Pérola Negra 2019: conheça a sinopse do enredo e o detalhamento por setor

Ensaio técnico da Pérola Negra. Foto SRzd – Cláudio L. Costa

A direção da escola de samba Pérola Negra divulgou a sinopse do enredo 2019; “Da majestosa África, tu és negra mulher guerreira a verdadeira Pérola Negra”.

Pela primeira vez em sua história a agremiação aposta na temática afro para um desfile seu. Desfile que terá o desenvolvimento, pelo terceiro ano seguido, do carnavalesco Anselmo Brito, e fecha as apresentações do Grupo de Acesso 1, no domingo, 3 de março. Leia o texto da sinopse na íntegra e o detalhamento de cada setor:

A escola de samba Pérola Negra traz para o ano de 2019 o tema alinhado com nosso tempo, mas
que ecoa do passado mitológico da África, considerada o berço da civilização, um tema polêmico
e atual que nesse momento representa uma antiga ferida. A história de força e resistência da
mulher negra.

O nome da escola traz uma simbologia que pode ser perfeitamente alinhada ao tema de 2019,
pois a mulher negra é um símbolo de luta, pois representa um tipo feminino raro, tal qual as
pérolas negras. A pérola é gerada de um fenômeno no qual a ostra se defende de um intruso
(grão de areia, ou qualquer outra coisa que representa uma ameaça a ostra), e na sua ação de
defesa gera uma joia valorizada por sua perfeição e beleza, a pérola negra é rara e exuberante,
que pode ser relacionada como uma metáfora a luta da mulher negra, que na defesa de sua
identidade e seus direitos, gera uma cultura de resistência e força que a cada dia ganha espaço
e respeito, conquistado com sua luta diária, sua ancestralidade representada em sua arte, sua
cultura, sua forma de amar e de ser no mundo. Essas mulheres guerreiras seguem amparadas
em sua ancestralidade espiritual com as bênçãos de Orumilá, que representa:

‘A soma da sabedoria suprema, a vida e a morte, o nascimento da natureza, a visão
total do mundo e da existência estabelecendo normas éticas que irão comandar as
sociedades e os homens, e assim determinando uma conduta nobre diante de todas as
forças que se formam contra o bem da humanidade. É o equilíbrio que ajusta as força
que conduz a sustentação do planeta. Orunmilá representa a antiga sabedoria do Culto
Yorubá’.

E seguem seu destino de defender sua herança cultural sua identidade para além de sua terra
natal, quando em tempos de invasão foram retiradas de seus lares e arrastadas em condições
subumanas para novas terras, sua luta pela sobrevivência e pela conquista de direitos é antiga
e legitima, luta essa que atravessa o tempo e contempla várias gerações de mulheres guerreiras
unidas até a atualidade nessa busca histórica por seu lugar de mulher poderosa e livre que lhe
é direito.

Hoje em pleno século XXI os desafios se lançam para todas as mulheres e homens em busca de
uma sociedade melhor, mas a luta da mulher negra tem lugar representativo, pois nessa luta
está impregnada a busca pela liberdade de ser a mulher que sua própria história lhe autoriza a
ser, mesmo diante de todo o racismo, violência, preconceito travestido em falsa civilidade, que
mantém o preconceito velado e dissimuladamente manifesto, e correntes da escravidão que se
tenta impor a essas mulheres de várias formas, desde a tentativa de desprezar suas tradições
até a falta aceitação.

A escola de samba Pérola Negra vem no ano de 2019 homenagem as grandes pérolas negras
femininas que representam bravamente a luta pelos direitos por meio de um canto conjunto
dessas vozes que dizem: “Eu sou negra, mulher e guerreira.” E assim essa homenagem proclama
que és tu mulher negra a verdadeira pérola negra.

A organização dos setores foi idealizada sem apego a cronologia de fatos, pois o objetivo é lançar
mão da licença poética que permite preservar a perspectiva da arte e fantasia que conduz a
mente e o coração na trajetória da narrativa que a organização dos setores propõe.

Primeiro setor

O primeiro setor começa apresentando a criação do universo na visão africana, com o
surgimento da majestosa África e sua mitologia com figuras femininas de grande importância.
No início havia apenas escuridão e o vazio, Orumilá que é o òrisá senhor da sabedoria e do
conhecimento, que tendo adquirido o direito de viver entre o órun (céu) e o aiye (terra), tudo
sabe e tudo vê em todos os mundos. Deus supremo legou o dom da criação e da transformação,
e Yamim Oxorongá grande mãe ancestral ou grande Gêledéa a feiticeira, que reclama a
responsabilidade sobre os cuidados com a terra África.

Foi me dada a grande responsabilidade por toda a criação e transformação da vida, sendo
assim emoldurei paisagens exuberantes em chão abençoado no qual brotou a flora que se
espalhou pelas Savanas; Grandes raízes se levantaram dando origem as árvores, como a
Baobá, símbolo de força e resistência.

