Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

‘Moonlight: Sob a Luz do Luar’: população à margem do american way of life

Mahershala Ali e Alex R. Hibbert têm química de sobra em cena (Foto: Divulgação).

Um menino negro numa das regiões mais pobres de Miami, Liberty City, exposto à dependência química da mãe, ao bullying dos colegas de colégio e à homofobia, tendo como figura paterna um traficante de drogas da região, Blue, que lhe ensinou não somente a andar de bicicleta e nadar, mas a compreender sua sexualidade. Essa é a história de Tarell Alvin McCraney, o atual presidente da Yale School of Drama e autor de “In Moonlight Black Boys Look Blue”, peça que inspirou “Moonlight: Sob a Luz do Luar” (Moonlight – 2016), uma das estreias desta quinta-feira, dia 23.

 

Uma espécie de autobiografia, a peça escrita durante o curso de pós-graduação na Yale University ficou engavetada durante uma década, até que um colega com quem já havia trabalhado num projeto de cinema decidiu mostra-la a Barry Jenkins. Assim como o autor, o cineasta cresceu em Liberty City e precisou lidar com a dependência química da mãe, também nos anos de 1980, e isso despertou seu interesse no projeto.

 

Com produção-executiva de Brad Pitt e dirigido e roteirizado por Jenkins, este longa apresenta seu protagonista, Chiron, em três fases distintas: infância (Alex R. Hibbert), adolescência (Ashton Sanders) e adulta (Trevante Rhodes), sempre de forma introspectiva, tentando entender sua sexualidade e encontrar o seu lugar num mundo hostil.

 

Jharrel Jerome e Ashton Sanders em cena (Foto: Divulgação).

 

Marcados por sequências duras, os dois primeiros atos, baseados na obra original, conseguem exprimir com muita competência a realidade de Chiron, bem como de Liberty City. Mas a brutalidade dá lugar à poesia no terceiro ato, criado por Jenkins, que traz à tona o amor puro e reprimido pelo trauma causado não apenas pela homofobia, mas pela violência física e psicológica.

 

“Moonlight: Sob a Luz do Luar” aborda preconceito racial e homoafetividade com muito respeito para com as histórias de seus personagens, saindo da zona de conforto proporcionada por estereótipos e clichês para apostar na complexidade de cada um deles. Mérito do roteiro bem estruturado e desenvolvido com esmero, facilitando o trabalho do elenco que assimila com muita facilidade as características de seus respectivos personagens e fases.

 

Trevante Rhodes vive Chiron na fase adulta (Foto: Divulgação).

 

Dentre os atores, há dois grandes destaques cuja interação é totalmente perceptível: Alex R. Hibbert, que surge com uma força cênica impressionante como o menino que não entende o porquê de tanta perseguição e humilhação, e Mahershala Ali como Juan, o traficante que se identifica com o sofrimento do pequeno Chiron e decide ajuda-lo, mostrando um lado tenro na relação com o menino.

 

Com uma trilha sonora bastante eclética, “Moonlight: Sob a Luz do Luar” é o retrato de uma parte da sociedade que vive à margem do “american way of life”. Mesmo perdendo um pouco de sua força na parte final, o longa funciona por levar para as telas temas difíceis, sobretudo para uma plateia conservadora, de forma delicada e ao mesmo tempo dolorosa.

 

*Indicado a oito estatuetas do Oscar: melhor filme, direção para Barry Jenkins, ator coadjuvante para Mahershala Ali, atriz coadjuvante para Naomie Harris, roteiro adaptado para Jenkins e Tarell Alvin McCraney, fotografia, edição e trilha sonora original.

 

Assista ao trailer oficial:

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