Crítica: Elba, Alceu e Geraldo Azevedo salvam noite morna

Tava cheio. Muito cheio. Todos ávidos por Bon Jovi. Muitos, curiosos para ver a junção de Ney Matogrosso com a Nação Zumbi. Mas quem surrupiou a cena foram Elba Ramalho, Geraldo Azevedo e Alceu Valença. Numa reedição do show “O Grande Encontro”, o trio (originalmente um quarteto, completado por Zé Ramalho) foi o grande momento do dia/noite, para variar, lá no palquinho pequeno. Da ovação no riff de “Anunciação” na abertura até o pula-pula de despedida em “Banho de Cheiro” e “Frevo Mulher”, o povo curtiu cada momento. O Grupo Grial de Dança deu uma vida ainda maior ao show, que ainda teve participação da Banda de Pífanos Zé do Estado.

Mas o show mais esperado no Sunset não rolou. Bom, rolou. Rolou, mas a química no encontro de Ney Matogrosso com a Nação Zumbi não rolou. O que se viu foi um Ney que raramente aparece a olhos nus. Desconfortável, travado, incomodado e com dificuldades para encontrar os tons adaptados para que ele cantasse na oitava superior a Jorge du Peixe. No som do PA, altíssimo, as alfaias estouravam com frequência e cobriam o som do ótimo baixista Dengue, como em “Amor”, clássico do Secos e Molhados que tem uma das linhas de contrabaixo mais porretas da música nacional. “Sangue Latino” foi a síntese do encontro: uma execução péssima para idéias excelentes. Uma pena.

No Palco Mundo, o Jota Quest abriu a noite com seu show assim assim. Não é ruim. Mas não chega a ser bom. Uma vez li em algum lugar que ser mediano é pior do que ser ruim. O mediano incomoda, enquanto o ruim vira folclore. A gente aguarda o mediano dar um passo à frente enquanto do ruim não se espera nada. E vivemos esperando o dia em que eles serão melhores para sempre (perdão, mas caiu no meu colo). Porque eles podem. O Jota Quest tem um bom frontman, uma banda com uma sonoridade única, um ótimo baixista e um guitarrista fofinho. Quanto à sua música, é uma ok aqui, outra legalzinha ali, principalmente as mais antigas. Seu show é festivo, é alto astral e talvez eu seja muito chato por querer músicas melhores.

A atração seguinte entra para a conta do competente-que-pouca-gente-prestou-atenção. O Alter Bridge, banda da rapaziada ex-Creed e de Myles Kennedy, vocalista ex-Slash, tem um som redondo e distante da melancolia do som pós-grunge que essa galera curtia há alguns anos. Mas tudo soa mais do mesmo e bem aquém do Palco Mundo.

As “Tias Fofinhas” vieram a seguir e meteram o pé na porta com a fodástica “Everybody Wants to Rule the World”. A guitarra de Roland Orzabal urrava no PA e foi se acertando com o tempo, assim como o piano na intro de “Secret World”. Diferente do Jota Quest, quem brilha no show do Tears for Fears é sua música. “Sowing the Seeds of Love”, “Advice for the Young at Heart”, “Break it Down Again”, “Pale Shelter”, “Head Over Heels” e “Shout”. Pouco? Ainda rolou uma versão de “Creep”, do Radiohead. Faltou “Woman in Chains”, mas tem faltado em todos os shows da dupla. Sem uma cantora no palco, não rola a emulação da histórica interpretação de Oleta Adams. O único porém ficou por conta de longas pausas entre as músicas. Coisa de amador que colaborou para deixar o show um pouco morno, ainda mais quando o público está mais preocupado em tirar selfies e filmar sabe-se lá o quê.

As estrelas da noite tinham um desafio pela frente. Na edição de 2013, o Bon Jovi conseguiu desagradar até os mais fervorosos fãs com um setlist equivocado e um combalido Jon. A ausência de Tico Torres, que precisou se submeter a uma cirurgia de emergência, e a então recente troca de guitarristas após a briga com Ritchie Sambora contribuíram para a esquecível noite.

Desta vez a questão do repertório foi corrigida com louvor. Pouca coisa ficou de fora e a banda tocou coisas de quase todos seus discos de estúdio. Do trabalho mais recente “This House is Not For Sale”, entraram três, incluindo a música homônima que abriu o show. Foram, inclusive, junto com outras mais recentes, os pontos baixos da apresentação. Outra questão bem resolvida foi a sonoridade da banda. Com Tico de volta e com Phil X já em casa, respeitando os timbres de Sambora e tentando ser o mais fiel possível aos riffs e solos do ex-guitarrista, o instrumental desceu redondíssimo.

O que não evoluiu foi exatamente o dono da bola. Mesmo com quase todas as músicas baixadas em meio tom, Jon falhou constantemente. Sua voz perdeu muito em emissão. O cantor parece fazer um esforço gigantesco para botar a voz pra fora. A idade não serve como desculpas quando 24 horas antes Steven Tyler, quatorze anos mais velho, fez o que fez. Voz requer cuidado e não sei se Jon está disposto a esse sacrifício. Talvez mais meio tom para baixo o ajudasse a achar as notas com mais facilidade. O fã não se importou e o auxiliou durante duas horas. “It’s My Life” e “Livin’ on a Prayer” talvez tenham sido as músicas mais cantadas nesta edição até então. Mas hoje tem “Sweet Child O’ Mine” e Axl promete virar esse jogo.

Tears for Fears. Foto: Martini/I Hate Flash
Tears for Fears. Foto: Martini/I Hate Flash
Alter Bridge. Foto: Eduardo Hollanda/Estácio
Alter Bridge. Foto: Eduardo Hollanda/Estácio
Ney Matogrosso & Nação Zumbi. Foto: Juliana Dias
Bon Jovi. Foto: Nayra Halm/Estácio
Bon Jovi. Foto: Nayra Halm/Estácio
Jota Quest. Foto: Juliana Dias
Jota Quest. Foto: Juliana Dias
Jota Quest. Foto: Juliana Dias
Jota Quest. Foto: Juliana Dias
O Grande Encontro. Foto: Juliana Dias
O Grande Encontro. Foto: Juliana Dias
Rock in Rio. Foto: Juliana Dias
Rock in Rio. Foto: Juliana Dias

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