Nyldo Moreira

Jornalista, especializado em cultura e economia. Ator e autor de peças de teatro. Apresentou-se cantando ao lado de artistas, mas não leva isso muito a sério. Pratica a paixão pela música em forma de textos e críticas. Como diretor, esteve a frente de dois curtas, um deles que conta a vida no teatro.

Vestido de Hebe Camargo vai parar no teatro

O ator Eduardo Martini estreará “I Love Neide – A Viagem” com o vestido que Hebe Camargo usou em 2010 quando foi homenageada no programa do Faustão, na TV Globo, com o Troféu Mário Lago. A personagem, que foi criada especialmente para o programa da apresentadora, falecida em 2012, tornou-se destaque em espetáculos de Martini. Depois de Neide Boa Sorte parece que uma avalanche de papéis muito parecidos começaram a surgir, alguns ganharam até filme – inspirações ou cópias, não sei! Sempre que a cinquentona aparece nos palcos o riso está garantido e nessa temporada, que estreia dia 12/01 no Teatro Itália, em São Paulo, vai ser difícil não se emocionar também. Imaginem quando Neide surgir com o vestido da maior diva da televisão?! Obrigado, Eduardo Martini, por trazer um pouquinho da Hebe de volta pro público. Vai ser lindo! A Hebe rolaria de rir vendo a Neide usando um vestido seu.

Conversei com o ator Eduardo Martini. Confira:

NM: Como é que esse vestido veio parar em suas mãos?

EM: Tudo começou com a Regina Souza, que era produtora da Hebe. Foi que disse “sim” quando eu pedi pra fazer uma brincadeira com a Hebe, ou seja, a primeira apresentação da Neide na TV. Ela foi me assistir no Dark Room (peça que estava em cartaz no Teatro Augusta) e depois saímos para jantar. Eu comentei com ela de como eu gostaria das perucas da Hebe, aquelas perucas loiras, de cabelo natural e vários cortes e tal. Ela disse: “bom, vamos falar com o Cláudio” [Pessutti – empresário e sobrinho da Hebe]. Ela ligou pra ele, que disse sim imediatamente não só para as perucas, mas também me ofereceu um sapato e um vestido. O sapato não coube porque ela calçava 37 e eu calço 42. A peruca não deu certo porque a cabeça dela era menor que a minha e se forçar pode estourar a peruca. O vestido foi uma surpresa, porque era o único que tinha algum elástico.

NM: Então você foi a casa da Hebe para receber o vestido? Como foi entrar lá novamente?

EM: Entrar na casa da Hebe, sem história nenhuma, parecia que ela ia aparecer a qualquer momento com aquele sorriso e pedir pra servir um café, convidar pra sentar e conversar. A casa é deslumbrante, de um bom gosto absurdo. Reina uma paz, uma tranqüilidade, é de uma beleza, de um chiquê. Enfim, é a casa da Hebe como ela, alegre, feliz, com os pássaros dela, aquele jardim muito bem cuidado, aquela piscina. É uma casa clara, sabe? Gostosa, branca, igual ao sofá dela. Incrível! A toda hora parecia que ela ia entrar e ia falar “até que enfim chegou!”.

NM: O que você acha que ela diria vendo a Neide usando um vestido que era dela?

EM: Com certeza ela daria uma gargalhada e falaria assim: “eu não acredito que ela teve a coragem, a ousadia de pegar um vestido meu”. E se vacilar ela ainda diria: “ficou melhor nela do que em mim”.  A Hebe tinha essa coisa generosa da grande apresentadora, da grande artista, né? Ela servia ao artista que ela ia apresentar, o Roberto Carlos, a Rita Lee, Elis Regina e todos aqueles que ela lançou. Ela sempre enaltecia a pessoa de uma maneira absurda e era como ela recebia em casa. Sempre ela fazia tudo para que as pessoas sentissem o melhor possível.

NM: É bonito, de alguma forma, colocar a Hebe no teatro, você não acha? Ela que é um ícone no meio artístico.

EM: Colocar a Hebe no teatro… é claro, imagina, uma mulher que viveu nos palcos e dos palcos é muito incrível, né? Eu acho que a Hebe até hoje muda o metabolismo do lugar onde ela esteja, onde as coisas dela estão. Ela muda o astral, ela tem uma espiritualidade tão incrível que ela muda o metabolismo do local. Onde você fala em Hebe, onde você vê Hebe, onde você toca na Hebe é isso que acontece. É o que eu acho que vai acontecer com esse vestido. Eu mesmo não posso imaginar o que vai acontecer a hora que eu entrar com aquela roupa branca tão linda, tão incrível que eles me emprestaram. Eu acho que vai mudar tudo. Eu ouso dizer que vai ser um pouco da Hebe encarnada no palco, acho que vai ser uma puta homenagem pra ela. Pelo menos eu pretendo fazer uma coisa com que todo mundo se lembre dela. Cinco anos que ela já se foi, né?

NM: A Neide ‘nasceu’ nos bastidores do programa da Hebe, no SBT, certo? Tem algum ‘caco’ da Hebe nessa personagem? Inspirações?

EM: Você, mais do que ninguém, sabe que a Neide nasceu para a Hebe. Nasceu de uma brincadeira que eu fui fazer, enfim. A Hebe tinha uma coisa incrível, ela falava: “tchau, até a semana que vem. Fiquem com Deus. Vão com Deus. Até a semana que vem”. E eu, por um acaso, sem saber, sem planejar, eu sempre faço isso no final dos espetáculos. “Um beijo, fiquem com Deus, até semana que vem!” É um pouco ela. Eu acho que esse caco, vamos dizer assim, é uma coisa que eu fiquei dela. Ela abençoava as pessoas que iam vê-la e queria que todo mundo chegasse bem em casa. Ou mais, eu acho mesmo é que eu aprendi isso com ela. A desejar que as pessoas, a verbalizar que as pessoas voltem pra casa com Deus.

NM: A vaidade da Neide vai aumentar depois disso?

EM: Não sei o que vai acontecer com ela, viu! Acho que ela já está toda, saindo na Mônica Bergamo [Folha de S. Paulo], saindo na sua coluna. Eu acho que ela já está louca. Mas, o Eduardo não. O Eduardo está bem tranquilinho, está bem na linha, bem no eixo. Muita coisa precisa acontecer, o Eduardo precisa trabalhar muito, divulgar muito pra fazer o teatro encher e pagar as contas. Essa que é a minha função. Eu sei que cada dia é uma estreia, sabe?

Relembre um dos momentos da Neide Boa Sorte no programa da Hebe Camargo, no SBT:

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