Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

‘Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi’: Mary J. Blige é o destaque do longa de Dee Rees

Mary J. Blige está concorrendo ao Oscar de melhor atriz coadjuvante por “Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi” (Foto: Divulgação).

Baseado na obra homônima de Hillary Jordan, “Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi” (Mudbound – 2017) chega às salas de exibição brasileiras nesta quinta-feira, dia 15. Com direção e produção executiva de Dee Rees, o longa apresenta ao público a barbárie causada pela cultura segregacionista no sul dos Estados Unidos nos anos 1940.

 

Conduzido com competência por Rees, o drama começa no período pós-Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945) mostrando os irmãos Henry (Jason Clarke) e Jamie (Garrett Hedlund) cavando a sepultura de seu pai na fazenda onde moram. A partir daí, a história pregressa dos dois é contada por meio de flashbacks, bem como a da família Jackson, que trabalha no local. Interligadas, as trajetórias são narradas pelos próprios personagens, concedendo ao espectador diferentes pontos de vista acerca de problemas sociais, machismo e racismo. Este último, fazendo uma comparação interessante ao apresentar sem rodeios os tratamentos distintos conferidos aos negros nos Estados Unidos e na Europa, onde foram recebidos como heróis de guerra que ajudaram a derrotar Adolf Hitler e seu exército. Em meio a isto, o longa também conta a história de amor reprimida de Jamie e sua cunhada, Laura (Carey Mulligan), cada vez mais solitária e infeliz na fazenda comprada pelo marido no Mississippi aterrorizado pela Ku Klux Klan (KKK).

 

Favorecido pela montagem impecável de Mako Kamitsuna e pela coerência do roteiro assinado por Rees e Virgil Williams, “Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi” trabalha muito bem as diferentes personalidades de seus personagens, ressaltando a dignidade tanto dos negros quanto dos poucos brancos que os ajudam num Mississippi intolerante. E a coragem para ajudá-los chega a um alto preço, pois os coloca na mira dos integrantes da KKK.

 

Garrett Hedlund e Jason Mitchell vivem personagens marcados pelo horror da Segunda Guerra Mundial e também da KKK (Foto: Divulgação).

 

Outro mérito do longa é a escalação do elenco, completamente entrosado. Neste ponto, destacam-se Mulligan e Hedlung, responsáveis pela dose de humanidade num ambiente corrompido pelo ódio racial. No entanto, é uma coadjuvante que começou a carreira na indústria fonográfica quem realmente se destaca e ofusca seus colegas a cada cena: Mary J. Blige (Florence). Indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante, Blige explora com propriedade os sentimentos de sua personagem, uma mulher forte, mas amedrontada, que deseja uma vida melhor para seus filhos, preocupando-se principalmente com Ronsel (Jason Mitchell), que tem dificuldades de adaptação após voltar dos campos de batalhas europeus, tal qual Jamie.

 

Apesar de não aprofundar suficientemente questões como o estresse pós-traumático de Jamie e Ronsel e o perigo representado pela KKK, “Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi” é um filme sobre o horror causado pela ignorância que alimenta o preconceito racial, um mal que ainda assola a sociedade como um todo, apresentando o amor e o respeito como elementos importantes para a sobrevivência do indivíduo.

 

*Indicado a quatro estatuetas do Oscar: melhor atriz coadjuvante para Mary J. Blige, roteiro adaptado para Dee Rees e Virgil Williams, fotografia para Rachel Morrison e canção original (“Mighty River”) para Blige, Raphael Saadiq e Taura Stinson.

 

Leia mais:

Oscar 2018: ‘A Forma da Água’ lidera com 13 indicações

 

Assista ao trailer oficial legendado:

Comentários

 




    gl