Crítica: Show do Green Day, no Rio

Green Day. Foto: Tuiki Borges

Green Day. Foto: Tuiki Borges

Só faltou o bacalhau. Teve de tudo um pouco no bom show do Green Day que abriu o trecho brasileiro da turnê de divulgação de “Revolution Radio” nessa quarta-feira (1º). Billie Joe Armnstrong, elétrico, incansável, comandou um grande programa do Chacrinha durante mais de duas horas e meia. Teve música também.

A Jeunesse Arena, na Barra da Tijuca, recebeu um público apenas razoável. A combinação preços altos/proximidade com o Rock in Rio parece ter sido fatal. Mas quem foi se desdobrou, cantando altíssimo e pulando até as pernas pedirem arrego.

O Green Day se encaixa no gênero pop-punk. Costumo chamar de punk-limpinho ou punk-fofo. Afinal, que banda punk tem um roadie que retoca a afinação da bateria de dois em dois minutos antes de começar o show? Punk raiz se lixa pra isso.

Com dez minutinhos de atraso (há de se louvar a tentativa de respeito à pontualidade de alguns anos pra cá), as luzes se apagam e rolam três gravações que introduzem o show: “Bohemian Rhapsody”  (inteira???), “Blitzkrieg Bop” e “The Good, the Bad and the Ugly”, a manjadíssima de Ennio Morricone que todo o universo um dia já usou com a mesma finalidade. A galhofa já começa no clássico do Ramones, quando entra dançando no palco um coelho rosa com uma camisa escrito às costas “Tré Cool?”, sugerindo que o baterista estivesse ali embaixo.

Green Day. Foto: Tuiki Borges
Green Day. Foto: Tuiki Borges

Quando o trio, enfim, aparece para tocar “Know Your Enemy”, a brincadeira fica séria. Pressão máxima no bumbo e no baixo palhetado cheio de efeitos de Mike Dirnt e uma guitarra esquizofrênica de BJ. O trio recebe o forte apoio dos guitarristas Jason White e Jeff Matika, além dos teclados/sax de Jason Freese. Já na primeira música, o cantor bota o primeiro fã pra cima do palco. O menino tenta cantar e no fim mete um mosh. Em outros dois momentos do show, BJ repetiu o convite. Em um deles, um menino cantou completamente à vontade no palco e no outro, uma menina ganhou uma guitarra de presente após aprender (???) a fazer três acordes.

BJ é bom. É muito bom. Interage como poucos com seus fãs, mas em alguns momentos acaba cansando. Várias músicas são alongadas para que ele brinque com a galera. Muitos “iê iê iêo”, mangueiras para jogar água no público (tava frio, BJ!) e até bazuca que atira camisas pra cima. O cantor também discursou contra o racismo, contra o fascismo, contra Trump e em um dos momentos mais curiosos pediu “menos Facebook e menos Instagram”, numa espécie de esporro nas INSUPORTÁVEIS mãozinhas pro alto filmando sabe-se lá o quê com sabe-se lá que finalidade. “Estamos aqui juntos. Estamos vivos!”, gritava BJ em português enquanto algumas mãos envergonhadas iam abaixando aos poucos. Boa, BJ!

O setlist contemplou cinco faixas do novo álbum, mas foi “American Idiot”, de 2004, quem cedeu mais canções ao show: sete, incluindo um dos melhores momentos da noite, quando o público cantou sozinho “Boulevard of Broken Dreams”.

Após a porrada com “Basket Case” e “She”, a banda sai do palco rapidamente e retorna com todos fantasiados para “King for a Day”. No fim, o baterista desce vestido com um saiote e um chapéu de plumas meio Moulin Rouge, meio Plataforma e ensaia um cancan bizarríssimo com BJ tocando bateria.

Em seguida, o saxofonista Jason Freese, com um chapéu de faraó, comanda a frente do palco e ensaia um “Garota de Ipanema”. Em outras cidades, é “Carless Whisper” a canção tocada nesse momento. A banda emenda então um pout-pourri despretensioso com “Shout” do Isley Brothers, “Rio” do Duran Duran (outra novidade), “Always Look on the Bright Side of Life” do Monty Python, “(I Can’t Get No) Satisfaction” dos Stones e “Hey Jude” dos Beatles. Detalhe: a banda toca isso tudo deitada no palco. A chacota chega ao seu limite.

Depois de quase três horas, muitos fogos e explosões e dois retornos para bis (um deles elétrico e outro acústico), a rapaziada saiu satisfeita, com as músicas executadas de forma enérgica e com as zombarias adolescentes que marcam os shows dos californianos. Mas duvido que alguém tenha se divertido tanto quanto eles próprios.

Setlist

1-Know Your Enemy
2-Bang Bang
3-Revolution Radio
4-Holiday
5-Letterbomb
6-Boulevard of Broken Dreams
7-Longview
8-Youngblood
9-2000 Light Years Away
10-Hitchin’ a Ride
11-When I Come Around
12-Welcome to Paradise
13-Minority
14-Are We the Waiting
15-St. Jimmy
16-Knowledge
17-Basket Case
18-She
19-King for a Day
20-Shout/Rio/Always Look on the Bright Side of Life/(I Can’t Get No) Satisfaction/Hey Jude
21-Still Breathing
22-Forever Now

Bis 1
23-American Idiot
24-Jesus of Suburbia

Bis 2
25-21 Guns
26-Good Riddance (Time of Your Life)

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