Cinema

Notícias atualizadas sobre Cinema.

Vigoroso e perturbador, ‘Redemoinho’ vem para derrubar preconceitos

Redemoinho. Foto: Divulgação

Redemoinho. Foto: Divulgação

Existe uma tendência da crítica em torcer o nariz para filmes realizados por talentos televisivos. O argumento é que, em parte destes casos, o filme acaba ficando com “cara de televisão”, desagradando aos cinéfilos mais aficcionados pela tela grande. A argumentação não deixa de ter sua dose de razão, principalmente quando lembramos de Jayme Monjardim. Felizmente, porém, “Redemoinho” não segue esta escrita: o filme é, sim, criado por talentos televisivos, mas é cinema da melhor qualidade.

Com direção de José Luiz Villamarim e roteiro de George Moura, “Redemoinho” é a história de um perturbador reencontro. Ao voltar para casa após mais um dia de trabalho, no interior de Minas Gerais (mais precisamente em Cataguases, terra do cineasta Humberto Mauro, o que por si só já é uma homenagem ao cinema), o operário Luzimar (Irandhir Santos) encontra Gildo (Júlio Andrade). Ambos foram grandes amigos de infância, mas não se veem há muitos anos, desde a época em que Gildo foi tentar a vida em São Paulo. É véspera de Natal. O reencontro teria todos os elementos para ser alegre e festivo, mas imediatamente se percebe uma forte tensão parada no ar. Os olhares são transversos, as conversas são travadas e a tentativa de mútua cordialidade soa hipócrita. Há entre os antigos amigos uma simbiose mórbida, onde ambos parecem não se suportar, ao mesmo tempo em que não conseguem encerrar a falsidade daquele bizarro encontro. O álcool entra em cena, a noite parece não ter fim, e o clima de tragédia iminente é perturbador.

A concepção visual do filme acompanha o mistério que envolve os protagonistas. Tudo é velado, mostrado de forma indireta, coberto ou semicoberto por panos, cortinas, batentes de portas, venezianas. Os primeiros, segundos e até terceiros planos são elaborados com maestria, e a fotografia noturna de Walter Carvalho é um espetáculo a parte. Elementos como pontes, vigas, trilhos, tudo sempre muito metálico e frio, compõem um entorno que explode em dramaticidade quando se encontra com a chuva. Forte, torrencial e reveladora, que desaba naquela noite natalina como que querendo lavar os segredos e pecados do mundo. Ou, pelo menos, de Cataguases.

E enquanto os homens falam, bebem e brigam, as mulheres sofrem. A suposta força ativa dos personagens masculinos só faz encobrir o universo calado e sofrido de – todos – os personagens femininos, num microrretrato social brasileiro tão antigo quanto verdadeiro.

Uma estreia mais do que promissora de Villamarim no cinema, após mais de 20 anos de televisão, onde dirigiu as séries “Nada Será Como Antes” e “Justiça”, além de vários especiais e novelas. Em “Redemoinho” ele retoma a parceria de “O Canto da Sereia’, “Amores Roubados’ e “O Rebu” com o roteirista George Moura.

Baseado no livro “Inferno Provisório – O Mundo Inimigo Vol. II”, de Luiz Ruffato, “Redemoinho” ganhou o Prêmio Especial do Júri Oficial e o de Melhor Ator para Julio Andrade no Festival do Rio do ano passado.

Comentários

 




    gl