Vai, Vai, Vai; Gilberto Gil ganha ‘aquele abraço’ em homenagem no Anhembi

Gilberto Gil. Foto: SRzd – Cláudio L. Costa

O sábado mais “pesado” dos últimos anos teve em seu cardápio a mais popular escola de samba da cidade, a Vai-Vai.

A alvinegra foi a quarta a desfilar no sambódromo do Anhembi na madrugada deste domingo (11), pelo Grupo Especial paulistano.

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Esta “senhora”, de quase 90 anos, leva consigo a alcunha de “Escola do Povo”. Com toda a razão. Como explicar a força da Vai-Vai?

Essência mantida através de décadas. Preta e branca, como a origem de sua gente.

Sediada num dos mais italianos bairros da capital, o Bixiga, é produto da mistura do branco imigrante com o negro enraizado na região central. Não perdeu sua essência e enfrentou as transformações do concurso.

Talvez seja a única agremiação, que em qualquer temporada, diante de qualquer adversidade, consiga ser competitiva. Isso lhe fez ser a dona da maior galeria de troféus da folia na “Terra da Garoa”. A Vai-Vai continua nas ruas e novamente apostou numa personalidade e na negritude.

O desfile alvinegro teve novidades.

A primeira delas a aparecer na pista veio na comissão de frente, coreografada por Thiago Chodrawi, estreando na escola.

Cheia de elementos visuais, contou com apoio de tripé com direito a telão reproduzindo imagens ilustrativas da encenação intitulada como; a fé, esperança do povo. Telão que na passagem pelo setor H, bem próximo a uma das cabines de jurados do quesito, teve problemas na exibição das cenas.

Tradição pura.

Numa escola como o Vai-Vai, esse elemento é parte obrigatória quando o assunto é o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira.

Pingo e Paula.

Pingo ingressou no quadro de casais em 2001. Aos poucos, foi ganhando espaço pela execução, com maestria, do seu trabalho de dança. Garoto de fácil comunicação, não demorou para ser reconhecido. Em 2006, assumiu a defesa do primeiro pavilhão e não deixou mais o cargo.

Paula exala emoção quando está incorporada por esta nobre figura da escola de samba. Nasceu na Bela Vista, foi porta-bandeira mirim e segunda até 2006, quando assumiu o pavilhão de tantas glórias.

Em 2017 conseguiram três notas máximas e um 9,9. Nesta noite, foram novamente brilhantes, montados num figurino dos mais luxuosos e bem resolvidos dos desfiles, até o momento.

Alexandre Louzada, Chico Spinosa, Junior Shall, Delmo de Moraes e André Marins, foram confirmados como o quinteto de carnavalescos. No meio do percurso, porém, uma baixa, com o desligamento de André Marins.

Na Avenida, os remanescentes da comissão de Carnaval contaram a vida e obra de Gilberto Gil.

Ao 75 anos, este soteropolitano iniciou sua carreira artística na década de sessenta, eternizando clássicos da música popular brasileira protagonizando importantes movimentos desta arte. Acumulou diversas premiações, entre elas, o Grammy e Grammy Latino. Sua atuação social foi reconhecida pela Unesco, nos anos noventa, ao ser nomeado o “Artista pela Paz”.

Mas não foram apenas seus disco e shows que o consagraram como um dos grandes artistas do país. Gil se destacou também por sua militância política. Preso pelo regime militar brasileiro, em 1969, foi para exílio, em Londres, retornando apenas em 1972.

Ainda elegeu-se vereador da capital da Bahia, em 1990, e foi Ministro da Cultura do governo Lula, entre 2003 e 2008. Em mais de cinquenta álbuns lançados testou toda a gama eclética de suas influências, incluindo o rock, gêneros regionais, a música africana e o reggae.

Com uma “cabeceira” impactante e grandiosa, com destaque para seu seu abre-alas, um dos maiores e mais bonitos da noite, foi original e auto-explicativa nos elementos visuais, tanto nos carros, quanto nos figurinos. Não foi luxuosa, até pelo fato do enredo não pedir, mas foi clara na mensagem.

Se há uma bateria que não cedeu às imposições da “modernidade” dos desfiles, foi a de mestre Tadeu.

Certamente, uma das poucas que, assim que começa a tocar, os ouvidos identificam que lá vem a “Pegada de Macaco”. Uma batucada de respeito, com um rainha de mesmo adjetivo. Camila Silva, atual campeã do troféu SRzd na categoria, foi novamente um estouro na pista.

Sempre primando pela tradição no ritmo, a bateria da Saracura arriscou paradinhas, bem executadas e que mexeram com o povão nas arquibancadas.

A ala musical foi alvo de inúmeras mudanças ao longo do planejamento da Vai-Vai e um dos temas bem comentados do pré-Carnaval.

Em outubro passado, houve a saída de Wantuir Oliveira, antes mesmo de sua reestreia para a qual foi contratado, e que aconteceria em 2018. Em seguida, foi a vez de Afonsinho partir. Na contramão das despedidas, chegaram os cantores Belo, Bico Doce e, mais a frente, Charlie Diéf. O time de canto alvinegro estava, então, definido sob comando da voz feminina de Grazzi Brasil. Mas a poucos dias do início da temporada de ensaios técnicos, chegou Gilsinho, para dividir o posto de oficial ao lado de Grazzi, que não segurou a emoção e foi às lágrimas ao final da exibição.

Muitos se falou sobre a montagem desse time, que ainda contou com a competência de outra voz feminina, da discreta Didi Gomes.

E foi esse time de cantores e cantoras que teve a missão de defender a obra dos poetas Edegar Cirillo, Marcelo Casa Nossa, André Ricardo, Dema, Gui Cruz, Rodolfo Minuetto, Rodrigo Minuetto e Kz. Obra com características muito diferente do “sambasso” do ano passado. Este, mais valente, mas sem dever nada para a beleza melódica do anterior. A segunda do samba resume e exemplifica bem este misto de funcionalidade com poesia:

“A voz que não se cala clama a liberdade
A lágrima resume a saudade
Ah! Se eu puder falar com Deus
Na luz dos meus orixás
E na força dos filhos de Gandhi a paz vai eternizar
A fé…  Esperança do povo
Que tudo pode melhorar
Seguindo os passos que o mundo aplaudiu
Aquele abraço, Gilberto Gil”

Levado com regularidade durante toda a passagem pela Avenida, a composição contribuiu para uma boa harmonia e evolução, conduzidas com muita tranquilidade e que deram folga para o cortejo preto e branco sair da pista sem sustos, nos braços da galera.

De olho no relógio!

A Vai-Vai encerrou seu desfile com 1h04

A apuração das notas atribuídas pelos jurados para os nove quesitos avaliados nos desfiles de 2018 serão conhecidas na tarde da próxima terça-feira, dia 13 de fevereiro, com cobertura do portal SRzd.

Foi assim no último concurso

(décimos perdidos pela Vai-Vai, por quesito, em 2017 – considerando os descartes)

A performance da escola nos últimos cinco Carnavais

Curiosidade

Prêmio SRzd Carnaval SP 2018

Na manhã da próxima terça-feira (13), na página principal da editoria de Carnaval do SRzd em São Paulo, será divulgado o resultado da sétima edição do prêmio. A votação para os internautas estará disponível após o encerramento da apresentação da última escola do Grupo de Acesso 1.

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