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Estamos em Marte? Faltou coragem para o Carnaval

Marte. Foto: Reprodução

O carnavalesco Marco Aurélio Ruffinn traz seu primeiro texto para os leitores do SRzd.

A coluna é publicada semanalmente, às quintas-feiras, na página principal da editoria do Carnaval de São Paulo. Leia, comente e compartilhe!

Faltou coragem para o Carnaval 

Já temos um panorama de como será a nossa próxima temporada carnavalesca em São Paulo.

Enredos “CEP”, homenagens e alguns déjà vu

Parece até que estamos em Marte!

Pois é! O país em plena ebulição, há quase dois anos, vivendo uma sucessão de escândalos na política nacional e nenhuma escola ousou abordar o tema.

Nem em tempos de ditadura militar – 1964 até 1985 – foi assim, muito pelo contrário.

Naquela época tivemos gente de coragem exaltando a liberdade e a força do povo em resistir.

No Rio de Janeiro, o samba era uma das vozes dessa resistência, sobretudo combatendo as atrocidades cometidas pelos governos daquele período.

Salgueiro, Império e Vila, não se intimidaram.

Aqui em Sampa, as escolas ainda buscavam seu espaço.

Por isso, voltemos ao Rio!

Os Acadêmicos do Salgueiro desfilaram em 1967 com o enredo: “História da liberdade no Brasil”, retratando as lutas populares numa sutil referência ao momento vivido naqueles tempos.

Para se ter uma ideia, todos os ensaios salgueirenses eram monitorados pelo DOPS, Departamento de Ordem Política e Social, braço temido da opressão militar.

O Império Serrano, dois anos depois, na sequência da publicação do Ato Institucional de número 5, o mais cruel dos decretos, sufocando as liberdades individuais, cantou o inesquecível “Heróis da liberdade”.

Baseado na Inconfidência Mineira, na Independência e na Abolição, a letra fazia analogia à luta pela liberdade na ditadura.

Arrefecido, o regime ainda assistiu, em 1980, a Unidos de Vila Isabel passar na Avenida com o “Sonho de um sonho”, inspirado no poema de Carlos Drummond de Andrade, com samba assinado por mestre Martinho. Composição feroz e destemida, clamando pela liberdade, sem disfarces:

“Um sorriso sem fúria, entre o réu e o juiz
A clemência e a ternura, por amor da clausura
A prisão sem tortura, inocência feliz
Ai meu Deus
Falso sonho que eu sonhava”

Mais de cinquenta anos se passaram e parece que estamos com menos coragem. Ou será que desistimos e entramos na dança? Ficamos mais políticos?

Sei não…

O que sei é que a corrupção também é sinônimo de opressão, afinal de contas, o povo segue sendo privado de suas liberdades; morais e sociais.

Posicionar-se é preciso!

Para uma escola de samba, enquanto agente do povo, soa estranho não argumentar, questionar.

Afinal, o argumento é a base de um enredo de Carnaval.

Mais uma vez, sobrou para os carnavalescos salvarem o espetáculo!

Ser contemporâneo, defender bandeiras, também são funções daqueles que militam na cultura popular. Não será dessa vez…

Sim, o luxo, o glamour e o dinheiro, vindo de bons patrocínios, também fazem parte da festa.

Mas fingir que não está inserido ou ficar à margem do cenário atual, é habitar numa outra realidade.

Fica agora a esperança de sermos surpreendidos, pela abordagem e pelo delírio da criação, já que a contestação, tão necessária e oportuna, ficou de fora da festa do povo…

O espaço está aberto. Compartilhe, escreva, sem moderação!

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