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A força destrutiva de ‘Todo o dinheiro do mundo’

Todo o Dinheiro do Mundo. Foto: Divulgação

Todo o Dinheiro do Mundo. Foto: Divulgação

“Todo o Dinheiro do Mundo” é um filme que já nasce badalado. Pena que por um motivo que nada tem a ver com suas qualidades cinematográficas: trata-se do famoso longa que teve várias de suas cenas refilmadas para que seu ator principal – Kevin Spacey – acusado de assédio sexual – fosse substituído já aos 45 do segundo tempo, com o filme pronto. Os custos da refilmagem bateram a casa dos US$ 10 milhões, e Christopher Plummer, no lugar de Spacey, acabou por se tornar o ator mais velho a ser indicado ao Oscar, aos 88 anos de idade.

É assim que funcionam as coisas neste mundo estranho em que vivemos. O assédio vira o escândalo do momento, os sites e blogs adoram, os executivos de Hollywood aproveitam a oportunidade para alardear os custos adicionais, e ainda de quebra consegue-se uma daquelas “curiosidades” do Oscar que todo mundo corre pra divulgar. Tudo em louvor do Nosso Senhor do Mercado e da Nossa Senhora da Mídia.

Ah, e o filme? Sim, tem até um filme por trás disso tudo. E ele é eletrizante! A partir do livro de John Pearson, o roteirista David Scarpa (o mesmo da versão 2008 de “O Dia que a Terra Parou”) desenvolve a dramatização da história real do sequestro do neto de John Paul Getty, o homem mais rico do mundo na sua época. Sim, já vimos filmes de sequestro aos montes, e invariavelmente eles são hábeis em manipular com eficiência todas aquelas tensões que envolvem negociações para resgates, ameaças, telefonemas a serem interceptados, blefes, retaliações violentas, desesperos dos familiares e tudo o mais. “Todo o Dinheiro do Mundo” traz, sim, todos estes elementos. Mas se diferencia da média por abordar um outro viés das negociações: quando o dono do dinheiro é mais cruel e mais bandido que os próprios sequestradores.

Travestido de filme de ação, “Todo o Dinheiro do Mundo” é uma crítica feroz ao maior dos maiores males do mundo: a ganância infinita. É impulsionado por ela que o protagonista torna-se o fruto máximo do capitalismo sem limites, esta força destrutiva da sociedade que se impõe a qualquer outro valor humano, dizimando as relações humanas familiares e/ou de amizade. Mas que, ao contrário da força destrutiva da violência dos sequestradores, é incensada e endeusada pela maioria.

É o cinismo do poder do dinheiro, na verdade de “todo o dinheiro do mundo”, no fundo o grande vilão do filme. E da vida.

Dirigido com muita eficiência pelo mestre veterano Ridley Scott, “Todo o Dinheiro do Mundo” estreou em 1º de fevereiro.

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