‘Maria – Não esqueça que eu venho dos trópicos’, o documento social de uma época

'Maria - Não esqueça que eu venho dos trópicos'. Foto: Divulgação

‘Maria – Não esqueça que eu venho dos trópicos’. Foto: Divulgação

Muito mais que um documentário sobre uma artista plástica, o longa “Maria – Não esqueça que eu venho dos trópicos” é um retrato afetivo e social de toda uma realidade brasileira. Dirigido por Francisco C. Martins e Elisa Gomes, o filme documenta a trajetória da escultora Maria Martins, o que numa leitura mais superficial poderia desinteressar o público que não se sente particularmente envolvido no mundo das artes. Mas ele vai além, levantando questões sobre como a busca de uma arte erotizada empreendida por uma mulher, nos distantes anos 40, teve o poder de pelo menos iniciar um movimento de ruptura daquelas rígidas estruturas sociais da época.

Maria era uma mulher dividida, praticamente assumindo horários e estilos de vida diferenciados – quase bipolares – ora para se expressar livremente como artista libertária, ora para se apresentar à hipocrisia da sociedade no comportado papel de esposa de embaixador.

Indiretamente o filme também questiona, talvez até inadvertidamente, o fato do mundo ocidental se curvar diante de uma arte totalmente produzida pelas elites dominantes, de forma totalmente alheia a produções culturais populares eternamente segregadas.

Tudo com um rico material de arquivo, pesquisa cuidadosa, e extrema elegância tanto na captação das imagens da obra de Maria, como na escolha da delicada trilha sonora. Um refinamento que proporciona um deliciosamente perturbador contraponto à urgência dos gritos eróticos da obra da escultora. Sem dar spoiler (sim, documentário também pode ter spoiler), fora tudo isso ainda há espaço para um belíssimo relato de um amor proibido.

A estreia foi nesta quinta, 16 de novembro.

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