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Tiradentes 2017: O áspero universo feminino de ‘Baronesa’

Baronesa. Foto: Divulgação

Baronesa. Foto: Divulgação

Amigas, vizinhas, confidentes. Andreia e Leid dividem seus espaços, seus sonhos e esperanças. Suas casas mal têm portas. Seus corações não têm censura. Andreia faz as contas para saber quanto dinheiro falta para terminar sua nova casa, na nova comunidade onde pretende morar. Já memorizou os preços das portas e janelas. Leid aguarda o dia em que os portões da cadeia se abrirão para que o marido possa voltar para casa. Seu filho deixa o cabelo crescer para vendê-lo e juntar algum dinheiro. Os meninos de ambas se soltam pelas vielas da favela mineira, se misturam, transitam com desenvoltura pela pobreza congênita e crônica.

Se portas, janelas e portões são elementos simbólicos constantes nas vidas das protagonistas, o longa “Baronesa”, exibido na noite desta segunda (23/01) dentro da mostra Aurora da 20ª Mostra de Cinema de Tiradentes, escancara outros portais cinematográficos: aqueles que separavam – ou pensavam separar – ficção e realidade. O filme chuta o balde e rompe o cadeado: Andreia Pereira de Sousa e Leidiane Ferreira interpretam a si mesmas, com seus próprios nomes? Revivem diante da câmera suas próprias vidas? Seguem o roteiro do roteirista ou reinterpretam o argumento de suas realidades? Resposta: não há a menor importância. Importa mesmo que, com direção hipnótica de Juliana Antunes, “Baronesa” exala verdade. Sufocadas por planos fechados, as realidades sufocantes dos membros daquela comunidade anseiam por liberdade e por dias melhores. Ou pelo menos por alguma saída. Mesmo que as letras das músicas que embalam o cotidiano dos protagonistas sinalizem que não existirá tal saída. Que tudo ali é o que se convencionou chamar de vida. Incluindo o medo e a falta de perspectivas.

Tijolos ásperos, sem acabamento, emolduram os enquadramentos igualmente rudes daquele dia-a-dia que não permite lapidações. Na linha da atual tendência (que não vire modinha passageira) do empoderamento feminino, Andréia tenta ganhar a vida pintando unhas, as mesmas unhas que ela terá de relar ao manipular o grosseiro cimento da casa que quer construir. Junto com a casa, quem sabe, viria a construção de um novo futuro. Mas o plano final sugere apenas uma continuidade infinita repetida nas novíssimas gerações. Tocante.

Celso Sabadin viajou a Tiradentes a convite da organização do evento.

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