Liga da Justiça perde luta contra Vingadores

Liga da Justiça. Foto: Divulgação

Liga da Justiça. Foto: Divulgação

Passado o primeiro fim de semana de estreia de Liga da Justiça, já é possível termos algumas opiniões sobre o futuro do Universo Estendido DC.

Antes de tudo, vamos falar logo de alguns SPOILERS. Se não viu o filme, pare sua leitura aqui.
Liga da Justiça estreou nesta última quinta (16) com algumas pré-estreias importantes em dias anteriores, como as organizadas por nós, da Cabana do Leitor (Obrigado, Warner e Espaço Z Assessoria). Mas, neste início de exibição, podemos dizer que as coisas não vão indo muito bem para Superman e Cia.

O filme tem a menor estreia de um filme da DCEU nos EUA. Sua bilheteria americana foi de US$ 94 milhões, e não os esperados US$ 100 a 120 milhões. Como já dito por nós do CDL, Batman Vs Superman obteve US$ 166 milhões durante seu fim de semana de abertura, já o mais renomado dos filmes do DCEU, Mulher-Maravilha, fez US$ 103,3 milhões. Resumindo, Liga da Justiça é a pior estreia da DC nos cinemas. E isso, pra Warner, com certeza não parece nada bom. Nem é necessário dizer que os números nem se aproximam de Thor: Ragnarok, com seus US$ 122 milhões. E se formos comparar com Os Vingadores, de 2012, os números chegam a ser até covardia. Naquela época, Tony Stark e sua turma arrecadaram US$ 204.7 milhões, se transformando na maior bilheteria de abertura da época. A própria continuação dos Vingadores arrecadou US$ 191,3 milhões em 2015.

Mas, por que isso acontece? Liga da Justiça é ruim? Chato? Universo cósmico sem graça?

Não! Definitivamente não!

Liga da Justiça. Foto: Divulgação
Liga da Justiça. Foto: Divulgação

O começo da história com referências à Lanterna Verde e Shazam, além das amazonas e atlantes, com certeza fez muito fã urrar. O humor inteligente do filme também foi bem dosado e a química dos atores foi bem bacana. O filme é bom, legal, massssss…é muito pouco.

Então o que pode ter ocasionado tanto desprezo por parte do grande público até o momento?

Bom, pra tentarmos elucidar isso, vamos ter que voltar no tempo um pouco. Algo antes até da criação do Universo Estendido da DC. Vamos voltar à mente de Zack Snyder, que desde sua primeira adaptação dos quadrinhos DC, 300 (2007), de Frank Miller e Watchmen (2009), de Alan Moore, vem redefinindo com sua estética essa franquia nos cinemas.

Snyder planejou a Liga desde O Homem de Aço, de 2013. E tinha seu próprio estilo pra isso: soturno, diferenciado, pesado. A confirmação dessa veia artística veio em 2016 com seu esperado Batman Vs Superman: A Origem da Justiça. Sua produção em Esquadrão Suicida, de 2016, ajudou a organizar o que viria depois. As bilheterias até foram satisfatórias, apesar de aquém das expectativas. No entanto, a crítica achou tudo muito sombrio e pretensioso e os fãs se dividiram.

Toda essa seriedade, diante do sucesso da rival Marvel com seus variados heróis e obras mais divertidas, levaram a Warner/DC entregar uma nova fórmula. E ela veio num inesperado Mulher-Maravilha. A mudança havia começado. Mesmo assim, Liga da Justiça iniciou sua produção antes da estreia da heroína, de modo que foi necessário uma tragédia, o suicídio da filha do diretor Zack Snyder, para a Warner/DC trocar a condução do filme em sua reta final.

E é aí onde começam as inevitáveis comparações com a Marvel. Afinal, para substituir Snyder, foi convocado Joss Whedon, escritor e diretor dos dois filmes dos Vingadores, simplesmente a produção de super-heróis mais bem-sucedida de todos os tempos.

Assim sendo, com visões diferentes de diretores diferentes, Liga da Justiça chegou também diferente do pensado originalmente.

Um dos muitos paralelos entre Liga da Justiça e Os Vingadores é a estrutura do roteiro onde a temática é a mesma: heróis que se unem contra um exército alienígena. Mas se Os Vingadores tinham Loki, representado pelo maravilhoso Tom Hiddleston, Liga da Justiça apresenta o Lobo da Estepe, a versão contemporânea do Senhor das Trevas de Tim Curry, do clássico da Sessão da Tarde, A Lenda (1985).
Aliás, ao falar do Lobo da Estepe, podemos começar a apontar sobre os erros grotescos dos efeitos especiais. Sim, pois mesmo com um orçamento em torno de uns US$ 300 milhões, grande parte deles parecem feitos em casa. Vamos citar só o mais claro? O tal bigode do Superman.

