Nyldo Moreira

Jornalista, especializado em cultura e economia. Ator e autor de peças de teatro. Apresentou-se cantando ao lado de artistas, mas não leva isso muito a sério. Pratica a paixão pela música em forma de textos e críticas. Como diretor, esteve a frente de dois curtas, um deles que conta a vida no teatro.

Alcione e Gilberto Gil: enredos do Carnaval 2018

Gilberto Gil em encontro com Paula Penteado, Neguitão e Reginaldo Pingo. /Foto Divulgação

Gilberto Gil em encontro com Paula Penteado, Neguitão e Reginaldo Pingo. /Foto Divulgação

A Vai-Vai e a Mocidade Alegre, escolas de samba paulistanas, farão homenagens a dois grandes nomes da música Brasileira. A agremiação da Bela Vista trará Gilberto Gil no enredo, enquanto a Mocidade terá Alcione como estrela do desfile. Alguns artistas também foram recentemente  enredos de outras escolas, como Maria Bethânia pela Mangueira, Roberto Carlos pela Beija-Flor e a mesma Vai-Vai que já emplacou Elis Regina e o maestro João Carlos Martins. Todos foram campeões!

As sucessivas vitórias e o entusiasmo de homenagear nomes tão fundamentais da música certamente inspiram e indicam como estratégia das agremiações em encabeçar outros nomes na história das homenagens pela avenida. Parece ser, de fato, mais inspirador e rebusca imediatamente a um mix de memória do povo, literalmente conectado com o fanatismo a esses artistas e suas composições. Falar de sucesso dá sucesso! Essa parece a receita.

Com um enredo sobre Alcione, a Mocidade Alegre, de São Paulo, colocará na Avenida a história da eterna Marrom. Integrante assídua da Mangueira, a sambista está retratada num enredo bem amarrado, bem cadenciado e com um forte refrão, que além de exaltar seu famoso apelido (Marrom) também carimba o seu maior sucesso: “Não Deixe o Samba Morrer”, levando esse trecho da letra para dentro do enredo. Isso deu muito certo com o enredo da Vai-Vai em 2015, quando os versos de “Maria,Maria” estamparam o refrão do desfile que homenageava Elis Regina. Esse tipo de canção pega e penetra imediatamente no gosto do público!

Alcione e Solange Bichara, presidente da Mocidade Alegre. /Foto Divulgação
Alcione e Solange Bichara, presidente da Mocidade Alegre. /Foto Divulgação

Gilberto Gil, um dos maiores compositores brasileiros, está no enredo da Vai-Vai, uma das mais tradicionais escolas paulistanas. O baiano aprovou o samba, que leva trechos de suas canções para a letra do enredo. Desta vez acredito que faltou esse apelo imediato, o nome de Gil no refrão, mas não fica de lado um acerto em cheio de “a fé não costuma ‘faiá’”, trecho de “Andar com Fé” numa das repetições da letra do Vai-Vai.

Um dos fortes acertos lançados pela Vai-Vai foi a entrada de Grazzi Brasil no grupo de intérpretes. No carnaval desse ano, quando a escola levou os orixás para a avenida, a cantora deu um lindo fôlego feminino para o samba da Saracura. Para o próximo ano ela também solta a voz para Gil.

A escola do Bixiga, deve fazer um memorável desfile, se levar os tambores africanos, a Mãe África para a abertura do desfile, os festivais de música, os parangolés e a Tropicália, a encenação de famosas canções como “Drão”, os Doces Bárbaros, o sertão, a Bahia! Assim como a Mocidade Alegre pode alegrar a avenida com as cores do Maranhão, o carnaval, o folclore, o Cacique de Ramos, a Mangueira, as parcerias, o tempo das boates, e força de uma das maiores vozes do mundo! De ambas esperamos as vozes de seus homenageados na abertura dos sambas.

Os enredos e os arranjos das agremiações paulistanas distanciam-se um pouco do que é feito no Rio de Janeiro. Alguns dos enredos cariocas ganharam a força de músicas populares e estão ainda em gravações e regravações por outros artistas. “A Menina dos Olhos de Oyá”, da Mangueira, em homenagem a Maria Bethânia, é o mais recente desses enredos, que fizeram renascer a safra dos grandes sambas nascidos dentro das agremiações. Mas, nada disso diminuí o samba paulistano, pelo contrário, são coisas diferentes, são influências diferentes. O pagode parece mais enraizado nos enredos e arranjos de São Paulo, enquanto os blocos de sambas antigos e o nascimento das escolas de samba pelas mãos de memoráveis sambistas faz a história do samba no Rio de Janeiro.

Devemos esperar grandes desfiles em São Paulo. E ficarei de olho na Vai-Vai e na Mocidade, que fará dos meus ídolos o enredo de 2018. Isso se lá eu não estiver!

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