Corram que a ‘virada’ vem aí!

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Uma votação massacrante, com apenas duas resistências, decidiu (de novo!) pelo não-rebaixamento no Grupo Especial de 2018. A brincadeira da “virada de mesa” virou mesmo coisa séria. De casualidade, está deixando bem claro a todos os amantes das escolas de samba que virou prática.

Enquanto se apoiam em mil e uma justificativas para mudarem os resultados dos envelopes, que mesmo controversos deveriam ser soberanos, os dirigentes do samba carioca não conseguem entender ou alcançar que o conjunto de manobras esvazia tudo: investimentos, credibilidade, púbico. Curiosamente alegam que uma nova virada em 2018 será pra “resolver” esse problema. Ou seja: tentam se defender da erva daninha que eles mesmos plantam. Seria cômico se não fosse trágico…

Estão alegando que um Grupo Especial com 14 escolas pode reverter a queda na venda de ingressos. Fazem vista grossa para o fato de que eles mesmos esvaziam o show com tanto manobrismo insano. O ano de 2018 pagou caro pelas decisões pós-Carnaval de 2017. O público entendeu que não é levado em conta e que não existe regra no campeonato. Cada um pode “fazer” a sua própria justiça. Por mais que alguns se convençam de que estão “cobertos de razão”, vão perder junto com todo mundo. A perda é geral, e 2017 já “mo$trou” isso.

E vai piorar em 2019!

Desfile das campeãs ninguém mais quer ir, virou uma farsa pré-tapetão e todo mundo já sabe. Uma empresa que tem gestão séria e pratica um marketing responsável sabe que mercado nenhum se sensibiliza com evento sem credibilidade, decidido em rasgo de regulamento, chute em canela por debaixo da mesa, conversa em sala de portas fechadas.

Não interessam as alegações: existe um regulamento! Até aqui, reclamava-se da incoerência dos julgadores, e tudo ficava na base da hipótese. “Escola X parece beneficiada”, “Escola Y parece protegida”, “fulana caiu pra salvar sicrana”…antes só “parecia”. Agora ninguém faz questão de esconder mais nada: as tais “plenárias” decidem o que NÃO está no regulamento e simplesmente ALTERAM resultados e rasgam protocolos. Até o prefeito – que todo mundo odeia e que sabidamente quer acabar com o carnaval – mandou cartinha “apoiando” a decisão. Com o aval de um inimigo declarado, alguém pode considerar tal ato digno de alguma glória?!

Ninguém quer ensaiar mil vezes por semana, voltar de madrugada da Cidade do Samba, enfrentar a violência truculenta do Rio de Janeiro e participar de um evento que não tem mais regras nem coerência. Menos ainda gastar dinheiro pra ver um campeonato que aprendeu a ser decidido depois da decisão.

Venho dizendo há muito tempo que esse modelo de campeonato inventado em 1935 não pode ter quase 100 anos sem alteração e ser considerado “bom”. O modelo de gestão também é esquálido. Se a gente comparar a gestão do carnaval com a de um Rock in Rio, por exemplo…é de dar pena! Ou alguém já comprou ingresso pra show da Cidade do Rock via fax?! O erro vai dominando a festa, contaminando um produto que insiste em se vender e buscar investidores. Se não mudar correndo, vai acabar de vez!

Poupemos, por gentileza, as bandeiras das escolas envolvidas nesse jogo. Sim, poupemos os pavilhões, porque eles não pertencem a homens de cartola. As escolas de samba são patrimônio cultural deste insensato país, riqueza desta terra ingrata, orgulho deste falso paraíso infame. A escola de samba – seu chão de componentes – ainda é uma senzala de escravos culturais que apanham moralmente de capatazes e suas decisões, por mais que gritemos todos, no meio da avenida, que “não somos escravos de nenhum senhor”. Somos sim! Ainda dependemos de decisões, comandos e tomadas de atitudes isoladas que decidem o destino de multidões. Muitos de nossos enredos bonitos escondem a nossa realidade. A Casa Grande do samba é real! Evitemos, portanto, as provocações e os ataques às bandeiras de nossas escolas! Não vai ser agredindo nem ofendendo as escolas beneficiadas com quebras de regulamento e rabos-de-arraia que chegaremos a algum lugar. O erro é humano, não é institucional!

Infelizmente (ou felizmente) estamos diante da necessidade de repensar esse modelo todo. Que está falindo graças a uma moeda que os antigos, os velhos malandros do samba, sempre fizeram questão de preservar, e agora parece estar definitivamente descartada: o respeito!

Acabou o respeito. Entra em cena um elemento pernicioso que pode falir os desfiles de escola de samba.

Corram que a “virada” vem aí!

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