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Namorado da minha escola de samba, e do Carnaval

Odirley Isidoro publica mais um texto em sua coluna no portal SRzd.

Natural de São Paulo, nasceu no bairro do Parque Peruche, na Zona Norte da cidade. Poeta, escritor, pesquisador e sambista. Ao longo de sua trajetória, foi ritmista das escolas de samba Unidos do Peruche e Morro da Casa Verde, além de ser um dos fundadores da Acadêmicos de São Paulo.

As publicações são semanais, sempre às terças-feiras, na página principal da editoria do Carnaval de São Paulo. Leia, comente e compartilhe!

Namorado da minha escola de samba, e do Carnaval

“… Se perguntarem o que é o amor pra mim
Não sei responder, não sei explicar…”

O amor possui diversas definições nos dicionários, desde uma forte afeição até a demonstração de zelo e dedicação.

Na mitologia Grega, “Eros” simboliza a eterna juventude do amor profundo, e para o sambista, não existe amor maior do que sua escola de samba e o Carnaval.

Esse amor que embriagou a alma de Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Jorge Amado, Pablo Neruda e enfeitiçou Vinicius de Moraes, teve o mesmo fio condutor que tocou os corações carnavalescos, através de cada lantejoula, paete, de cada momento de alegria, de sorriso, ao ver sua escola passar. Seja na Avenida ou na televisão, quando se trata de amor e emoção, não existe tempo, não existem limites.

“… Mas sei que o amor nasceu dentro de mim
Me fez renascer, me fez despertar …”

“Ao Vai-Vai meu amor incondicional”. Assim o sambista Edgar Galdino abre seu coração ao falar de Carnaval: “No Bixiga sou transportado para um universo mágico aonde qualquer problema em minha vida se torna pequeno quando o ensaio começa. Minha relação com a escola sempre foi assim e mesmo no período que acompanhava a distância pelas ondas sonoras na voz de Evaristo de Carvalho, Gleides Xavier ou preso ao televisor, só fez aumentar este amor. A distância jamais impediu que eu passasse horas a fio acompanhando a escola e cada vez mais aprendi a defender e exaltar este pavilhão. É emocionante ver a massa na arquibancada e impossível não se empolga. Hoje não me importa a distância pois tenho a certeza que a Saracura é a razão do meu viver”.

Silvia Prates, matildense de alma, cultiva esse amor desde os anos 80 e por um lapso do acaso foi flechada pelo cupido do samba: “Eu me mudei em 1989 para a Rua Atuai e escutava um batuque envolvente vindo de longe e aquele som me tocava o coração. Fiquei louca para saber onde era a nascente e corri para ver, era na rua em frente. Ali, uma quadra de escola de samba: Nenê de Vila Matilde. Foi amor a primeira vista, ali aprendi a amar o samba e ver o Carnaval com outros olhos, com mais riqueza e entender aquela sensação que faz nossos pelos arrepiarem quando ouvimos um grito de guerra. O coração chora através dos olhos quando se escuta o hino a tocar, ali naquele terreno entendi o amor fraternal das baianas e da velha guarda. Hoje sei qual a sensação de ver minha escola entrar… Aquele mar azul e branco na Avenida. Como diz o poeta: Para sempre irei te amar”.

“… Me disseram uma vez
Que o danado do amor pode ser fatal
Dor sem ter remédio pra curar…”

“Um amor arrebatador”. O professor Lucas Máximo vai além da paixão por um pavilhão: “Carnaval minha festa querida, desde 1995 eu já tinha um carinho pelo Carnaval carioca mas foi pela festa paulistana que me encantei. Foram sete anos lhe assistindo de longe e cultivando este amor platônico até me decidir a lhe ver de perto das grades do Anhembi. De lá pra cá todos os anos nos reencontramos. Tive o prazer de ver sementes crescerem, dar frutos, se agigantarem, adormecerem e até renascerem das cinzas; Choramos quando espelho quebrou ou quando o carro não entrou, entristecemos quando a fantasia caiu ou rasgou e quase nos separamos quando você se manchou. Porém as feridas se fecharam e juntos nos emocionamos com cada desfile, com cada pavilhão, com cada enredo. Conhecemos novas histórias e ouvimos cada samba se transformar em poesia alimentando os nossos corações. Amigos não me levem a mal mas o meu amor é o Carnaval”.

Em vídeo, o compositor Jorge Zanin fala com profundidade sobre o amor que tem ao samba, ao Carnaval e, em especial, a Unidos de Vila Maria:

Talvez nem a insanidade de Dioniso seja capaz de traduzir tamanha entrega que muitos sambistas possuem.

É como tentar parafrasear uma canção de Emicida sem vivenciar sua cultura, sem entender seu estilo musical. Poucos se atrevem a ser um cientista e poeta como Paulo Vanzolini ou ter uma personalidade neoclássica como o pintor William Adolphe Bouguereau. Se torna difícil entender sem sentir, e depois de entender, se torna impossível não apaixonar-se.

“… E até hoje, ninguém conseguiu definir o que é o amor
Quando a gente ama, brilha mais que o sol…”

Dedicado para todos os enamorados e ao poeta Arlindo Cruz. Feliz dia dos namorados!

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