Império Serrano: Favor Respeitar!

Império Serrano escolheu a música “O que é, o que é?” para desfilar em 2019. Foto: Jeanine Gall

 

A história de linchamento público do Império Serrano é real. E não é recente. Faltam, no entanto, coragem e imparcialidade – sobretudo na imprensa, e é bom mesmo que se diga! – pra que isso seja registrado. O balaio de oportunistas, falsos puristas, autoproclamados que nem vão (ou nunca foram) à quadra e teoricistas do apocalipse verde-e-branco é enorme. Os mendigos de migalhas do poder rodeiam como ratos a Cúria do Samba, da qual o Reizinho não faz parte. Aos insetos em volta da lâmpada, o Império Serrano não interessa. A não ser pra enxertar seus textos de depreciação gratuita da escola, apontando defeitos que suas canetas ocultam quando saltam diante de seus olhos em outras coirmãs. O “império” deles não está na Serra: está na seletividade!

 A história de linchamento público do Império Serrano é real. E não é recente! É preciso registrar!

Um dia, a cuíca roncou forte em Madureira, desceu a Serra do samba, quebrou o protocolo, fez impor sua bandeira. Um certo “Molequinho” dissidente (ainda mais com esse nome) não poderia ser levado a sério: a sua grande “molecagem” foi não querer ser “mais um”! Ele queria que sua nova escola nascesse gigante. Imagino quantos não duvidaram, perseguiram, ultrajaram, debocharam de seu atrevimento. Assim, em 23 de março de 1947, nasceu a escola que, a partir de 48, ostentaria um tetracampeonato nas barbas das duas  grandes e hegemônicas campeãs. E não foi por acaso que o Império nasceu grande como elas: ele tinha o arrasta-povo de uma Mangueira e gozava da envergadura garbosa do samba de Madureira consagrada pela poderosa Portela. Entendam: ele não copiou NADA disso, ele já NASCEU assim, já trouxe toda essa virtude intrínseca em seu DNA imperial! O Império teve, desde a sua raiz, a negritude engajada do jongo e de seus estivadores que ainda nem havia sido revelada por um negro e não menos poderoso Salgueiro antes de 1960. E é isso que explica não só sua arrancada inicial, mas também o histórico de desdém, rejeição e menosprezo que a escola sofre até hoje.

Meu texto não é político, porque sou apartidário, anarquista e não me envolvo em campanha pessoal.  Talvez por isso você vá ler, aqui nesta coluna, o que ninguém quis escrever em lugar nenhum!

No Império, tudo é motivo de crucificação e linchamento. A escola acaba de ser escalada, em uma plenária, pra abrir um desfile onde ela não pediu pra não ser rebaixada, sendo que no ano anterior ela subiu como campeã legítima e abriu o desfile do mesmo jeito, mesmo sendo também um ano em que quem deveria ter caído não caiu. Na liga instituída, cujos estatutos apontam a própria escola como uma de suas fundadoras, o Império foi destituído de poderes e de respeito. “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”. 

Cadê os paladinos da decência, das tradições e do moralismo do samba, agora, com suas colunas autênticas e viscerais?! Vão sentir falta dos canapés nas tribunas de honra, né?

Quantos textos você leu, até agora, reivindicando justiça ao Império por essa incoerência?! Nenhum. Mas certamente viu vários textos cobrando da diretoria da escola uma “tomada de decisão”. Porque é sempre mais fácil culpar a janela pela paisagem.

Respeito a democracia imperiana. Um legado diferente de todos os demais legados do samba. Respeito todas as opiniões internas, escuto todas as correntes politicas da escola, não me indisponho. Debato com quem posso, dialogo, faço pontes. Não me calo nem consinto: a escola requer de seus integrantes que sejam partícipes. O que eu não aceito é um silêncio externo para as verdades internas, potencializado em falácias e textos parasitários que tentam apontar só erros pra sempre denegrir o Império, fazendo vista grossa e covardia que nunca são feitas com outras escolas “queridinhas do poder”.

 A história de linchamento público do Império Serrano é real. E não é recente! É preciso registrar!

Em 2016,  uma verdadeira campanha de imprensa atacou a escola com acusações levianas de que o patrono havia imposto sua religião sobre os enredos, supostamente “proibindo que a escola reverenciasse entidades”. Estranho: naquele ano, o Império havia desfilado com um samba cujos versos vinham “pedindo ao Rei Banto proteção”, e desfilaria no ano seguinte com versos afirmando que “Nossa Senhora é fé, esperança / De um pantaneiro a lutar”. Cadê o boicote que os urubus anunciaram?! Calúnia flagrante! Distorceram uma opinião pessoal como se fosse tomada de atitude! O mal estar visível parecia constrastar com o enredo de sua principal concorrente no desfile, uma majestosa coirmã que trazia como tema…justamente um orixá! Será que a campanha era apenas “moralizadora e purista”, ou tentava influenciar indiretamente os julgadores daquele ano, atrapalhando o Império?!

