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Polêmico, amado e odiado, Anthony Garotinho é uma das maiores audiências do rádio carioca

Garotinho no Rádio. Foto: You Tube

Garotinho no Rádio. Foto: You Tube

No final da década da 90, fui chamado pelo então governador do Rio de Janeiro Marcello Alencar, ao seu gabinete no Palácio Guanabara. Na época, eu era âncora da “CBN” e mantinha uma aproximação meramente profissional com o objetivo de obter notícias para nosso programa matinal.

Marcello Alencar estava descalço, os pés sobre a cadeira à sua frente e me pediu para sentar diante dele e comentou desabridamente sua cansativa rotina de receber deputados e políticos em geral. Ele tinha a paciência que faltava à ex-presidente Dilma Rousseff, por exemplo. E, aparentemente, gostava deste beija-mão.

No meio da conversa, o governador me fez uma proposta direta: “Sidney, você é um jornalista importante…”, disse ele, “…mas isso não basta para se fazer história. Se a gente quer mudar as coisas, influir na vida brasileira, tem que entrar para a política. Eu gostaria de te oferecer uma candidatura a deputado com tudo pago. Você seria um ótimo puxador de votos”, concluiu.

Atônito por dentro, e calmo por fora. Agradeci e disse que não estava na hora de tentar nada neste sentido. A sua reação também foi de tranquilidade e, educado, tentou me convencer, mas sem insistência indelicada.

Em seguida, conversamos sobre sua sucessão e surgiu o nome do ex-prefeito de Campos que, em 1989, havia derrotado o usineiro Zezé Barbosa, numa marcante vitória eleitoral do “novo” sobre o “atraso”. Foi aí que Marcello Alencar, que não tinha simpatia por Garotinho, me surpreendeu com um elogio sincero: “Esse Garotinho é ousado… abusado. Isto eu tenho que reconhecer!”. A conversa entre Marcello e eu ganhou outros contornos. Havia uma empatia pessoal entre nós. Eu me despedi, mas nunca esqueci o nosso papo.

Passados os anos e olhando para trás, Marcello Alencar honrando as vestes de “raposa” que era, já antevia o que viria a acontecer quando terminasse o seu próprio mandato. O sucessor não poderia ser outro e, assim, se deu. Anthony Garotinho, com a ajuda de Leonel Brizola, se elegeu, e mandou no Rio de Janeiro de 1999 a 2002. E, de quebra, ainda conduziu à vitória a sua mulher, Rosinha Matheus, para o mandato de 2003 a 2007.

O dia que Garotinho enfrentou a ‘Globo’ na ‘Globo’

O traço “abusado” de Anthony Garotinho se repetiu várias vezes. Em 18 de setembro de 2014, candidato ao governo do Rio, em entrevista ao telejornal “RJTV”, Garotinho questionou a “Globo” dentro dos estúdios da própria “Globo”:

O hospital e o presídio

Outro momento tenso em que Garotinho e sua família não aceitaram o script que haviam preparado para eles se deu em novembro de 2016, no caso da transferência para o Complexo Penitenciário de Gericinó, onde ele deveria ficar na unidade de Bangu 8, para presos com nível superior. Embora as autoridades não tenham reconhecido os diplomas apresentados por Garotinho como tendo concluído esta fase acadêmica.

A saída de Garotinho do Hospital Municipal Souza Aguiar, onde se encontrava internado, foi tumultuada. A família do ex-governador queria impedir sua transferência, alegando que a unidade de saúde do presídio não tem condições para tratar o ex-governador, que estaria com problemas cardíacos.

A ordem para levar Garotinho foi dada pelo juiz eleitoral Glaucenir Silva de Oliveira, da 100ª Zona Eleitoral de Campos. O juiz alegou que o ex-governador estaria tendo regalias e determinou sua imediata transferência para o presídio.

A derrota do inimigo Sérgio Cabral

A mesma semana que em Anthony Garotinho foi preso, no final de 2016, acusado de usar a máquina pública da prefeitura de Campos, com fins eleitores, também foi encarcerado o ex-governador Sérgio Cabral. Ele é visto por Garotinho como seu inimigo número um.

A Polícia Federal prendeu o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral sob a suspeita de receber propina para fechar contratos públicos. Ele e os seus auxiliares são alvo de uma operação que apura desvios em obras do governo estadual. Ao término da investigação, o prejuízo pode ultrapassar de R$ 1 bilhão.

A aposta dos aliados de Garotinho é que com a prisão de Cabral abre-se novo espaço político no estado

Rádio

Anthony Garotinho e os seus advogados trabalham para desenrolar alguns problemas na Justiça, mas ele encontrou o caminho do sucesso com o público ao retornar à sua principal profissão ao lado da de político: radialista. Na “Super Rádio Tupi”, do Rio de Janeiro, Garotinho é o comunicador titular do horário 9h30 às 11h.  Os seus resultados de audiência são surpreendentes.

Média de ouvintes: 340.194
Faixa nobre: 105,8% acima da média do dia
Cobertura diária: 413.500; participa de 43,7% da cobertura total do dia

Em entrevista ao SRzd, Anthony Garotinho deu sua versão para sua nova experiência radiofônica:

Qual a explicação para o seu sucesso nas manhãs da ‘Tupi’?
Falar de uma forma direta, com emoção e uma linguagem que transmite carinho e sinceridade aos ouvintes.

Qual a diferença da sua comunicação para a de seus outros colegas?
Não tem melhor ou diferente, apenas estilo. Minha fórmula sempre foi a mesma: bater forte no que está errado, mas falar com carinho e sinceridade sobre outros assuntos.

O que significa vencer a ‘Rádio Globo’?
A Globo fez uma opção. Quer um outro tipo de ouvinte. Hoje a ‘Tupi’ não tem concorrente na área popular. A ‘Globo’ abandonou esse público em busca de outro. Se ela conseguirá, só o tempo dirá. A tendência na ‘Tupi’ é continuar subindo no espaço que a ‘Globo’ deixou.

Significa algo para você a Tupi estar sendo mais ouvida do que a ‘Melodia’, que é evangélica?
A ‘Melodia’ disputa público com a ’93FM’. São 30% de evangélicos. Apenas duas emissoras plurais, que não falam para uma só igreja. Então, o espaço dela poderia ser até maior. Ganhar da ‘Melodia’ parecia impossível, mas a ‘Globo’ cometeu o erro de deixar a área popular toda para a ‘Tupi’.

O senhor usa o rádio como trampolim político?
Não quero ser hipócrita. Apresentar um programa, em horário nobre, numa emissora querida pelo povo como a ‘Tupi’ ajuda muito. Ocorre que eu sempre fui radialista, antes de ser político. Sei que se fizer do programa um palanque perco audiência.

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