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Thobias da Vai-Vai solta o verbo e cita Paulinho da Viola; ‘Não me altere o samba tanto assim’

Thobias da Vai-Vai. Foto: Divulgação

Odirley Isidoro publica mais um texto em sua coluna no portal SRzd.

Natural de São Paulo, nasceu no bairro do Parque Peruche, na Zona Norte da cidade. Poeta, escritor, pesquisador e sambista. Ao longo de sua trajetória, foi ritmista das escolas de samba Unidos do Peruche e Morro da Casa Verde, além de ser um dos fundadores da Acadêmicos de São Paulo.

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‘Não me altere o samba tanto assim’; entrevista especial com Thobias da Vai-Vai

Descendo as ladeiras do Jardim Peri com ouvidos presos entre as rodas de samba e as ondas radiofônicas, a mente vai divagando pelos programas de rádio; de Moraes Sarmento às canções de Silvio Caldas, Ângela Maria e tantos outros nomes.

De origem humilde, foi batizado com nome hebraico, relativo ao ser criativo e bem relacionado através da arte.

Jamais pensou que como sua voz, ganharia o mundo!

Fincado no centro da maior metrópole do país parecido a um valente jequitibá, resiste, com o DNA do samba, como um dos expoentes da cultura afro-brasileira e, de forma atemporal, as transformações do tempo.

Nessa jornada, uma união sólida se fez e hoje é impossível desvincular sua imagem da escola de samba que carrega no nome. Neste cinquentenário dos desfiles oficiais em São Paulo, falamos o artista que representa toda uma comunidade; Thobias da Vai Vai.

Colunista Odirley Isidoro com Thobias da Vai-Vai. Foto: SRzd

Thobias, quem foi a pessoa que lhe impulsionou a entrar no Carnaval?

Thobias da Vai-Vai: Sempre fui admirador da Vai-Vai desde os tempos de Jardim Peri, eu sempre pensava em fazer parte desta família, um sentimento de que já tinha vivido na escola, algo inexplicável! O meu contato maior foi através do Seo José Luis Roselli, na época em que eu trabalhava com ele na Sabesp. Naquele tempo, ele era vice-presidente, na gestão do Chiclé aqui no Vai-Vai e gostava muito de samba. E na Sabesp tinham outros sambistas como o Murilão, que assim como eu, gostava muito de cantar. Aí fui me enturmando e nas rodas de samba eu comecei a conviver com Zeca da Casa Verde, Ideval, Zelão, Armando da Mangueira e etc. Logo me apresentaram Geraldo Filme, Osvaldinho da Cuíca, e eu fui convidado a participar da Ala de Compositores da escola. Naquele período começava o embrião do Bloco Gaviões da Fiel e a maioria do pessoal do Vai-Vai desfilava com eles, e eu acabei sendo puxador de samba-enredo por dois anos lá, e desfilando no Vai-Vai no mesmo período. Eis que em 1985 assumi como puxador oficial e fui até 2000. Depois me tornei presidente, membro do conselho e desenvolvendo trabalhos junto à comunidade do Bixiga.

Olhando para o seu “baú de memórias” existe alguma personalidade do nosso Carnaval que você recorda com um carinho especial?

Thobias da Vai-Vai: Eu tenho muita saudade do Geraldo Filme, ele era uma enciclopédia, ele era muito culto, um autodidata, eu aprendi muito com ele e enquanto esteve conosco nos ensinou bastante, não somente a mim, mas a outros sambistas também.

Você já interpretou dezenas de sambas de enredo. Na sua concepção, mudou muita coisa no formato das composições?

Thobias da Vai-Vai: Mudou muito, tanto aqui, quanto no Rio de Janeiro, o samba ficou mais acelerado, sem poesia, se tornou um fast food, hoje o samba-enredo se tornou condomínio. Tem muita gente que recebe nome de compositor sem ao menos escrever um verso. Se tornou uma “avacalhação”, porque no tempo em que a polícia perseguia muita gente não queria ser sambista, hoje tem mídia, tem exposição, status, é bonito você dizer que é sambista e fica essa briga de egos. É muito cachorro pra roer um osso só. Todo mundo quer ser o camisa dez e bater o pênalti.

Na sua visão o que de essencial se perdeu no Carnaval com as mudanças de palco, desde Avenida São João até o Anhembi?

Thobias da Vai-Vai: Perdeu a cadência, a espontaneidade, o samba no pé, isto tudo se perdeu graças ao regulamento. Daqui a pouco ele vai cercear o sambista. Como nem todo mundo é sambista eles fazem um regulamento para adequar aqueles que não sambam, premiando os que não sabem sambar. Em breve vão colocar na regra que não é permitido sambar e assim você não vê mais pessoas com samba no pé. Eles perderam o direito de sambar. Fizeram isso com o baliza e os passistas, justificando que a escola corre o risco de perder pontos por atrasar a harmonia. Hoje, neste formato, isso não cabe.

Como é essa chegada destes novos sambistas neste segmento?

Thobias da Vai-Vai: Aumenta a responsabilidade daqueles que tem como obrigação ensinar a coisa certa, passar a lição correta. Nós temos essa missão de contar a história da forma como ela é, passar a receita certa para estes novos sambistas. É como preparar uma boa e verdadeira caipirinha: cachaça, limão e açúcar. Não tem a necessidade de inventar.

Em toda a sua trajetória quais são os momentos que você considera inesquecíveis?

Thobias da Vai-Vai: O momento que guardo com carinho na memória é o de 2008, onde eu assumi a escola em uma situação complicada e me tornei presidente. A escola estava em um momento interno ruim e no primeiro ano ficamos em terceiro lugar, no segundo, chegamos ao ápice conquistando mais um Carnaval com o enredo; “Acorda Brasil”, uma obra de Antônio Ermírio de Moraes, que fora livro e peça de teatro, e nós levamos para a Avenida em forma de desfile pelas mãos do grande carnavalesco Chico Spinoza. Ele pesquisou e colocou carinho e amor. A mensagem desse enredo sobre educação mostra a essência de tudo que precisamos para ter um país melhor. Faço das palavras do Antônio Ermírio as minhas: “O único meio para que possamos desenvolver um país é através da Educação”. Temos que lutar pela educação gratuita e sempre colocar como prioridades educação e saúde, nesta ordem. O dia que nós atingirmos esta condição as mudanças ocorrerão lá em Brasília. Hoje as situações ruins que estão lá são reflexo das escolhas do eleitor. Uma árvore ruim não gera bons frutos!

Com a autoridade de ser uma das maiores referências do samba nacional e do Carnaval brasileiro, Thobias encerra o bate-papo deixando uma mensagem especial aos leitores do portal SRzd, citando a canção “Argumento”, de Paulinho da Viola:

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