!!

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