Quando as refilmagens por conta da troca de diretores começaram, o ator Henry Cavill estava filmando Missão Impossível 6 e reapareceu com um tremendo bigodão. Como era impedido contratualmente de cortá-lo enquanto não terminasse MI6, Cavill precisou cobri-los por efeitos o que gerou diversos memes devido às deformações visíveis em sua boca. E percebemos logo na primeira cena onde o espectador fica com a impressão de estar com as lentes dos óculos embaçadas. E quando nos lembramos do quanto a Marvel consegue rejuvenescer atores como Michael Douglas no filme Homem-Formiga (2015) ou Robert Downey Jr. em Capitão América: Guerra Civil (2016), sem contar nos seriados de TV (Agents Of Shield), fica evidente que a Warner/DC está sim muitos degraus abaixo.

Liga da Justiça. Foto: Divulgação
Liga da Justiça. Foto: Divulgação

Mas, voltando a falar da estrutura narrativa, outra comparação: o Universo Cinematográfico Marvel foi construído a partir de Homem de Ferro 1 & 2 (2008-2010), O Incrível Hulk (2008), Thor (2011) e Capitão América: O Primeiro Vingador (2011) para culminar, em 2012, na junção de todos no já citado Os Vingadores. Houve uma intenção clara de criar um elo de empatia e entendimento entre público e personagens num processo que durou 4 anos. Já o Universo Estendido DC, nos mesmos 4 anos, só focou em Superman, Batman e Mulher-Maravilha até chegar em sua Liga da Justiça que ainda tinha Aquaman, Ciborgue e Flash.

Resultado? Um filme com uma trama apressada onde os outros heróis não são apresentados corretamente. Isso sem falar nos coadjuvantes de luxo sub-aproveitados por simples força de contrato como Amy Adams (Lois Lane), Diane Lane (Martha Kent), Connie Nielsen (Rainha Hippolyta), Joe Morton (Dr. Silas Stone), J.K. Simmons (Comissário Gordon), Billy Crudup (Dr. Henry Allen) e Amber Heard (Mera). Nesse quesito, a única exceção é o Alfred de Jeremy Irons. Fabuloso!

Outro fator importante tem a ver com o Superman de Henry Cavill. Mesmo diante das inúmeras entrevistas de Cavill sobre o papel, o herói não apareceu em nenhum trailer oficial e toda a presença do personagem era tratada como spoiler. Um marketing meio desnecessário quando TODO MUNDO sabia que o Superman retornaria. E a forma como ele volta é ainda mais constrangedora. Batman decide usar a Caixa Materna (o Tesseract da vez) e o poder da nave kryptoniana para trazê-lo de volta à vida.

Os outros heróis não curtem a ideia com medo de Clark atacar a equipe, mas, Bruce continua com a ideia.

O medo se confirma com o Super atacando todos e até ameaçando o Batman com a mesma frase que ele disse no filme Batman Vs Superman: “Você sangra?” ( Eles não tinham virado amigos?). E na hora onde todos estão meio detonados, surge Lois Lane e o Superman se transforma de leão furioso a gatinho manso.

Foi uma mudança meio nada a ver onde ninguém sequer explica o que realmente ocorreu com ele.

Quem já leu como o Superman retorna sabe que seu corpo é como uma bateria, precisa da luz solar quando exaurido por completo. Não era difícil ter colocado tal explicação nessa história incluindo o tal uniforme negro e os robozinhos kriptonianos (Que estavam no filme). Detalhe: Na época das filmagens, surgiram imagens do próprio Henry Cavill com a roupa solar. Uma pena, pois o retorno triunfal de Clark seria épico no meio da batalha final.

Mas, apesar disso, temos coisas boas a falar como a incrível química dos atores.

O Aquaman de Jason Momoa tem um toque diferenciado ao ser apresentado como um beberrão mal-humorado. Forte e com ótimas sequências.

Ezra Miller também está legal com o seu Flash. O único problema é ter sido ele o escolhido pra ser o alívio cômico porque ele é Barry Allen, uma versão mais séria do herói e não Wally West, o engraçadinho da turma como é no desenho da Liga da Justiça.

