Nyldo Moreira

Jornalista, especializado em cultura e economia. Ator e autor de peças de teatro. Apresentou-se cantando ao lado de artistas, mas não leva isso muito a sério. Pratica a paixão pela música em forma de textos e críticas. Como diretor, esteve a frente de dois curtas, um deles que conta a vida no teatro.

Ângela Maria lança álbum e turnê e chora ao ouvir Cauby Peixoto

Ângela Maria e as canções de Roberto & Erasmo / Foto: Murilo Alvesso

Ângela Maria e as canções de Roberto & Erasmo / Foto: Murilo Alvesso

Quem nunca tomou pra si uma canção do Roberto Carlos e do Erasmo Carlos?! A dupla, que já lançou incontáveis sucessos em suas vozes e também de inúmeros outros cantores, assina o belíssimo roteiro do novo show de Ângela Maria, a rainha do rádio! No último final de semana, o Sesc Vila Mariana estendeu o palco ao resgate das noites da era ouro da música brasileira. A Sapoti, como ficou apelidada Ângela, não deixou de lado seu já indispensável repertório, mas mostrou que sempre há tempo para lançar, para se projetar e quando uma rainha canta o rei, não há como dar errado. Aos 88 anos de idade, 67 de carreira e com uma disposição absurda, a cantora diz: “eu poderia estar fazendo crochê, mas não, estou aqui cantando”!

Com uma delicada e visivelmente carinhosa direção geral de Thiago Marques Luiz e direção musical de Billy Magno, “Ângela Maria e as canções de Roberto & Erasmo” entra para o hall dos grandes espetáculos itinerantes, já que infelizmente não temos mais cartazes como este em longas temporadas em um só lugar. É uma pena, porque é daqueles shows que poderíamos aos finais de tarde, na noite, sentar na poltrona e vidrar o olhos na empolgação de um artista que se delicia no que faz. Ouvir, assistir sem cansar, várias e várias vezes! É um espetáculo irretocável, em repertório, luz, arranjo e fotografia.

Quando abrem-se as cortinas, aparada por uma banda luxuosa, Ângela, em pé, sobre pétalas de rosas, um colar refletor, chiquérrima e sempre exalando sua vaidade. A voz vai tomando o ambiente, como aquela senhora que vem caminhando por ruas vazias e cantarolando. Seu choro ao final de algumas interpretações perdura, o solfejo e os apitos que adentram sob seus graves, e lá para o final do espetáculo um choro verdadeiro começa a deixar seus olhos. Neste repente, uma voz, a mais grave, a mais bela de um homem nesse país, após anos de parceria, sem o amigo Cauby Peixoto ao lado, mas com a voz preenchendo o palco. Imaginem, vocês, que estão lendo esse texto agora, a voz de Cauby surpreendendo Ângela ao meio da canção “Como é Grande o Meu Amor Por Você”. Sem saber de nada, a cantora recolhe a voz e permite o amigo presenciar o espetáculo, desta vez sem sua finalização, como era praxe ouvir Cauby dizer ao final dos versos: “bonito, Ângela”. Acompanhamos, acredito que todos na plateia, o choro de Ângela e o desajeito para seguir a próxima canção, e disse ao diretor: “Thiago (Marques Luiz), você poderia ter me matado”. Foi indo e inesquecível! Enquanto isso pairava a foto do grande mestre, do professor, ao fundo.

Cauby, há alguns anos, também gravou um lindo álbum com canções de Roberto e Erasmo. Em um de seus shows, no Bar Brahma, pude cantar com ele “Desabafo”, e isso rendeu meu primeiro texto sobre música. Toda a memória afetiva disso tudo ressurgiu neste atual espetáculo de Ângela Maria. Desta vez, não foi possível o encontro dos dois cantores, Cauby partiu, mas não por isso deixaríamos de ouvir mais uma vez essa parceria. A dupla gravou a canção “Como é Grande o Meu Amor Por Você” no CD Reencontro, de 2013. Um take da voz de Cauby foi retirado dessa gravação e trabalhado um novo arranjo para a faixa que Ângela divide com ele neste novo trabalho.

Com o teatro do Sesc Vila Mariana lotado, os ingressos esgotados, Ângela agradeceu e lembrou: “nunca fiz um show para meia plateia, sempre estão lotadas”. E é só o que nós, Ângela, devemos a você, esse carinho, eternamente!

Em plena atividade, lançando projeto novo, com o gás de uma menina, a cantora segue para o Teatro Porto Seguro, com o mesmo show. O CD, pela gravadora Biscoito Fino, não é nada do mesmo, assim como toda boa gente que grava como uma novidade as canções de Roberto e Erasmo. Nos arranjos que abraçam o projeto, há entradas de uma atmosfera jazzística, uns solos de trombone deliciosos, algo diferente, uma novidade nas incansáveis canções de uns dos maiores compositores desse país.

Bravo Ângela, sempre! Bravo ao Sesc, por fazer o que sempre fazem pela música. Os teatros dos Sescs são já consagrados templos da música, e não podemos ficar sem!

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