Um olhar diferente sobre os desfiles do Grupo Especial de SP

Desfile da Rosas de Ouro - Carnaval 2017. Foto: Paulo Pinto/LIGASP/Fotos Públicas

Desfile da Rosas de Ouro – Carnaval 2017. Foto: Paulo Pinto/LIGASP/Fotos Públicas

As sete escolas que passaram pela primeira noite dos desfiles do grupo especial de São Paulo apresentaram criatividade, composição de cores e homenagens. A forte chuva que antecedeu a abertura do carnaval paulistano não foi empecilho e mais de 20 mil pessoas abrilhantaram a passarela do samba. A seguir, síntese do desfiles:

Do nordeste ao melhor amigo do homem

Tom Maior

A escola trouxe a região nordeste do Brasil e homenageou Elba Ramalho. Com toque sanfoneiro, a nova voz que interpretou o samba de enredo – Bruno Ribas – manteve a cadência. Enquanto isso o bailado do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Jairo e Simone, brilhava nas cores do pavilhão vermelho e amarelo. A escola, presidida por Luciana Silva mantém elos familiares, além do casal citado acima há também o mestre de bateria – Carlão – casado com a musa Andreia. Esta é irmã da porta-bandeira e tia da rainha, Pâmella, filha do primeiro casal. São essas raízes, igualmente ao querido povo nordestino, que alegram o caloroso Brasil.

Mocidade Alegre

Com seu jubileu de ouro, a Mocidade Alegre comemorou os 50 anos de tradição. A cor dourada esteve presente nas alegorias e fantasias. Mauricio Pina, há 30 anos no carnaval, brilhou igualmente com o aniversário da escola. Em sua estreia, Tiganá mostrou empatia imediata como primeira voz no carro de som. A “Morada do Samba” é uma agremiação aguerrida, organizada e seus desfiles são marcantes pelo sincronismo dos componentes. A presidente, Solange Cruz, veio ao lado da Ritmo Puro, a qualificada bateria comandada pelo marido Mestre Sombra.

Unidos de Vila Maria

Sob o manto azul da Padroeira do Brasil, a Unidos de Vila Maria ascendeu a fé no sambódromo. Na introdução da escola, uma menina, vestida de branco, trazia a imagem da santa e a exaltava ao público. Destaque para a ala das Baianas, vestida de Nossa Senhora Aparecida. Fantasia inigualável. A escola inteira estava muito bem vestida, com requinte e cuidado. Daniel, o cantor sertanejo, desfilou no último carro. A última alegoria retratou a Basílica, local de devoção na região norte de São Paulo. O samba de enredo, na voz de Clóvis Pê, levantou a arquibancada e Sidnei França estreou com maestria.

Acadêmicos do Tatuapé

Muito aplaudida, a vice-campeã Acadêmicos do Tatuapé retratou a África com um desfile tecnicamente impecável. Alegorias, composições, fantasias, canto, sincronismo e evolução marcantes. Na comissão de frente os protetores de Ifá e as alas seguintes com a presença de orixás. A composição de cores transformou a passarela do samba em um estiloso tapete. Os componentes cantaram e evoluíram com entusiasmo. Normalmente os temas africanos são ricos em suas apresentações e a escola da zona leste consolidou essa característica com muito axé.

Gaviões da Fiel

A comunidade da Gaviões da Fiel entrou na avenida com a incumbência de homenagear a metrópole paulistana onde os sonhos, as oportunidades e a esperança se renovam a cada dia. São Paulo é uma cidade audaz e resistente, onde boa parte da economia brasileira nasce, portanto, cantá-la em um desfile de carnaval é oportuno para evidenciar que o homem trabalha, mas também se diverte. Chamada carinhosamente de terra da garoa, nome dado a uma da alas, a alvinegra levou seus componentes para o sambódromo em uma elevada temperatura. O canto, caracterizado na voz de Ernesto Teixeira, foi um dos pontos altos da escola.

Acadêmicos do Tucuruvi

O presidente Jamil é um homem contemporâneo e sua escola Acadêmicos do Tucuruvi trouxe um tema sazonal. Após muitos debates e polêmicas com a nova gestão da cidade de São Paulo, a agremiação levantou o moral dos artistas de rua e mostrou que essa atuação, há muito, deixou de ser ato subversivo. É pura arte. Mestre Guma, sambista tradicional, animou a arquibancada com a sua bateria. Danças de rua, acrobacias e muitos pontos da cultura urbana estavam presentes nas alegorias, coreografias e fantasias. O grafite foi um dos itens especiais, e no contexto do enredo uma homenagem voltada aos artistas do segmento.

Águia de Ouro

A amizade é uma das riquezas conquistadas e mantidas pelo ser humano. E por que não estendê-la ao mundo animal? Há muito ouvimos que o cachorro é o melhor amigo do homem e, de modo peculiar, o presidente da Águia de Ouro, Sidnei Carrioulo, evidenciou sua predileção por este animal. A comissão de frente trouxe mendigos e seus fiéis companheiros. Nas alegorias e fantasias víamos personagens como Dino, Vigilante Rodoviário e Bidu entre os foliões. A escola mostrou um enredo lúdico e exibiu protagonistas de filmes e desenhos históricos sobre o cachorro.