O Ciborgue de Ray Fischer é bom também, mas apesar de ser o que tem uma ‘origem’ melhor mostrada, sua armadura e movimentos lembram demais um certo ‘Homem de Ferro’.

Ben Affleck está mais à vontade como Batman. Seu personagem está com uma diferença de característica, mas nada que o desaprove. Ele ainda é sisudo, preocupado, sombrio, porém o ar leve de ‘mais um brother nessa turma’ passa uma sensação muito agradável. Quem torcia o nariz para o ator na composição do icônico herói deve ter se arrependido.

Mas, sim, a sensação, a alma do filme ainda é ela: Gal Gadot e sua incrível Mulher-Maravilha. A atriz israelense é tão carismática, sua heroína é tão perfeita que seria impossível HOJE ela não ser a líder da Liga. Ela é a personificação impressionante do imaginário coletivo. E a Mulher-Maravilha arrebenta em cena também com poderosas cenas de luta.

Liga da Justiça. Foto: Divulgação
Liga da Justiça. Foto: Divulgação

Mas, se a química dos atores principais é super válida não se pode dizer o mesmo do vilão Lobo da Estepe. Ciarán Hinds (o Mance Rayder de Game Of Thrones) interpreta o comandante de um exército de parademônios que está na Terra em busca das Caixas Maternas com a frágil e célebre motivação de destruir a Terra. Simples e vazia é essa a interpretação mesmo. Mas mesmo detonando tudo por onde passa, o Lobo não assusta ninguém. Seu poder se limita a juntar as caixas e heróis em seu encalço. Seu rastro de destruição nem chega perto de Zod no filme do Homem de Aço ou dos Chitauri de Vingadores.

E o pior: nem se imagina o porquê dele querer dizimar tudo, se por conta própria, por Darkseid, sei lá, não há confirmação. Snyder ou Whedon não explicaram se ele está utilizando o poder das caixas para trazer o grande vilão da DC para essa realidade ou não. Até porque Darkseid sequer aparece. Nem temos um gostinho. Até na suposta morte do Lobo, pensamos poder ver um Feixe Ômega aqui ou uma Vovó Bondade ali. Nada. Segundo rumores, a ideia existia, mas Joss Whedon cortou Darkseid completamente. Deixemos pra próxima então.

Liga da Justiça. Foto: Divulgação
Liga da Justiça. Foto: Divulgação

Ou não também, visto que nas cenas pós-créditos (duas), aparece Lex Luthor (Jesse Eisenberg) escapando da prisão e se reunindo com o Exterminador (Joe Manganiello) cogitando formar uma ‘Liga do Mal’. Algo bem Superamigos, aquele desenho que passava no Balão Mágico, na Xuxa, nos anos 80, lembram? É bem por aí. Aliás, só o fato de existirem cenas pós-créditos na DCEU, algo obrigatório no UCM, já percebemos a urgência de ser acertar na Warner.

E pra colocar a pá de cal, surgiu essa semana que a causa do problema do filme partiu do CEO da Warner, Kevin Tsujihara. Segundo jornalistas renomados dos EUA, Tsujihara havia determinado que a Liga da Justiça tivesse menos de duas horas. O que explica os notáveis cortes de cena do filme e essa confusão toda. Mas pra isso, não se preocupem que logo, logo aparecerá uma versão ‘Director’s Cut’.

Pra finalizar, Liga da Justiça é um bom filme, vai divertir, mas é também uma aventura simplória que nasceu para juntar os heróis mais conhecidos da DC e bater de frente com o supergrupo da Marvel. O problema é que eles não dariam dentro.

Seus bastidores caóticos atrapalharam e a Warner/DC vai ter que aprender a lida com o sucesso da Disney/Marvel. E é triste porque com um plantel de super-heróis mais populares que os da rival, tinham obrigação de saber produzir filmes melhores e mais completos. Mas a realidade é que até heróis B como Thor ou C como Guardiões da Galáxia e Homem-Formiga se saem melhor com crítica e público que sua turma classe A da nona arte. Em resumo: você assiste Liga da Justiça e não sai do cinema com a mesma sensação ao ver Os Vingadores em 2012. Principalmente após as cenas pós-créditos.

Resta agora saber como irão seguir em frente. Há possibilidades, há caminhos, há tempo, mas é preciso não só demonstrar competência como ter também a calma de executar bem seus projetos. Aos fãs, resta o S da Esperança de seu amado Superman.

Liga da Justiça. Foto: Divulgação
Liga da Justiça. Foto: Divulgação

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