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‘O samba está perdendo para a coreografia’; Carllão Maneiro em entrevista especial

Carlão Maneiro. Foto: Acervo

Odirley Isidoro publica mais um texto em sua coluna no portal SRzd.

Natural de São Paulo, nasceu no bairro do Parque Peruche, na Zona Norte da cidade. Poeta, escritor, pesquisador e sambista. Ao longo de sua trajetória, foi ritmista das escolas de samba Unidos do Peruche e Morro da Casa Verde, além de ser um dos fundadores da Acadêmicos de São Paulo.

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‘O samba está perdendo para a coreografia’; Carllão Maneiro em entrevista especial

Neste caminho de “roçado do bom” Deus me proporciona momentos especiais!

E a oportunidade de falar deste nobre sambista, me remete ao ano de 1992, quando pela primeira vez ouvi a sua voz em um dos fantásticos ensaios que ocorriam na Avenida Engenheiro Caetano Álvares, na Casa Verde.

Ali, divididos pelo córrego Mandaqui, se via, de um lado, a Unidos do Peruche, e na outra margem, a Mocidade Alegre fazendo sua festa.

Entre os caminhões de som, balões e fogos de artifício o magnifico timbre ressoava e animava o bairro do Limão.

Assim, fui lhe admirando. Com o passar dos anos, porém, quis o destino que em uma fila de supermercado, há um ano atrás, eu o conhecesse pessoalmente. Depois de um breve bate-papo nos tornamos amigos. A partir desta conversa, tenho a honra de prestar essa homenagem, e falar de seu legado e de seu trabalho.

Com vocês, ele que fora uma das grandes vozes do Carnaval paulistano: Carllão Maneiro!

+ leia a entrevista na íntegra

A trajetória no mundo do samba:

O início da carreira foi cantando em coral no Ginásio e depois no Colégio, participando de Festivais na época de estudante, até chegar no Festival Estudantil de São Paulo, no Clube Atlético Ipiranga, sob a coordenação do jornalista Elias Scaf, interpretando a canção “O Zé da minha rua”, de autoria do compositor e cantor Deo Lopes, pelo Colégio Comercial “30 de Outubro”, no bairro do Brás, onde tivemos a felicidade de sermos os vencedores.

A partir desse trabalho, comecei as andanças pelos bares de “música ao vivo”, como o Sambarthur, no bairro de Vila Maria, que tinha um ponto de encontro de grandes músicos. Logo fui apresentado pelo Arthur ao Hélio Fernandes, que coordenava um grupo de músicos que conviviam na “Rua do Choro” ou Rua João Moura, no bairro de Pinheiros.

Fui me apresentando semanalmente no evento organizado pela Secretaria de Cultura de São Paulo e tempos depois passamos a cantar no “Botequim do Camisa Verde”, na Barra Funda, onde fui conhecendo os compositores de escolas de samba.

Daí para os sambas de enredo foi rápido! Através dos compositores Nei Melodia e Dimas Prieto, entrei neste universo e logo como intérprete para o Carnaval de 1986. No ano seguinte os compositores Ademir, Nadão e Mariano me convidaram para interpretar o samba “A volta ao mundo em 80 minutos em busca da paz, ganhamos o concurso e o samba foi para a Avenida, em 1987.

A partir deste fato, o saudoso presidente da Unidos do Peruche, Walter Guariglio, me convidou para a sua escola, que na oportunidade, tinha como intérprete oficial a excelente cantora Eliana de Lima, e eu passei a integrar o grupo de cantores da escola.

Em 90, gravei o LP “Sonho a dois”, em parceria com Nelson Primo, pela gravadora JWC discos, com arranjos do maestro Ivan Paulo, e também do saudoso maestro Jobam. No mesmo ano, como convidado, gravei a música “Vida de cão”, dos compositores Ademir e Nadão, com arranjos do maestro, cantor e compositor Mauro Diniz, no LP “Choppapo”.

No mesmo ano, o diretor geral de harmonia da Mocidade Alegre, Manoel de Oliveira Filho, o “Neco”, representando o saudoso e eterno presidente Juarez da Cruz, me levam para a escola, onde permaneci até 96.

Ao lado dos compositores Nei Melodia, Xavier, Ademir e Deolindo, venci o concurso da Sociedade Rosas de Ouro, cujo tema era a homenagem ao grupo Demônios da Garoa, em 1998, e eu tive o prazer de ser o intérprete oficial.

Para o Carnaval do ano 2000, recebi um convite de Adalberto, líder do grupo Swing Maneiro, de Florianópolis, para atuar como intérprete da escola de samba Copa Lord, onde nos sagramos campeões do Carnaval.

Do que mais sente saudade no Carnaval?

Tenho saudades do samba verdadeiro, do samba autêntico, do samba no pé. No Carnaval, o samba está perdendo para a coreografia!

Quais as diferenças do seu tempo entre os carnavais do Rio e de São Paulo?

O Rio de Janeiro é uma cidade diferenciada, o Rio tem os holofotes e as câmeras do mundo voltados para o turismo, para as suas belezas naturais, por isso é detentora do título de maior festa popular do planeta.

A cidade respira samba, respira Carnaval, atrai investimento público, um investimento pesado e faz do seu Carnaval, a maior festa popular do brasil.

Claro, vale salientar que o Carnaval paulistano teve um crescimento muito forte nos últimos anos, aumentando o investimento e o turismo para a nossa cidade.

Qual o seu grande momento, aquele que não desgruda de sua memória ?

Foram vários, mas eu destaco os anos que passei como intérprete oficial da “Morada do Samba” onde tenho muito apreço e carinho. Recebi vários presentes nesse período. Por exemplo o convite de Aurinho da Ilha, diretor União da Ilha do Governador, para integrar o grupo de intérpretes da escola. Tive a possibilidade de cantar ao lado de Aroldo Melodia, um dos maiores intérpretes de sambas de enredo do Brasil, em 1991, com o tema: “De bar em bar – Didi, um poeta”.

Outros foram a amizade e a parceria com compositores como Luiz Carlos da Vila, Serginho Madureira e Didi Pinheiro.

Você enxerga que exista um legado em nosso Carnaval?

Sim, com certeza. Os baluartes deixaram um legado que me influenciaram e vão influenciar a geração atual, e as futuras gerações de grandes sambistas.

Fale agora o que você tem feito!

O que eu posso dizer sobre a carreira é que o samba me mostrou um mundo musical, romântico e poético; um mundo maravilhoso onde aprendi a ser mais humano, humilde e generoso. Quero aproveitar este espaço para pedir aos leitores que “não deixem o samba morrer”, cultivando a nossa cultura brasileira.

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