Nyldo Moreira

Jornalista, especializado em cultura e economia. Ator e autor de peças de teatro. Apresentou-se cantando ao lado de artistas, mas não leva isso muito a sério. Pratica a paixão pela música em forma de textos e críticas. Como diretor, esteve a frente de dois curtas, um deles que conta a vida no teatro.

Maria Bethânia faz show de sucessos em Santos

Maria Bethânia / Foto: Nyldo Moreira

Maria Bethânia / Foto: Nyldo Moreira

Um show repleto de silêncios, de olhares para as próprias palavras que Bethânia exalta. Uma das mais importantes intérpretes do Brasil, delicada com suas gravaçõe e religiosa com todos os textos, permite a nós ouvir e ver um espetáculo com o que há de mais impressionante em sua carreira. Um show só de sucessos, daqueles que sabemos de todos! Textos e canções a capella para que tenhamos a luxuosa percepção da potência de sua voz. A mesma banda, com  os mais desejados músicos do Brasil. Um repertório garimpado e lapidado a Caetano, Gil, Chico Buarque, Adriana Calcanhoto e mais.

 

Após percorrer algumas cidades com o show de sucessos, a santamarense, que exalta sempre a importância de seu sangue interiorano para a influência de seu repertório, apresentou-se no Mendes Convention Center, em Santos, litoral paulista, no último dia 8. A data aconteceu após ter sido remarcada, pois Bethânia esteve doente. Ao subir ao palco, religiosa como é, ela lembrou que o dia era de comemorar Nossa Senhora de Montserat, padroeira da cidade.

 

Entre as canções, “Gema”, de Caetano Veloso, enquanto vestia dourado, como cintilada por Oxum. “Negue”, “Olhos nos Olhos” e “Cálice”, ambas de Chico Buarque. “Esotérico”, de Gilberto Gil, e conhecida pelos duetos feitos por Bethânia e Gal Costa nos dois encontros dos Doces Bárbaros (Grupo formado em 1976 por Bethânia, Gil, Caetano e Gal e que reencontraram-se pela última vez em 2002). “Sonho Impossível”, “É o Amor”, “Reconvexo”, e por ai vai.

Maria Bethânia / Foto: Nyldo Moreira
Maria Bethânia / Foto: Nyldo Moreira

“Âmbar”, de Adriana Calcanhoto, e que intitulou um dos mais importantes álbuns de Bethânia, lançado em 1996. Calcanhoto era fascinada pelo álbum “Ciclo”, quando foi influenciada pela intepretação da baiana para sua carreira. A Abelha Rainha, como ficou conhecida, estava iluminada pela mesma cor que dá nome a canção, “Âmbar” foi entoada só com a voz da cantora, e ia penetrando por onde encontrava espaço, pelo silêncio cantado, costurada por poesia e por vezes atrapalhada pelo barulho do público. Este público que exalta exacerbadamente seu ídolo. Interrompe, grita, e não permite que a cantora fique a sós, ou imagine-se a sós com o silêncio, muito importante para uma intérprete que se diz tímida, e que necessita do silêncio para que possamos sentir com mais precisão sua ferroada.

 

Não é comum assistir Maria Bethânia em um show de sucessos, até por serem inúmeros e impossível incluir todos em um só espetáculo. A intérprete costuma lançar um álbum e então sair em turnê. Este é uma nobre exceção!

 

Em uma emocionante homenagem ao percussionista pernambucano Naná Vasconcelos (falecido no ano passado), Bethânia cantou “Frevo nº2”, e ilustrou nos telões uma apresentação sua de abertura do carnaval de Recife em 2007, paramentada sonoramente do maracatu. Foi lindo! Também solfejou o refrão do enredo que a homenageou no carnaval da Mangueira em 2016: “A Menina dos Olhos de Oyá”.

Maria Bethânia / Foto: Nyldo Moreira
Maria Bethânia / Foto: Nyldo Moreira

Ao final, quando nos cumprimentamos no camarim, lembrei de uma das vezes em sua casa, em Santo Amaro da Purificação, quando Dona Canô, sua mãe, comemorava alguns centenários. Bethânia, carinhosamente, lembrou: “Esse ano seriam 110 anos”!

 

Em tempo, uma mensagem deixada pela intérprete em um dos trechos do show, assinada por Vinícius de Moraes, e oportunamente para o momento do nosso País dizia no texto “Pátria Minha”: “Se me perguntarem o que é minha pátria, direi não sei (..) Mas sei que minha pátria é a luz, o sal, a água (…).

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