Hélio Rainho

Profissional de Comunicação e Marketing, Hélio Rainho veio do teatro, sendo ator e diretor profissional. Autor da biografia do jogador Mauro Galvão e de várias peças teatrais. Nascido na Praça XI, chegou à Portela como jovem compositor nos anos 80 e passou a pesquisar escolas de samba e Carnaval. Idealizador do projeto "Quem És Tu, Passista?", um manifesto pela preservação do segmento, é padrinho dos passistas do Império Serrano e comentarista dos desfiles na Sapucaí. Twitter/Instagram: @hrainho.

Portela: 94 Anos de Grandeza!

Hélio Rainho – Portela 2017 / Foto: Pedro Valente

Nas primeiras estrofes de seu hino – obra-prima do poeta Chico Santana – assim está escrito:

Portela, tuas cores tem
Na bandeira do Brasil
E no céu também

Do particular para o geral!
Da bandeira do país para o céu que cobre a Terra!
Do esplendor da pátria à imensidão celestial!
Assim é a glória da PORTELA!

A glória que o poeta registrou e que, nesta fulgurante data, completa 94 anos de existência!

Rememoro um ensaio sobre a arte e a beleza da cidade de Florença, escrito no início do século passado pelo sociólogo alemão Georg Simmel, para poder falar da Portela: “Aqui, a natureza tornou-se espírito, sem renunciar a si própria”.

Creio ser exatamente esse o mistério da Portela.

A Majestade do Samba é revestida de um encanto que supera sua natureza, eleva-se de forma espiritual e, a cada momento, reafirma a sua natureza, que é ser descomunalmente bela!

Como é linda a nossa escola!
Mais do que escola de samba, a Portela é uma divindade!

Deve ser por isso que a Portela, em verso e prosa, sempre é traduzida pelos poetas com referências ao divino e ao sagrado. Porque o canto da Portela é um canto além do amor: é um canto de devoção!

Isso não tem a ver com compará-la a escola nenhuma. E nem sequer se precisa mencionar seus títulos ou campeonatos para entender por que a Portela é, assim, tão fascinante. Nos versos de seu poeta-mor Antônio Candeia Filho, “Portela tem um pavilhão tão altaneiro / Acima do ganhar e do perder”. É a escola que mais vezes já cantou que “perder ou ganhar é normal”. Chico Santana compôs que “- vitória pra Portela é banalidade”!

Os versos iniciais de “Portela na Avenida” trazem o verbo “parecer”, e seu uso sugere alguma coisa sobre a qual paira um mistério ou encanto: é algo que “parece”, tem semelhança! Assim se percebe. Não é, exatamente; antes “parece”. Permanece, assim, um indecifrável mistério.

O verbo vem conjugado para igualar a escola ao surgimento de uma “maravilha de aquarela”.

É tolo e vão o esforço humano de se tentar explicar a magia que há 94 anos envolve essa escola. Os que eventualmente a depreciam, tropeçam em sua grandeza e expõem sua incapacidade de tocar naquilo que não se toca! A pretensão e a arrogância se desmancham: a Portela não se define, e sua abstração conceitual elimina os detratores!

Monarco registrou que “se for falar da Portela, hoje não vai terminar”. Paulinho da Viola confessou não ser capaz de “definir aquele azul”. Luiz Ayrão definiu a Águia como “fenômeno que não se pode explicar”. Para Paulo Cesar Pinheiro, a Portela “é feito uma reza, um ritual”. João Nogueira escreveu que “a Portela é o próprio céu”. Candeia descreveu a Portela como “uma torrente de montanha, cuja força é tamanha que ninguém pode deter”.

ChicoSantana-Candeia-Monarco-JoaoNogueira/Fotos: SRZD/Acervo
ChicoSantana-Candeia-Monarco-JoaoNogueira/Fotos: SRZD/Acervo

O mistério de uma natureza azul-e-branca que se tornou espírito, que parece elevar-se de forma sacralizada para além do próprio samba. Eis o mistério que seria o “divino manto” sobre a bandeira…foi um rio que atravessou a história do samba e do carnaval e inundou a cultura popular de pérolas, conquistas, baluartes e tesouros descomunais.

Nós, portelenses, pedimos licença para falar desse amor e dessa paixão por uma escola cuja beleza e amor encantam e não se pode explicar!

HélioRainho/Passistas/Portela2017 – Foto: Jeanine Gall

Celeiro de matriarcas e poetas, baluartes e bambas, maiorais e eternos do samba: a Portela é um capítulo à parte na história de toda a grandeza que o samba e o carnaval carioca desenharam no panteão cultural do país!

Hoje, aos 94, voa soberana e campeã mais uma vez. Com a certeza de que muitos de nós – todos os portelenses – somos capazes de viver por suas cores e morrer por seus amores; incapazes que somos de explicarmos a nós mesmos sem falarmos da Majestade desse azul que reina soberano em nossos corações!

A grandeza da Portela tem 94 anos…não é de hoje! Nasceu em Oswaldo Cruz, eternizou-se em Madureira…”natureza que tornou-se espírito”…lágrimas só de se pensar!

Parabéns, Majestade do Samba!
Salve o manto azul e branco da Portela!

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