Nyldo Moreira

Jornalista, especializado em cultura e economia. Ator e autor de peças de teatro. Apresentou-se cantando ao lado de artistas, mas não leva isso muito a sério. Pratica a paixão pela música em forma de textos e críticas. Como diretor, esteve a frente de dois curtas, um deles que conta a vida no teatro.

Dalva de Oliveira, 100 anos: Ângela, Catto, Claudette e grandes nomes

Uma das mais prestigiadas cantoras do Brasil e mantenedora de um dos mais primorosos repertórios, Dalva de Oliveira era a voz desse País e por isso vem recebendo homenagens de vários intérpretes quando completaria cem anos. No último sábado (14), o show, que já é CD duplo pela gravadora Biscoito Fino, apresentou nomes como Ângela Maria, Filipe Catto, Maria Alcina, Ayrton Montarroyos, Claudette Soares, Alaíde Costa, Virgínia Rosa e Cida Moreira cantando em memória de uma das mais célebres Rainhas do Rádio brasileiro.

 

Foi no palco do Teatro Paulo Autran, no Sesc Pinheiros, em São Paulo, que o produtor Thiago Marques Luiz comandou um desfile de vozes da nova geração de artistas e daqueles que até chegaram a conhecer Dalva, como Claudette Soares e Alaíde Costa. Ângela Maria lembra que foi levada para a música por Dalva de Oliveira e não deixa de exaltar a grande voz que nos deixou em 1972, aos 55 anos. Ângela, que também é lembrada por sua grandiosidade na música, disse ser fã número um e nenhuma história a respeito de Dalva é capaz de diminuir essa admiração.

 

A paulista de Rio Claro, viveu romances conturbados e sua melancolia derramava dor nas canções que interpretava. Era um aperto no coração, um grito e uma lágrima sobre um leve sorriso de lado. A voz do Brasil, que é até hoje, Dalva de Oliveira chegou a responder a todos com a canção Bandeira Branca, encomendada por ela mesma ao compositor Max Nunes. Na época, ela vivia um turbilhão desde a separação de Herivelto Martins e muitas notícias citavam a cantora com manchetes nada agradáveis. Ela queria uma trégua em tom de marcha de carnaval. Assim como Máscara Negra, de Zé Keti, Bandeira Branca foi um sucesso.

Maria Alcina canta 'Máscara Negra' e 'Kalú' | Foto: Nyldo Moreira
Maria Alcina canta ‘Máscara Negra’ e ‘Kalú’ | Foto: Nyldo Moreira

Intepretações que tentavam buscar o mínimo do sentimento que Dalva colocava nas canções, e o desespero por momentos de alegria, como interpretadas por Maria Alcina nas canções Kalú, de Humberto Teixeira e Máscara Negra. A voz potente, que ia de uma contralto a soprano, é quase que irresvalável. Ninguém chegou depois dela e se equiparou. Tarefa difícil para Ayrton Montarroyos, que interpretou Linda Flor, de Luiz Peixoto e Marques Porto, e Claudette Soares com a canção Que será, de Mario Rossi e Marino Pinto. Mas, todos, iam desfiando entre seus timbres mais graves e agudos, interpretações próprias e releituras de uma Rainha que nunca perdeu a majestade.

 

Filipe Catto trouxe a encenação de uma Dalva que se entregou às bebidas e toda a dor das canções Tudo Acabado, de J Piedade e Oswaldo Martins e Errei Sim, de Ataulfo Alves. A cantora Virgínia Rosa trouxe uma elegância e uma seda rasgada aos Olhos Verdes, de Vicente Paiva e Teus Ciúmes, de Aldo Cabral e Lacy Martins. Alaíde Costa prestou também homenagem a cantora Célia, que participava das comemorações do centenário de Dalva de Oliveira e faleceu em setembro do ano passado. Cantou também Calúnia, de Marino Pinto e Paulo Soledade. E antes que todos entrassem para juntos interpretarem Bandeira Branca, de Max Nunes e Laércio, a grande Ângela Maria cantou Neste Mesmo Lugar, de Klessius Caldas e Armando Cavalcanti e Ave Maria no Morro, obra prima de Herivelto Martins, que acabou sendo também um dos sucessos de Ângela ao longo de sua carreira.

 

A comemoração do centenário de um artista brasileiro é a confirmação de que nesses 100 anos a sua obra permaneceu em ebulição. Sobre isso, o produtor Thiago Marques Luiz diz que, “além de ter sido uma voz única no panorama da música brasileira, Dalva foi a lançadora de muitos clássicos que se imortalizaram no nosso cancioneiro popular.” Hoje, suas canções são regravadas por inúmeros artistas e a cantora chega a ser comparada a Edith Piaf do Brasil. “Poder reunir artistas de diferentes estilos e gerações num tributo como esse é a grande oportunidade de mostrar que música boa não tem idade”, conclui.

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