Muitos caíram nessa arapuca, como vêm caindo nessa de agora de que “o Império desinventou o compositor de escolas de samba”.

 A história de linchamento público do Império Serrano é real. E não é recente! É preciso registrar!

Há outras perguntas, há muito sem resposta, que ninguém quer fazer…

Quem inventou o samba de condomínio?! Quem inventou a composição de aluguel?! Quem inventou o samba por encomenda?! Quem inventou as torcidas de futebol em ônibus pagos pra disputar samba em quadra?! Quem aceitou e quem não aceitou trocar a condição de compositor de ala pra se tornar “compositor de aluguel”, de “paredão” pra ganhar samba, ou do raio-que-o-parta que a gente tá vendo aí agora?!?! 

Foi o Império Serrano, senhores inquisidores donos da verdade? Me digam aí: FOI?!?!?!?!

Quem se lembrou de Dona Ivone, Silas de Oliveira, Mano Decio, Candeia, Cartola, Ismael Silva quando todas essas coisas começaram a acontecer?! QUEM?! Onde publicaram suas colunas e textos moralizadores, puristas, higienistas, empolados de senso culturalista…onde publicaram que ninguém viu?!! Quantos compositores evocaram esses nomes e renunciaram tudo que foi indagado acima, para agora criticarem o que o Império está fazendo?!

Então agora, em um momento de profunda reflexão sobre toda a fenomenologia dos poderes e saberes que se conflituam nas múltiplas esferas das escolas de samba, ninguém de bom senso pode achar justo penalizar uma só escola, lançando sobre ela o fardo de moralizar somente para si os erros que todas cometem há anos, sendo muitas agraciadas com benesses elogiosas por aquilo que, no caso do Império, é exposto como infâmia e vergonha particular.

O Império escolheu seu enredo. Abriu mão de sua grandeza poética para abraçar a licença poética de outro gigante. Que, como o Reizinho e seu fundador Molequinho, tem apelido diminutivo e gigantismo maiúsculo. Se chama Gonzaguinha e todo mundo sabe quem é. Isso foi traição ou humildade?!

Ano passado, o Império teve nove parcerias apresentando samba, sendo uma escola que já apresentou mais de 40 em uma mesma edição. Para o próximo ano, havia rumores de que a ala não inscreveria sambas. Surge um carnavalesco com uma proposta de enredo fechada em um samba-tema. A diretoria traça seu plano de trabalho adotando a proposta. Esta é a verdadeira história que ninguém quer contar. 

O Império tem que botar carnaval na avenida. Mesmo sabendo que, ainda que seja campeão, será “gentilmente sorteado” pra abrir de novo o carnaval de 2020!!!

A história de linchamento do Império Serrano é real. E não é recente! É preciso registrar!

Errando e acertando como todo mundo, que seja questionado internamente, por sua corte imperiana a quem é dado esse direito. Mas que seja respeitado da porta pra fora…na boca, na caneta e na cara de quem não beija sua bandeira, não enverga suas cores, não sua sobre seu chão, não come da sua feijoada à sua mesa, não quebra o corpo na cadência sinfônica de sua batucada! Nao diga que no Império é “acinte” o que, nas outras , você chama de “irreverência e genialidade”!

Deixem a escola trabalhar! Que nossas opiniões nao sejam uma violência ou linchamento público da escola! Muitos de fora querem isso, por isso do lado de dentro – como diz um de seus sambas imortais – “tocou reunir”!

E, se não têm coragem de apontar nas outras as falhas que elas repetem sucessivamente (já que todas são maravilhosas, mas vivem também sob inúmeras pressões), que não façam de bode expiatório esse Gigante da Serrinha, Menino de 47, Molequinho-Rei…escola que é “a batida de um coração”… “uma doce ilusão “…“maravida ou sofrimento”…”alegria ou lamento”…“sempre desejada, por mais que esteja errada”,

É ridículo que ainda seja preciso pedir RESPEITO a um gigante como o Império Serrano.

O Império já desceu, mas nunca foi rebaixado! Uma escola que vem se recriando, apanhando, caindo e levantando.

Mas isso não impede que eu repita: é bonita, é bonita e é bonita”!Attachment.png

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