As escolas imprescindíveis

Marquês de Sapucaí. Foto: Juliana Dias/SRzd

Marquês de Sapucaí. Foto: Juliana Dias/SRzd

O meu caro leitor Bernardo Seabra enviou pelo Facebook uma mensagem sensata, ainda que lavrada em termos descorteses. Diz ele que não fui coerente ao defender, no ano de 2017, que o Tuiuti abrisse o desfile de domingo e este ano de 2018 defender que o Império Serrano não o abra. Tem razão. Sabe por que defendo isso, Bernardo? Porque, se houve excepcionalização no ano passado, deveria haver este ano também. Isso é coerência, penso eu. Como não há coerência da parte dos organizadores do espetáculo, cobra-se que a incoerência seja coerente… Mas fique tranquilo, Bernardo. Minha opinião não vale nada. Calma, nada de xingamentos. Quisera eu ter minha rouca voz ouvida. As tais “amizades” a que se referiu o presidente da Grande Rio, como sempre, prevalecerão, a coerência mais uma vez irá para o ralo e eu continuarei, como uma boba, a clamar no deserto, em defesa de algo que já não significa nada para ninguém, ou só para muito poucos. A visão oportunista e casuísta é hoje quase generalizada. Por isso, os donos da festa se mantêm.

No último sábado, estive na casa de pessoas que eu adoro, Zélia e Rubem Confete. Os amigos se reúnem ali depois do Carnaval para o que chamam “a resenha”. Muita gente ilustre presente, para tocar, cantar, beber e conversar sobre o Carnaval recém-encerrado. Uma delícia. Naquele dia, o principal assunto era, é claro, a possibilidade de quebra do regulamento para permanência da Grande Rio na chamada elite do samba. Um dos sambistas presentes afirmava que essa virada de mesa seria impossível, porque o Brasil hoje era outro, os brasileiros já não aceitavam como antes comportamentos contrários à ética. Achei esse argumento bastante forte: a Liesa não terá coragem de agir como fez tantas vezes, pensei.

A reunião do dia 28 mostrou que o raciocínio não valia, era otimista demais. Hoje na TV ouvi as declarações do presidente da Liesa defendendo a decisão, que teve o objetivo de proteger a qualidade do espetáculo. Se a Grande Rio caísse, a qualidade do espetáculo ficaria comprometida? Turistas não viriam ao Carnaval? A arquibancada ficaria ainda mais vazia do que este ano? Talvez. Então, deixo aqui uma sugestão: não seria melhor que a Liesa votasse logo quais são as escolas imprescindíveis à qualidade do espetáculo? Essas seriam intocáveis, uma espécie de hors-concours. Mesmo que trouxessem gente de cueca nos carros, mesmo que desfilassem com uma alegoria destruída, com destaques melancolicamente sentados nos destroços, mesmo que não apresentassem todos os elementos anunciados, não poderiam cair.

Aos jurados caberia avaliar as demais. Não seria bem mais simples? Pra que tanta polêmica, tanta explicação sem nexo, tanto esforço? Essas não caem e pronto. Motivo: são as que garantem a qualidade do espetáculo. As outras, mesmo que apresentassem desfiles irrepreensíveis, seriam julgadas e poderiam até ser rebaixadas. Não são indispensáveis. Ponto final.

Se nosso país de fato está mudando, como bem observou o compositor amigo do Confete, não é hora de justificar erros presentes com erros passados. É hora de mudar de atitude. Para isso, é preciso coragem. De minha parte, continuarei a falar disso que amo, mas não comento mais julgamento nem regulamento. Está provado que não existem ou que só existem “pra inglês ver”. Não perco mais meu tempo com eles.

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