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Mestre Lagrila; DNA de sambista, trajetória de vencedor

Mestre Lagrila. Foto: Acervo

Odirley Isidoro publica mais um texto em sua coluna no portal SRzd.

Natural de São Paulo, nasceu no bairro do Parque Peruche, na Zona Norte da cidade. Poeta, escritor, pesquisador e sambista. Ao longo de sua trajetória, foi ritmista das escolas de samba Unidos do Peruche e Morro da Casa Verde, além de ser um dos fundadores da Acadêmicos de São Paulo.

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Documento mestre Lagrila 

Nem o melhor texto de Franz Kafka definiria a personalidade deste magistral sambista, então confiei a palavra para uma das maiores personalidades do ritmo, mestre Osvaldinho da Cuíca, para começar a decifrar o “Código Da Vinci” deste sambista:

“Lagrila foi um amigo no qual eu briguei quando levantei a Embaixada do Samba junto com Seo Nenê de Vila Matilde, Mestre Feijoada e Mestre Gabi. Era audacioso e tinha personalidade forte, essa era sua carta de referência para o mundo do samba”.

Talvez a filosofia futurista de Filippo Tommaso Marinetti fosse capaz de traduzir sua alma perspicaz que fora moldada no ventre de sua mãe, onde lá, já fazia samba.

Foi batizado com o nome de Laudelino, que em Hebraico significa “aquele que merece louvor”, e acredito que em todos os trabalhos que empenhou dentro de uma escola de samba, assim o fez!

Cresceu entre as casas de pau a pique e ruelas de terra da então pacata Itaquera.

Vivenciou a simplicidade da cultura japonesa e mergulhou na sonoridade da bateria da Falcão do Morro Itaquerense, onde rapidamente passou de ritmista para apitador. Teve breve passagem na Folha Azul dos Marujos, porém, já estava escrito em azul e branco o seu destino.

Vila Esperança, o templo sagrado do samba da Zona Leste.

Foi ali que o destino mudou os rumos de Lagrila e, em 1965, posou nos braços da águia guerreira aperfeiçoando o padrão rítmico da escola com a levada das caixas de guerra.

Somente uma pessoa poderia traduzir este momento, então trago as palavras do Alberto Alves da Silva, o Seu Nenê (In memorian):

“Nós tínhamos o culugundum (mistura de ‘percussão de escola de samba’ com maracatu que a Nenê de Vila Matilde usou de 1950 a 1970), era uma batida que ninguém jamais tinha visto, nós inventamos lá na Penha, na Vila Matilde, e fazíamos brincando com o mestre Lagrila. Era um sucesso e, quando a gente vinha lá de longe, o pessoal já sabia; lá vem a Nenê”. (Trecho Retirado do Livro Memórias do Seo Nenê de Vila Matilde – Ana Braia).

Graças aos dois amigos: Champlim e Mário, Lagrila foi apresentado ao mestre Nicolau, da Nenê, e logo seu talento foi lapidado e moldado. Aos poucos o mestre foi passando o apito ao talentoso pupilo. Com o aval do “Velho Cacique,” seu coração começou a se vestir com o manto azul e branco.

Áudio resgatado de mestre Lagrila falando sobre a bateria da Nenê

Dizem por aí nas rodas de bambas, nas noites madrigais e nas ruelas das quebradas do mundaréu, que até o poeta Vinícius de Moraes se rendeu ao talento dos ritmistas da Nenê de Vila Matilde sob a tutela de Lagrila: “Uma escolinha mixuruca e uma bateria fora de série, resultado: sucesso”, teria dito Vinícius.

Pedi ao amigo e compositor Marco Antônio para relembrar um pouco do contato que manteve com ele:

“Lagrila foi tricampeão na Nenê e em 1972 eu o conheci quando eu cheguei à Mocidade Alegre para ser mestre-sala, ele já era diretor de bateria bicampeão na Mocidade e em 1973 chegou ao segundo tricampeonato em sua carreira, neste período ele inovou fazendo lindas coreografias com a bateria sem perder o andamento, a cadência e o ritmo. Em 1974 ele vai para o Camisa Verde e Branco e se torna tetracampeão do Carnaval, ele foi um vencedor nato. Um grande sambista que fazia parte da Embaixada do Samba e tínhamos uma amizade que deixou muitas saudades”.

Mestre Juca fala sobre suas relações com Lagrila

Para Lagrila o seu auge maior eram suas notas, porém, se a sua bateria não transmitisse a mesma emoção às arquibancadas, isto não era samba, não era sua essência, não era Lagrila.

“Se você me ver dirigindo a bateria sou eu e só, eu sozinho, eu sou o responsável, se estiver boa sou eu, se estiver péssima sou eu e se estiver mais ou menos sou eu também, não tem três caras, um aqui, um lá no meio, na beirada, na ponta, pra mim não, isso aí é invenção”, disse Lagrila à Francisco de Assis Santana Ministrel, o Chico Santana.

Coluna dedicada aos antigos ritmistas que ajudaram a trilhar os passos do mestre: Champlin, Doce, Hernani, Mário, Ninhão, Patinho, Serjão (considerado por ele o maior surdo de terceira de nosso Carnaval) e Tiba.

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