Foto: Foto: Robson Fernandjes / LIGASP / Fotos Públicas
Foto: Foto: Robson Fernandjes / LIGASP / Fotos Públicas

Religião e cidades brasileiras marcam segundo dia dos desfiles

Mancha Verde

Com pedido de licença ao orixá Zé Pilintra, o presidente da Mancha Verde abriu a segunda noite de desfiles das escolas de samba do Grupo Especial de São Paulo. Paulo Serdan e sua comunidade homenagearam um dos nomes mais caricatos em território nacional, José. Este rapidamente ganhou uma abreviação, que gruda como goma de mascar. São muitos “Zés” que alcançam a popularidade. Assim também ocorre com a rainha e bateria, Viviane Araújo, um dos nomes mais carismáticos do carnaval brasileiro. Com uma comissão de frente harmônica, seguida do abre-alas que trouxe o mineiro Zé do Patrocínio, em menção à liberdade, a alviverde relembrou, entre tantos outros, Zé Carioca e Zé do Caixão. O desfile foi fechado por uma alegoria voltada à variação dos comércios, afinal, em cada loja sempre há um Zé.

Unidos do Peruche

Em seu terceiro ano, o carnavalesco Murilo Lobo assina um enredo genuinamente brasileiro, voltado à capital Salvador, palco de raças, cultura e fé. O povo baiano é, sem dúvida, um dos perfis mais animados do país. Suas 365 igrejas, os terreiros e toda a religiosidade representam o elo homogêneo das crenças. Na comissão de frente da Unidos do Peruche, o coreógrafo Régis Santos, encenou por meio dos componentes, personagens baianas. A terceira alegoria trouxe mamãe Oxum, alta, bela e imponente. A cidade foi a primeira a receber milhões de escravos, razão pela qual uma das alegorias encenou esse momento histórico e triste. Houve também a capoeira em plena avenida. Destaco a presença de Bernadete, uma das vozes femininas mais tradicionais do carnaval de São Paulo.

Império de Casa Verde

Tido como um dos principais carnavalescos, Jorge Freitas assinou o segundo enredo da escola Império de Casa Verde e prometeu evidenciar a paz. A passarela do samba é uma grande oportunidade para levantar essa bandeira. Do início ao fim, a nação imperiana mostrou um desfile tecnicamente perfeito. Alas coreografadas, acabamento de fantasias e alegorias ímpares, além de criatividade, luxo e sincronismo. Houve um momento em que a cabine, onde está a redação do SRzd, ficou escura, tamanha a grandiosidade do abre-alas. Destaco a última alegoria, com a presença de crianças, trajando a bandeira de cada país. A ideia foi promover a paz, por meio dos pequenos, o futuro da nação. Mestre Zoinho fechou o desfile com sua qualificada bateria. A única a colocar o coração da escola como última ala. A arquibancada aplaudiu de pé.

Dragões da Real

Embora nossa cultura não seja monárquica temos alguns reis e rainhas, nomeados por razões diversas. E no sertão nordestino há uma canção brasileira eternizada na voz do rei do baião, a Asa Branca, nome estampado no enredo da Dragões da Real. O grito de guerra soou pela voz de Fagner, um dos principais nomes da canção nordestina. E por falar em música, o samba enredo foi um dos pontos marcantes, inclusive porque na melodia era possível identificar a inesquecível obra de Gonzagão. Na primeira alegoria, ao invés de um esqueleto bovino, a escultura de um dragão. Pura sapiência. E o pau-de-arara foi reproduzido com riqueza de detalhes. Retratos na parede – outro costume – também foram expostos. Ah, houve também componentes que se transformaram em calangos, tudo para evidenciar situações do sertão. No final do desfile, uma alegoria com um grande cangaceiro e sua sanfona.

Vai-Vai

Um tributo à Mãe Menininha do Gantois. Esse foi o enredo da Vai-Vai que desenhou um terreiro na avenida. Antes da largada, o ator Milton Gonçalves leu parte da sinopse, ao lado de mãe Carmen, filha da homenageada. O abre-alas, com 22 metros de comprimento, empolgou a arquibancada, e esta, ovacionou os componentes. Os orixás mais conhecidos vieram nas alegorias e alas; as águas de oxalá, literalmente, lavaram a avenida. Alas coreografadas mostraram uma saracura diferente do que o público está acostumado a ver. O desfile foi assinado por uma comissão e um dos nomes é de Alexandre Louzada, campeão duas vezes com a alvinegra. Atleta Cafu, ex-ministro Orlando Silva e Dodô, da banda Pixote foram personalidades presentes no desfile.

Nenê de Vila Matilde

Amanhecia quando a Nenê de Vila Matilde ultrapassou a faixa amarela, com destino aos 530 metros. O canto de Agnaldo Amaral embalou os componentes e a arquibancada para interpretar a história de Curitiba, cidade caracterizada pela sustentabilidade e índices menores de analfabetismo. Atualmente é uma das regiões mais citadas nos noticiários, em função de aspectos políticos que promete lavar a corrupção. Alas compactas, coreografadas, fantasias e plumas, tudo apresentado com a energia peculiar da Nenê. Escola tradicional que mantém sua comunidade marcante.

Rosas de Ouro

Para fechar a noite, a tradicional escola da Brasilândia convidou a todos para um banquete, desde uma refeição simples até a mais sofisticada. Falar de banquete em São Paulo é, sem dúvida, fomentar um dos pontos que mais movimenta a metrópole, a gastronomia. Em sua estreia, André Machado teve o cuidado de incluir personagens que anseiam por uma refeição, os moradores de rua. Retratou também momentos sazonais em que a comida é servida em abundância como a páscoa e o natal. Na quarta alegoria, um bolo de casamento onde estava a presidente Angelina Basílio e seu noivo Sergio. Uma das pessoas mais influentes e queridas na roseira é a administradora Ana Paltrinieri, que veio vestida de madre Teresa. Era pura luz! A escola finalizou o desfile com uma mensagem de solidariedade à classe menos favorecida.

E o Carnaval de 2017, mais uma vez, é registrado pela economia criativa.

Boa sorte a todas as agremiações. Axé!

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