Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

‘Batman O Retorno’ completa 25 anos

Michael Keaton interpretou o herói da DC em “Batman” e “Batman O Retorno” (Foto: Divulgação).

Considerado a primeira tentativa da DC/Warner de levar para as telas uma personagem feminina forte, “Mulher-Maravilha” (Wonder Woman – 2017) segue em cartaz em salas de cinema mundo afora e já arrecadou mais de US$ 656 milhões em bilheterias. No entanto, esta não é a primeira personagem dos quadrinhos a arrebatar as plateias. Há 25 anos, Selina Kyle / Mulher-Gato (Michelle Pfeiffer) invadia a telona esbanjando coragem, sensualidade e vilania em “Batman O Retorno” (Batman Returns – 1992).

 

Lançado no mercado americano em 19 de junho de 1992 e no brasileiro em 03 de julho do mesmo ano, a segunda aventura do Homem-Morcego dirigida por Tim Burton e protagonizada por Michael Keaton (Bruce Wayne / Batman) faz parte da memória afetiva dos baixinhos e adolescentes dos anos 1990, uma época em que filmes de super-heróis não eram frequentes – ao menos, não com a qualidade atual.

 

Michelle Pfeiffer surgiu como Mulher-Gato esbanjando sensualidade e vilania (Foto: Divulgação).

 

Ao contrário da trilogia de Christopher Nolan – composta por “Batman Begins” (Idem – 2005), “Batman: O Cavaleiro das Trevas” (The Dark Knight – 2008) e “Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge” (The Dark Knight Rises – 2012) –, os dois longas de Burton são voltados para o público de todas as idades, tal qual acontece com os filmes da Marvel produzidos pela Disney, como os da franquia “Os Vingadores” (The Avengers – iniciada em 2012). Isto possibilitou um contato maior com o personagem, sobretudo pela fatia que não era habituada à leitura de quadrinhos.

 

Mantendo a atmosfera sombria de “Batman” (Idem – 1989), cujo visual bebe diretamente da fonte do Expressionismo Alemão, “Batman O Retorno” mostra a Gangue do Circo aterrorizando Gotham. Liderada por Oswald Cobblepot / Pinguim (Danny DeVito), a gangue tem como QG os esgotos da cidade, mais especificamente na região do Zoológico Ártico. Mas os crimes cometidos por Pinguim e seus comparsas chamam a atenção de Wayne, sempre a postos para defender Gotham e seus habitantes sob a armadura de Batman, sem saber que uma nova ameaça está surgindo: a Mulher-Gato.

 

Utilizando recursos de computação gráfica sem abuso, vide a cena de Pfeiffer com um passarinho na boca, totalmente real, esta produção sofreu adaptações em sua trama no decorrer das leituras de roteiro e das filmagens, como explicou o roteirista Daniel Waters em entrevista recente ao The Hollywood Reporter.

 

“Minha versão do roteiro tinha mais falas de Batman e Bruce Wayne. Michael Keaton lia o roteiro e dizia, ‘Essa fala é ótima, mas você precisa cortá-la. Esse discurso é bom, mas você precisa retirá-lo’. Ele queria o mínimo diálogo, especialmente no traje do Batman. Quando assisti a versão final do filme, percebi que ele estava exatamente certo”, disse o roteirista.

 

Na verdade, Michael Keaton queria deixar o traje do Homem-Morcego falar por si só – o ator fez algo parecido em “Os Fantasmas se Divertem” (Beetlejuice – 1988) após conversar com Tim Burton e pedir total liberdade para compor seu personagem, transformando o longa numa comédia de humor negro. “Uma vez que percebi o quão poderoso era o traje em termos de imagem na tela, eu apenas usei”, afirmou o ator também em entrevista ao The Hollywood Reporter, explicando, ainda, que o figurino continha falhas em sua confecção, impedindo-o de mover o pescoço. “Eu cheguei fazendo movimentos maiores, mais ousados e mais fortes do torso, e isso funcionou”, completou o ator que volta ao universo dos quadrinhos na próxima quinta-feira, dia 06, como o vilão Adrian Toomes / Abutre em “Homem-Aranha: De Volta ao Lar” (Spider-Man: Homecoming – 2017).

