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O espelho não se quebrou; o legado de André Pantera

André Pantera. Foto: Acervo

Odirley Isidoro publica mais um texto em sua coluna no portal SRzd.

Natural de São Paulo, nasceu no bairro do Parque Peruche, na Zona Norte da cidade. Poeta, escritor, pesquisador e sambista. Ao longo de sua trajetória, foi ritmista das escolas de samba Unidos do Peruche e Morro da Casa Verde, além de ser um dos fundadores da Acadêmicos de São Paulo.

As publicações são semanais, sempre às terças-feiras, na página principal da editoria do Carnaval de São Paulo. Leia, comente e compartilhe!

O espelho não se quebrou; o legado de André Pantera

O espelho não se quebrou, multiplicou sua imagem, capaz de transcender o tempo, e o samba foi o cordão umbilical que manteve essa família unida.

André Luiz Matheus Pantera, cantor, sambista e intérprete, um pai de família que orientou, conduziu seus passos e deixou um lastro de saudade por onde passou.

Deixou uma história incompleta para nós sambistas que hoje seu filho escreve graças aos ventos fortes que tocam as podas das árvores da Igreja Santíssima Trindade e abençoam a Casa Verde Alta e adjacências.

Uma família se inicia no amor e deste amor se geram os frutos e destes frutos se entrelaça a vida.

Foi assim que o samba se inseriu no coração de cada um de seus filhos, Marco Aurélio e Thiago.

Desde cedo os acordes das cordas se misturava aos gritos das crianças que brincavam na Rua Odete e nas vielas que levavam a Rua Helena, o choro das crianças nos portões sendo embaladas por suas mães e o barulho dos mecânicos trabalhando faziam a percussão geral e a cantoria das avós pendurando as roupas no varal.

Este misto de sons inspirava o poeta em compor mais um samba para vida.

Assim a semente do samba foi plantada na essência dos irmãos onde desde a mamadeira se tomava Carnaval no lugar de leite, mesmo que sua mãe fosse, em princípio, fosse contraria ao que o destino estava escrevendo.

Ela, por dentro, aceitava a ideia de seguir os passos do pai, respeitado e famoso assim como os tios e primos que já estavam por anos envolvidos neste universo.

O jovem Marco Aurélio envelheceu, moldou sua mente e o inverso de sua tranquilidade precisava de um suporte, Gessica!

Ela que se tornou mulher e hoje será mãe, e enxerga com clareza a sua importância dentro deste processo e guarda consigo a recordação mais preciosa dos bons momentos vividos com seu sogro:

“A minha maior recordação do André é ele cantando, prezando a família, indiferente de estar distante, e o seu apego com todos”.

Marco Aurélio carrega a alcunha de ser filho de um nobre e a responsabilidade de ser pai de um menino que se chamará André, igual ao avô, porém ele não sente mais em seus ombros a responsabilidade de suprir a ausência do pai e fala com propriedade de um bamba que se tornou autodidata quando se fala em percussão e tem discernimento para dizer abertamente sobre o nosso samba e o futuro de seu filho:

“Quando nos identificamos com algo no samba ele se enraíza de forma mais fácil e a aproximação de minha família facilitou isso”, diz Marco Aurélio. “Meu filho terá o livre arbítrio em decidir o que ele quer… Jamais nossa família teria aversão sobre ele ser sambista”.

Ele, que por muitas vezes ouviu que samba não enche a barriga de ninguém, hoje pode dizer:

“O samba não enche barriga, mas a minha e de minha família está enchendo, graças ao meu esforço e trabalho”.

Hoje, para ele, tudo mudou:

“O samba deixou de ser meu hobby e começou a me alimentar e eu sempre acreditei que este legado me daria futuro, só não acreditavam que isto se tornaria verdade”.

Assim como seu pai ele segue os caminhos no mundo do samba e todos nós temos a certeza que André era humano e tinha falhas como todos nós, mas quando estava no palco, o “Pantera” estava presente, e ele, assim como tantos outros nobres, transpirava talento e tinha o anseio de novos tempos e novos projetos. Assim foi até o apagar de sua chama em vida, mas em alma, ele está presente entre nós.

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