O capitalismo no samba em detrimento da cultura
O carnavalesco Marco Aurélio Ruffinn traz mais um texto para os leitores do SRzd.
A coluna é publicada semanalmente, às quintas-feiras, na página principal da editoria do Carnaval de São Paulo. Leia, comente e compartilhe!
O capitalismo no samba em detrimento da cultura
Viajar no tempo é algo mágico.
Percorrer o passado é adentrar aos portais do entendimento, do presente e do futuro.
Há semanas fiz essa viagem assistindo ao espetáculo teatral; “É samba na veia, é Candeia”, que narra a biografia artística de Antônio Candeia Filho (1935 -1978), o grandioso Candeia.
Compositor, portelense e autor de sambas imortais.
A peça aborda aspectos de sua vida. O espetáculo é encenado no entorno de uma roda de samba, ambientando a trajetória do artista entre as décadas de 60 e 70.
Interpretado pelo ator Marcelo Darlouzi, a história se passa em Oswaldo Cruz e Madureira, subúrbio carioca, reduto de Império e Portela.
Candeia ganhou notoriedade compondo sambas de enredo campeões da Portela, sua maior inspiração, e sambas imortalizados nas vozes de Martinho da Vila e Clara Nunes.
A partir de então, seu trabalho foi definitivamente reconhecido.
A realização deste espetáculo é da Companhia Alvorada, Coletivo Terreiro de Mauá e com produção do Núcleo Coletivo das Artes, com excelentes atores, cantores e músicos.
O espetáculo é carregado de emoção.
E evidencia protestos contra a opressão e a discriminação racial.
A direção geral é de Leonardo Karasek. Ele conseguiu realmente resgatar a alma de suas letras e o espírito de sua vida.
Reviver aquelas áureas décadas é compreender aonde estamos hoje, para onde vamos e o rumo capitalista que leva essa sociedade.
Na real, sempre regeu. Talvez a inocência que habitava em nós foi corrompida pelo destrutivo sistema.
O final apoteótico exprime toda a nossa vocação espiritual com a África.
Definitivamente, o samba invade a nossa alma.
Foi inevitável não lembrar da Nenê da Vila Matilde desfilando em glória à ele.
“…A Nenê quando samba incendeia
Exalta você
Você Candeia…”
(Nenê de Vila Matilde, 1981)
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