 

Orçado em US$ 80 milhões e com aproximadamente US$ 282 milhões arrecadados em bilheterias de todo o mundo, o longa obteve a aprovação do público, mas suas filmagens foram conturbadas; pois o clima nos sets era não apenas de total sigilo, como também de tensão e desconfiança. Isto porque o estúdio estava sofrendo pressão e começava a pensar em algo mais pop e colorido para o terceiro filme da franquia, “Batman Eternamente” (Batman Forever – 1995).

 

Danny DeVitto e Michael Keaton em cena (Foto: Divulgação).

 

“Na época do primeiro ‘Batman’, você nunca tinha ouvido a palavra franquia. No segundo, você começou a ouvir essa palavra. No segundo, começamos a receber comentários do McDonald’s como, ‘O que é esse negócio preto saindo da boca do Pinguim?’. Então, as pessoas estavam começando a pensar nesses filmes em termos de marketing. Esse é o novo pedido mundial”, relembrou Tim Burton ao The Hollywood Reporter.

 

Mais subestimado dentre todos os filmes já produzidos com o Homem-Morcego, “Batman O Retorno” vai além do entretenimento para abordar com perspicácia a atração dos opostos (Batman e Mulher-Gato) e fazer uma crítica direta à hipocrisia inerente a políticos que utilizam suas histórias pregressas para engambelar o povo, conquistando seus votos, apoiados por empresários inescrupulosos, personificado, aqui, na figura de Max Shreck (Christopher Walken). É o último grande filme de herói dos anos 1980 e 1990.

 

A derrocada colorida e a pá de cal com “Batman & Robin”

 

É impossível falar sobre a tensão nos bastidores de “Batman O Retorno” sem citar a saída de Michael Keaton da franquia por discordar do roteiro do terceiro longa, cuja essência foi completamente modificada como consequência dos novos rumos que a Warner traçava para a série, já sem Tim Burton na cadeira de diretor. Assim, Joel Schumacher assumiu o comando e fez exatamente o que o estúdio queria: transformou “Batman Eternamente” e “Batman & Robin” (Idem – 1997), protagonizados, respectivamente, por Val Kilmer e George Clooney.

 

Alicia Silverstone (Batgirl), George Clooney (Batman) e Chris O’Donnell (Robin) no fiasco “Batman & Robin” (Foto: Divulgação).

 

Com tramas inconsistentes, os filmes apresentam um visual pop e poluído que peca pelo excesso, sobretudo de cores, colocando em xeque o potencial de Batman na tela grande. Mas, para a sorte do cineasta, a culpa dos resultados desastrosos recaiu sobre George Clooney. À época um ator de TV que tentava conquistar o seu espaço no cinema, Clooney não é o responsável pela pá de cal em “Batman”. Pelo contrário, o ator fez o que pôde diante de uma trama risível e mal construída cujos vilões são Dra. Pamela Isley / Poison Ivy (Uma Thurman) e Dr. Victor Fries / Mr. Freeze (Arnold Schwarzenegger).

 

Completando 20 anos, “Batman & Robin” foi uma tentativa frustrada da DC/Warner de levar para as telas uma heroína que pudesse dividir com Batman (Clooney) e Robin (Chris O’Donnell) a vigilância de Gotham. E, para viver a Batgirl, o estúdio escalou um rosto conhecido e adorado pelos jovens da época: Alicia Silverstone, a eterna patricinha de Beverly Hills que brilhava não apenas no cinema, mas também na MTV com os videoclipes do Aerosmith (“Cryin’”, “Crazy” e “Amazing”).

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