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‘Temos certeza que amamos você, Gleides Xavier’

Gleides Xavier. Foto: Instagram

Odirley Isidoro publica mais um texto em sua coluna no portal SRzd.

Natural de São Paulo, nasceu no bairro do Parque Peruche, na Zona Norte da cidade. Poeta, escritor, pesquisador e sambista. Ao longo de sua trajetória, foi ritmista das escolas de samba Unidos do Peruche e Morro da Casa Verde, além de ser um dos fundadores da Acadêmicos de São Paulo.

As publicações são semanais, sempre às terças-feiras, na página principal da editoria do Carnaval de São Paulo. Leia, comente e compartilhe!

‘Temos certeza que amamos você, Gleides Xavier’

Amanhece mais um final de semana.

Mas este não é igual aos outros; um silêncio corrói os ouvidos, como se eles clamassem por uma voz: a voz!

Aquela que penetra a alma e toca no anseio dos mais humildes, aos mais abastados.

Sem dó, ela mexe e move nossa mente, fazendo com que em sua profundidade o quadro “O grito”, de Edvard Munch”, ganhe sua própria voz.

Encalacrada em sua pele branca, sua alma reluz entre tantas raças. Em uma “Kizomba” da vida real ela toma a frente e levanta a bandeira defendendo um segmento, um som, um ritmo.

Este ritmo move mais da metade da nação, porém, quando se trata de gosto nacional, muitas vezes é rotulada, é coisa de gente de baixa renda, oriunda dos morros e vielas, e de tantas quebradas do “mundaréu”.

Com a sagacidade de uma “Aida Santos” ela não desistiu, mesmo com tantos pés torcidos pelo caminho, saltou e pôs a face a mostra de todos como defensora de uma causa. Colocou nas vitrolas de muitas casas a esperança através de personalidades que acreditaram em um propósito: trazer alegria através da música.

E haja caixa de fósforo para tanto braço pivotante e agulha!

Avassaladora, de pulso firme e sorriso cativante, sua beleza e talento exploravam mais caminhos do que os livros de Paulo Coelho, sem “Brida” ou “Zahir”. Como Cartola, apenas deixe-me ir… Deixem ela ir! E ela foi a cada ponto desta cidade, seja pelas ondas do rádio ou pela internet.

Fez questão de estar perto do seu povo, sentir o calor e a energia que emanava de cada um, fazendo como a voz de Adriana Drê; nos convidando para os “Bailes da Vida”.

Deu ao sambista o prazer de existir e não mais ser um “Capitão de Areia” lutando contra quem tem o poder apenas de existir. Os meninos cresceram e ganharam o mundo, descobriram o “Nome da Rosa”, de Umberto Eco, e beberam na fonte da malandragem vinda dos pergaminhos dos morros cariocas.

Sem preconceito de classe ou cor, ela brigou, viveu e se apaixonou pelos momentos como se o relógio parasse a cada “Rec” ou “Play” dos toca-fitas que eternizavam os seus “encontros e despedidas”. Para o seu público fiel, os presenteou, os agradeceu, os ofereceu situações nas quais até os corações mais oprimidos seriam capazes de entender.

Em cada lugar que passou, trouxe o olhar profundo e o posicionamento concreto para compartilhar com todos que seu nome vinha para ficar.

Oriundo do termo inglês “Glade”, “Clareira”, iluminou os que caminhavam sem esperança ou aguardando o destino lhe trazer a sorte de uma oportunidade, igual a este que vos escreve. Tive através do destino minhas “Crônicas de uma São Paulo antiga” lidas por estes com quem compartilho alegrias.

Porém, o universo não quis ouvir a “Oração do Tempo”, de Caetano Veloso, e não fez um acordo contigo; “Tempo, tempo, tempo”.

O tempo foi impreciso para nós, e nos deixou uma lacuna, como o silêncio que penetrou a mente de cada ouvinte, de cada usuário que acessava a página em busca de algo, de alguém, de você, amiga.

Calado, contido, silencioso, bem ao contrário de nosso carinhoso contato na recepção da sala de imprensa ao lado do icônico Seo Jesus que sorria, enquanto contava à você a alcunha na qual ele se atreveu a dar e me presenteou como “Martinho da Vila Júnior’.

Brincamos, rimos e desejamos outra noite mágica naquele amanhecer pós-transmissões. Você pela Rádio 105 FM, eu pela Rádio Trianon.

Ainda pude contar com sua amizade e participação em minha coluna aqui no SRzd. Mas “a tristeza as vezes é tão forte” que precisamos fechar os olhos e ouvir sua voz ecoando, em mais de dez mil decibéis.

Só assim temos a certeza de que a rainha estará ao lado do seu príncipe encantado, seu herói, seu rei!

“A força deste amor nos invadiu e temos certeza que amamos você”, Gleides Xavier!

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