As cartas na mesa de 13 Reasons Why

Sim. Eu fui uma das entusiastas da primeira temporada de 13 Reasons Why. E não me arrependo.
Preciso fazer uma espécie de Mea Culpa em relação à minha resenha anterior (link aqui). Quando assisti à jornada inicial de Hannah Baker eu mesma estava numa fase de reavaliar meus conceitos e ideias sobre a vida. E isso me fez mergulhar de cabeça naquele turbilhão de emoções que as fitas nos trouxeram.
Não que alguma vez tenha me passado pela cabeça algo tão radical quanto a atitude da protagonista, longe disso. Mas a cada relato, a cada fita, eu me sentia numa espécie de túnel do tempo macabro, que me jogava de um lado pro outro, relembrando fatos da infância, adolescência e, porque não dizer, fatos não tão distantes. Por isso acredito ter tido uma relação tão próxima com a série.
Fui uma criança nerd, uma adolescente nerd numa época que isso não era cool. Vivi cercada de “amigos” cujos pais ganhavam por semana o que minha família inteira levava meses pra conquistar. Tive a melhor educação do mundo, não só na sala de aula, como dentro de casa também. Mas da crueldade lá de fora, meus pais não podiam me proteger. Até porque, a exemplo do que mostra a série, eles nem sabiam que existia. O que planejavam pra mim era que eu tivesse uma educação de qualidade. E isso eu tive.
Assistir à primeira temporada da série foi sim um soco no estômago, e por isso uma resenha tão passional feita à época.
Hoje estou aqui, um ano depois, após assistir à segunda temporada. E continuo afirmando: que série necessária!
Os novos episódios, disponibilizados recentemente pela Netflix foram sem dúvida assistidos de uma maneira menos passional. Os dramas já estavam expostos, as feridas cicatrizadas.
A ideia dos produtores dessa vez era nitidamente “desromantizar” a protagonista. Mostrar uma Hannah de carne e osso, que fez um monte de besteira como todo adolescente mas que, ainda assim, não merecia passar pelo que passou.
O foco da temporada foi o processo aberto pelos pais da menina contra a escola, que segundo eles negligenciou o bullying que ocorria dentro de seus portões. A escola, em sua defesa, optou por atacar o caráter de Hannah, assim como inverter a polaridade da negligência para seus pais. E esse certamente foi um golaço dos roteiristas.
É óbvio que a escola sim tem responsabilidade pelo que se passa lá dentro. Mas é absurdamente necessário que se olhe pra dentro de casa, e isso está acontecendo cada vez menos. A correria do dia a dia, a necessidade de se produzir full time para ser bem sucedido e as facilidades do mundo moderno fazem com que cada vez mais sejam delegadas à escola funções que não lhe cabem. E a série consegue mostrar isso na medida certa.
O reflexo dos acontecimentos da primeira temporada nos amigos de Hannah também é um fator importante destes novos episódios. Agora não se trata de ouvir seu quê de responsabilidade no suicídio da protagonista, mas de reavaliar suas próprias vidas, e tentar seguir em frente.
É fato que nem tudo são flores nessa temporada. Os acontecimentos finais (vou tentar não dar spoilers), ao meu ver, foram explorados de uma maneira muito rasa, posso dizer até corrida. Algo de tamanha importância merecia ter sido trabalhado mais de perto, com mais cuidado. Só assim ganharia a potência cênica que o assunto merece.
Com avisos de cenas fortes e um site aberto exclusivamente para tratar de acompanhamento psicológico para quem necessita, divulgado sempre no início e no fim de cada episódio, a segunda temporada de 13 Reasons Why cumpriu brilhantemente o seu papel, enriquecendo e substanciando um tema tão pouco palatável, mas importantíssimo nesse mundo louco e egoísta que vivemos.
As duas temporadas da série estão disponíveis no Netflix.

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