Todo este cenário fez-se habitat para uma rica fauna, de pássaros e outros animais de várias
formas e cores. Em meio a tanta beleza a África simboliza o grande berço da humanidade, que
assim se configura como história e ancestralidade, na qual predominava o domínio masculino,
como Reis e Guerreiros, mas acompanhados de grandes mulheres que se revelaram como
grandes guerreiras, que defendiam seu povo, sua honra e seus ideais e que ajudaram a escrever
a história de seu povo, com suas habilidades naturais de cuidar e defender tanto seus filhos
quanto sua terra. Com notáveis qualidades de guerreiras e estrategistas por muito tempo
mantiveram-se, como símbolos de poderes, soberania e muita bravura, capazes de preservar
seus costumes e tradições.

Segundo setor

O segundo setor se dedica a retratar um dos eventos mais tristes da história do povo africano e
por sua vez da história da mulher negra, no qual por meio da escravidão foram injustiçados e
sumbetidos à discriminação pelas mãos do homem branco, que dominaram mundo à fora,
invadindo terra á dentro expandindo sua ganância, tornando assim o continente o seu maior
mercado. Levou uma raça a oferecer-lhe da própria carne e separou familiares, subjulgou reis e
rainhas, aprisionou guerreiros e guerreiras, tornou seres humanos em mercadorias.
Atravessou a Calunga Em grandes Tumbeiros guiados por Yemanja abarrotados, para o novo continente para serem escravizados em lavouras de canaviais e em minas de ouro e diamantes. A negra mulher tornou-
se senhora de todos os senhores, mães das Sinhás, amantes de Feitores.

Foram açoitadas e marcadas á ferro, presas em Grilhões e jogadas em Senzalas. Foram perseguidas as indomáveis que corriam ao encontro do sonho de liberdade Quilombola. Em meio aos sussurros e lamentos,
ecoavam os sons dos tambores, em louvor ao seus Deuses ancestrais, clamando a chegada da
tão sonhada liberdade; Conquista esta alcançada pelas mãos da princesa Regente Isabel. Com a
chegada da tão desejada liberdade os negros foram jogados ás ruas à própria sorte.

Essa luta pelo reconhecimento de sua cultura e direito a preservar sua identidade, foram
sobrevivendo e lutando por sua liberdade legitima.
E ainda hoje no século XXI, depois de tanta luta e conquistas indagamos… Será que a escravidão
realmente foi extinta?

Porque não houve um preparo para tão sonhada liberdade, pois não trouxe para o povo negro
a cidadania, a integração e a igualdade de direitos, que permanece como luta social e de direitos
que ainda não fazem justiça a toda grandeza da história do povo africano e feminilidade negra
que da sustentabilidade e cuidados a esse grupo. Pois ainda ouvimos os ecos da opressão e
preconceitos existentes nos campos e nas grandes metrópoles, ao qual a mulher negra responde
com resistência e força ao preconceito avassalador disfarçado em civilidade. Essa mulher
buscando em suas raízes a força de seu povo, se mantém guerreira e representa a verdadeira
Pérola Negra.

Terceiro setor

O terceiro setor busca exaltar a força, a bravura, a ousadia e as conquistas da mulher negra, que
lutam por seu espaço na sociedade. Em meio à tantas humilhações e maus tratos, o Brasil viu
nascer guerreiras que aclamaram a chegada de um novo tempo, para a mulher negra nesse
chão. Foi uma luta trilhada por caminhos difíceis marcados pela sombra da escravidão e
preconceitos, mas que não impediram o sucesso de muitas delas. Vitoriosas nos pódios da vida
cotidiana ou em espaços públicos, superando o preconceito por serem mulheres e negras, as
conquistas em tantas competições às consagraram vencedoras, retratadas pela literatura e
tantas outras formas de arte, marcam a história social com sua luta e sua força.

Muitas delas brilharam na dramaturgia nacional, nos palcos dos teatros, nas telas do cinema e
televisão, tornando-se grandes estrelas e tantos outros espaços desde os comuns até os mais
glamorosos. Se destacaram também na dança, como eximias dançarinas e bailarinas.
Consagraram-se pelo sublime dom de cantar e encantar. Nossas negras notáveis, encantaram
plateias de todo o mundo. Mulher negra vencedora em todas as áreas e funções, em que atuam.
Exaltamos você mulher negra guerreira!

Quarto setor

O quarto setor é dedicado à figura da negra mulher, inspiradora a nossa verdadeira joia rara,
nossa grande Pérola Negra; Que lutou, resistiu e venceu. É um convite para que essa guerreira
seja à nossa anfitriã, e adentrar ao nosso Palácio no qual ela será nossa rainha. Exaltada pela sua
luta e bravura, na certeza que como em um grande Quilombo, os seus sonhos jamais serão
Usurpados.

É com um exército de guerreiras onde suas armas serão substituídas pela Democracia, pela
Igualdade, pelo seu empoderamento e seu lugar de fala como espaço de poder legítimo, lugar
este que representa sua resistência, bravura e poder, pois jamais poderemos permitir que calem
essas vozes potentes e poderosas, para que venha a ecoar aos quatro cantos do mundo um
exemplo de luta pois… Tu és negra, mulher, guerreira a verdadeira Pérola Negra.

Na Avenida este ano a Pérola cantou o tema: “Numa viagem arretada por terras nordestinas, a “Joia Rara” do Samba embarca no trem do forró rumo ao maior São João do Mundo: Campina Grande”. A exibição garantiu o quinto lugar no Grupo de Acesso 1.

+ Relembre o desfile 2018 da Pérola Negra

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