‘Lou’ retrata o esplendor criativo de uma era
Sabe aquele clichê do filósofo sério e compenetrado, que passa a vida, digamos, filosofando taciturnamente? Esqueça. Um dos grandes méritos do filme “Lou” é exatamente desconstruir esta ideia, humanizando a figura do filósofo. E não um filósofo qualquer, mas Paul Rée e Friedrich Nietzsche, que – juntamente com o poeta Rainer Maria Rilke – caíram de amores pela escritora e psicanalista Lou Andreas-Salomé. É ela quem conta a história deste belo drama romântico-existencialista coproduzido por
Alemanha, Áustria, Itália e Suíça. E falado em alemão, claro, pois está provado que só é possível filosofar em alemão.
Tudo começa em 1933, quando Hitler assume o poder e faz de uma de suas primeiras bandeiras a reforma da previdência… oops… a queima de livros “decadentes” no julgamento dele. Assustada, Lou Andreas-Salomé, enfraquecida por uma forte diabetes, escreve uma carta de alerta ao seu amigo Sigmund Freud. E provavelmente antecipando seu fim, decide contratar um jovem escritor com bloqueio criativo para escrever suas memórias. Ou a parte que lhe interessa das suas memórias.
A partir daí o filme se desenvolve num belíssimo flash back que abordará nostalgicamente toda uma época de descobertas e pensamentos libertários, um desabrochar de século 20 no qual as ideias pululavam e as mentes fervilhavam, onde as teorias filosóficas e psicológicas buscavam seus caminhos, e onde o papel da mulher engatinhava tentando encontrar seu direcionamento por entre uma espinhosa selva de comportamentos machistas.
A direção de Cordula Kalitz-Post (também coautora do roteiro e aqui estreando no longa de ficção) é sóbria e eficiente, dando conta do difícil recado de alinhavar tantas linhas de pensamentos filosóficos sem cair no discursivo nem no ininteligível, ao mesmo tempo em que dá vida verossímil aos diversos personagens. O detalhe da protagonista passeando virtualmente por entre antigos cartões postais é de rara delicadeza poética.
Com eficientes interpretações de todo o elenco (mesmo porque não deve ser nada fácil interpretar Nietzsche com aquele bigodão e manter um mínimo de respeitabilidade), “Lou” estreou nesta quinta-feira, 11 de janeiro.
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