A Rosa Azul da Portela

A Portela, tão logo encerrara seu desfile de grande campeã do Carnaval 2017, já se vira envolta na saída de seu carnavalesco Paulo Barros. Carnavalesco, aliás, que muitos preconizaram negativamente como um divergente das tradições da Águia. Mas que, em dois anos, emplacou favoritismo e um título há 33 anos esperado.

Há um longo silêncio nas rodas de argumentadores contrários…

A saída de Paulo acena para um momento não menos importante com relação à chamada “dança dos carnavalescos”. Como consequência, a escola precisava de um novo profissional para a disputa do bicampeonato em 2018. E não poderia pensar pequeno, pois foi da ousadia que arrancou a sua vitória.

Dito e feito. A nova carnavalesca da Portela é Rosa Magalhães. Decana e professora dos carnavalescos que aí estão. Jóia rara e unanimidade. Como a própria Portela, supercampeã dos carnavais.

A maior virtude de um artista é a reinvenção. Há pouco tempo usei esse termo em uma análise sobre ala de passistas e ele causou alguma celeuma. “Reinventar” é algo que assusta. Fui indagado: “O que seria ‘reinventar’ algo que já existe?”. E eu argumentei que dois fatores ocasionam uma “reinvenção”: a circunstância e o talento.

Paulo Barros reinventou-se na Portela. Juntou a força de todos os seus feitos inovadores a uma evocação constante da tradição. Reparem que seus dois enredos tinham a autorreferência da própria escola, algo que ele não trabalhava nas anteriores. Por que essa autorreferência? Porque é característica da Portela. E porque a Portela é, também, uma escola em “reinvenção”.

A Portela nunca ficou no ostracismo devido à sua grandeza e à força indiscutível de seu poderoso legado no samba. Mas andava indiferente em termos de disputa, competitividade. Logo ela, uma campeã até hoje insuperável! Sua reinvenção ocorreu com o movimento “Portela Verdade”, aquela chapa encabeçada não apenas por nomes individuais, mas por uma filosofia de pensamento que, hoje, permeia todos os portelenses. Porque o desejo de reinvenção não era da chapa, apenas; pelo contrário: a chapa tão somente projetou um sentimento comum de toda uma família portelense sedenta de renovo. A chapa tinha uma proposta clara: a reinvenção acontecer a partir de um renovo que começasse exatamente no resgate às raízes históricas da escola. Teve a ousadia de Marcos Falcon como articulador, mas polarizava a presidência da escola com um caçula da Velha Guarda (Sergio Procopio) e um baluarte poderoso como Monarco na presidência de honra. A morte de Marcos Falcon não apagou o vigor do novo presidente, Luís Carlos Magalhães, em sustentar o mesmo desafio brilhantemente. Mistura de novos e antigos, departamentos estruturados e sábios conselheiros. Reinventou-se a Portela, sem esquecer sua rica história.

A chegada de Rosa Magalhães acena para um momento em que a grande professora também deseja se reinventar. Esteve há algum tempo numa escola de menor porte, onde fez belos trabalhos, mas não disputou títulos. Rosa certamente quer reencontrar os caminhos da vitória e revitalizar sua arte e seus estudos numa associação inédita com uma escola onde sempre quis voltar a trabalhar, após ter desenvolvido, em 1978, o enredo Mulher à Brasileira. É óbvio que Rosa sabe da importância de estar na Portela, assim como a Portela sabe da importância de ter o respeito de uma de nossas mais importantes profissionais do carnaval.

Como grande artista que é (e aí é impossível não associar ao feito de Paulo Barros quando lá chegou), Rosa vai para a Portela na certeza de que se juntará a um exército de apaixonados de Oswaldo Cruz e Madureira para seguir no projeto de reinvenção – que soma tradição e ousadia – da grande campeã de 2017.

A alma estudiosa de Rosa sabe quão grande é o desafio de olhar para o futuro de uma escola com tão glorioso passado como é a Portela. Favorecida, é claro, pelo fato presente: a campeã reinventada ganhou força em 2017. Posso imaginar, particularmente falando, que Rosa está muito interessada em olhar e construir esse futuro, reinventando e se reinventando.

Porque a reinvenção existe. Tanto que a Rosa, agora, é Azul. A Rosa Magalhães “Azul” da Portela!

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