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Império, Ilha e Tuiuti. E um pouco de Vila Isabel…

Império Serrano. Foto: Jeanine Gall

Império Serrano. Foto: Jeanine Gall

Escrevo na  terça-feira, ainda sob o impacto de dois eventos marcantes da última semana. Quarta-feira, o ensaio de rua da Unidos de Vila Isabel. Domingo, o início dos ensaios no sambódromo com Império Serrano, Paraíso do Tuiuti e União da Ilha do Governador.

IMG_20170117_113206_491Já participei de muitos ensaios de rua da Vila, minha escola, minha paixão no samba, na qual desfilo em sua bateria desde 1998. Há tempos que não me faço presente por conta da distância de Juiz de Fora até o Rio e, especialmente, por motivos de trabalho. Sendo assim, retornar a Avenida Boulevard Vinte e Oito de Setembro foi especial. Chegar cedo, tomar umas cervas com churrasquinho nas barraquinhas, jogar conversa fora com os amigos antigos, reconhecer personagens da escola, fazer novas amizades, discutir o carnaval 2017, aguçar lembranças.

Esse clima descontraído toma conta dos ensaios, também naqueles que começaram no sambódromo no último domingo. Há seriedade, evidente, mas o caráter lúdico sobressai, aflora e possibilita ao sambista realizar, descontraído, leve, seus melhores desejos: sambar, cantar e batucar. Esta é a essência do samba que, por vezes, fica prejudicada pela sisudez do jogo à vera.

A Vinte e Oito estava repleta de gente de todas as cores e camadas. Uma gringalhada sedenta de cerveja e cultura. Os moradores do bairro de Vila Isabel, dos prédios, do asfalto, dos morros. Gente de todo lugar. Como brilha intensamente a Zona Norte. Brilha e pulsa ao som dos tambores e outros pipocos.

Igor Sorriso brincou de cantar. Mestre Wallan e seus ritmistas brincaram de tocar. Passistas e toda a comunidade brincaram de sambar e ser Vila Isabel. E como é séria a brincadeira!

Veio o domingo. Estava ansioso, pois faria minha estreia como comentarista do SRzd. Cheguei cedo, driblei dois flanelinhas e parei o carro quase em frente ao Terreirão do Samba. Por ali já alguns componentes do Império Serrano, a cerveja, o churrasquinho, a conversa solta e o piratão dos sambas de 2017 a todo volume.

Ao entrar no Sambódromo procurei os colegas de cobertura que não conhecia. Fui carinhosamente recebido por Vera e toda a equipe. E logo me juntei aos amigos antigos de samba, carnaval e vida, João Paulo, Cláudio Francioni e Cadu. Também enviaram um paulista bom de samba, querido Alemão.

Vai começar a primeira escola, Império Serrano. O povo da Serra da Misericórdia na beira da pista. Dirigi-me a Sinfônica do Samba e encontrei um ídolo, Wilson das Neves. Ô sorte! Logo Mestre Gilmar fez a bateria subir e arrepiar o povo do setor 1. Muito bom ouvir o toque de caixa original da escola, bem executado, padronizado. Mas senti falta dos repiques e seu suingue. Andamento excepcional, a bateria, em média, manteve os 141 BPM até a Praça da Apoteose. “Meu quintal é maior do que o mundo”, Manoel de Barros, enredo nota 10, belo samba, excelente carro do som (que voz a de Marquinho Art’Samba!). Mas senti a escola cantar pouco. Tenho certeza que vai esquentar até 27 de fevereiro.

E lá veio Paraíso do Tuiuti. A escola trouxe um dos enredos mais aguardados para 2017, “Carnavaleidoscópio Tropifágico”, sobre o movimento do Tropicalismo, com sinopse deliciosa de Jack Vasconcelos. Pena que, a meu ver, o samba não tenha correspondido à expectativa. O enredo merecia um grande samba e não o temos. A escola veio bonita, enfeitada, brincalhona, colorida e leve. Seus componentes passaram cantando e bailando. O talentoso Mestre Ricardinho e sua Super Som estiveram muito bem. Uma bateria segura, afinações perfeitas, com alas de peças leves excepcionais (que cuícas!). Mantiveram um bom andamento, na casa de 144 BPM. Repiques dando aquele molho ao ritmo, mas percebi nas caixas de guerra ritmistas executando batidas muito diferentes umas das outras, meu único porém, fácil de acertar até o desfile oficial.

Já passava das 22 horas quando chegou a União da Ilha do Governador. E chegou chegando com uma bonita alegoria posicionada no setor 1 e o impressionante carisma de Ito Melodia. Um enredo de origem africana maravilhoso “Nzara Ndembu – Glória ao Senhor do Tempo” deu origem a um dos mais belos sambas de 2017.

Aqui faço pequena pausa na narrativa descritiva para comentar algo que tem me incomodado em análises sobre o samba da Ilha, a ideia de que seus versos possuem demasiadas palavras difíceis de entender e cantar. Já pararam para pensar no caráter pedagógico de uma obra de arte? A falta de entendimento ou a tal dificuldade podem impulsionar as pessoas à busca de conhecimento. E trata-se de um preconceito afirmar que os indivíduos não serão capazes de julgar ou cantar as palavras fora do nosso idioma. E como cantaram os desfilantes da Ilha do Governador, tapa de luvas em quem criticou o samba. A Ilha mandou um recado e virá com muita força este ano.

Merece um novo parágrafo a bateria da Ilha. Nota 12. Gostei de tudo. Mestre Ciça e seus diretores fizeram um grande trabalho. Destaco, assim como registrei para o Império Serrano, o resgate da batida de caixa original da escola. Afinações perfeitas até o final da Marquês, excelentes tamborins, lindo desenho dos agogôs e uma ala da atabaques que será uma das sensações da Sapucaí. E ainda, para surpresa de muitos, andamento da Baterilha: 144 BPM. Muito bom!

Depois de tudo isso, nossa equipe ainda teve fôlego para gravar um vídeo-resumo dos treinos do dia com a participação de Serginho, diretor de bateria da Ilha. Assista a partir deste link.

Bebi um refrigerante, dois cafés, comi um saco de pipoca e dirigi por 160 km até a Princesa de Minas.

Até o próximo domingo!

Ô sorte!

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