Cinema

Notícias atualizadas sobre Cinema.

O ‘Deserto’ covarde e político de Cuarón

Filme "Deserto". Foto: Divulgação

Filme “Deserto”. Foto: Divulgação

Jonas Cuarón, corroteirista ao lado do pai, Alfonso, do premiado “Gravidade”, retoma o tema das situações extremas em “Deserto”, seu segundo longa com diretor (o primeiro, “Año Uña”, de 2007, não foi lançado no Brasil). O isolamento, o medo e a impotência diante de uma imensidão espacial continuam sendo os motores propulsores da história, mas desta vez o espaço físico é trocado pela imensidão – não menos ameaçadora – do deserto.

Praticamente de ação dramática única, “Deserto” mostra um grupo de refugiados mexicanos que tenta empreender a tão sonhada travessia para os Estados Unidos. Ilegais, eles se veem obrigados a enfrentar o calor, a aridez e as distâncias desérticas para perseguir a utopia de uma nova vida. O drama da empreitada ganha contornos ainda mais desesperadores com a presença de Sam (Jeffrey Dean Morgan), um caçador solitário que – munido de uma arma de alta precisão – se vê no direito “patriótico” de abater os mexicanos como se fossem moscas.

A caçada humana se desenvolve imersa em ódio e racismo, onde Sam usa e abusa do “seu direito” inalienável de fazer justiça com as próprias mãos, lição por ele bem aprendida, provavelmente, dos filmes truculentos da Era Reagan. “Bem-vindo à Terra da Liberdade”, diz ironicamente o caçador após abater covardemente sua primeira vítima, da mesma forma que Stallone Cobra, em 1986, exclamou “Você tem o direito de permanecer em silêncio” para um desafeto que, aos gritos, era por ele queimado vivo.

Injustiça, covardia, violência, racismo, desproporção total das forças em litígio… “Deserto” é o retrato microcósmico das relações entre EUA México, entre poderosos e oprimidos.

Os nomes dos personagens são ótimos. Se por um lado Sam evoca o icônico Tio Sam, símbolo dos Estados Unidos, o mexicano que tenta conduzir seu povo pelo deserto se chama Moisés (papel de Gael García Bernal). Nada por acaso.

Cinematograficamente, Cuarón júnior explora bem os amplos espaços do deserto e consegue criar um bom clima de tensão, ainda que seja estranho o fato dos diálogos enfatizarem o extremo calor da região, e ninguém suar durante a estafante caçada. Pequenos detalhes de produção que nãochegam a tirar os méritos desta boa denúncia política travestida de drama de cão. Destaque ainda para a eficiente trilha sonora do francês Woodkid.

Premiado pela crítica internacional do Festival de Toronto, “Deserto” estreou em 2 de novembro.

Comentários

 




    gl