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Explicando o talento, intérprete cita Janis Joplin; ‘Quando eu abri a boca saiu assim’

Janis Joplin. Foto: Reprodução

Odirley Isidoro publica mais um texto em sua coluna no portal SRzd.

Natural de São Paulo, nasceu no bairro do Parque Peruche, na Zona Norte da cidade. Poeta, escritor, pesquisador e sambista. Ao longo de sua trajetória, foi ritmista das escolas de samba Unidos do Peruche e Morro da Casa Verde, além de ser um dos fundadores da Acadêmicos de São Paulo.

As publicações são semanais, sempre às terças-feiras, na página principal da editoria do Carnaval de São Paulo. Leia, comente e compartilhe!

Por onde anda Nilson Valentim? 

O apito do trem se escuta ao longe na estação.

É como o sinal de um mestre de bateria ao reger sua orquestra.

Juntos o som da cuíca, tamborins, surdos, caixas, pandeiros, pratos e outros instrumentos com vozes e mais vozes que permeiam os vagões: Baixos, Tenores, Contraltos, Sopranos e Barítonos, todos enriquecendo o canto.

Foi com o canto que este nobre, desde pequeno, incendiou os vagões de sua vida e, precocemente, ascendeu em uma escola de samba.

De personalidade forte e de sorriso marcante ele fez de sua voz a sua assinatura, estamos falando de Nilson Valentim.

Nilson conte da onde vem sua ligação com o Carnaval?

Nilson Valentim: Bem, venho de uma família literalmente de pessoas ligadas direta ou indiretamente à música. Desde pequeno já escutava os discos de  samba-enredo da época e gostava de ouvir as vozes dos intérpretes. Logo, um samba me encantou: “Exaltação ao Criador”, da Flor de Vila Dalila, em 1983. De cara eu pensei: Nossa que voz maravilhosa era de Terena e minha mãe me levou para a Avenida, e fiquei ainda mais encantado. Até que pela primeira vez, em 1985, ouvi a voz da Eliana de Lima e me apaixonei. Os anos se passaram e eu comecei a dar meus primeiros passos no samba, na Caprichosos do Piqueri. E eis que a Embaixatriz, Dona Célia, se encanta com minha voz. Porém, na época, o Favela era intérprete da Caprichosos e da Mocidade Alegre. Cheguei a ir na Mocidade e conversei com o Seo Carlos. Mas, numa manobra do destino e através de um convite especial feito pela Dona Célia, fui conhecer a Eliana e fui para a Unidos do Peruche. Durante um dos ensaios eu estava cantando e a Eliana perguntou para a Dona Célia: Quem é este menino? Ela respondeu; é meu afilhadinho! E assim fui trabalhando, cantando e fui acolhido pela Eliana de Lima, minha madrinha. Fui para a Avenida ao lado dela no desfile de 1990, com o enredo: “De Roma pagã ao esplendor da Paulicéia”. Fiquei até 1992 e pude compartilhar de bons momentos com a Bernadete, no qual tive o prazer de trabalhar, grande voz de nosso Carnaval.

Nilson Valentim e Odirley Isidoro. Foto: SRzd

Logo após sua saída da Unidos do Peruche você foi para a Gaviões da Fiel, conte-nos como foi esta mudança?

Nilson Valentim: Eu comecei a frequentar ainda mais os ensaios da escola de meu bairro: “Só Vou Se Você For”. Lá encontrei um amigo que fazias sambas nos Gaviões da Fiel e em uma eliminatória o pessoal recordou de minha passagem, e me convidaram para cantar alguns sambas históricos. Na mesma data um antigo diretor da escola de nome Darcivan me fez um convite para ser intérprete junto do Ernesto Teixeira. Eu logo pensei: já tenho várias amizades aqui e estamos em ascensão porque não encarar este desafio? Fique de 1993 até 1997 e fiz inúmeras amizades.

Trazendo para o atual momento e observando como intérprete, para você, o que se perdeu em nosso Carnaval?

Nilson Valentim: Olha eu creio que em relação as letras de samba-enredo eram mais fáceis e brincava-se muito com as melodias. Elas se encaixavam com facilidade e assim auxiliando o canto das escolas. Quando começaram as junções, onde se mudou o conceito de escrita das obras, eu logo percebi que a coisa começou a ficar mais complicada. Ficou maior a percepção quando os intérpretes começaram a acelerar o andamento do samba e assim se perdeu a melodia, onde o intérprete não pode dar o máximo de sua voz, de seu talento. No atual momento se o intérprete faz um outro andamento aos moldes do samba ele não somente prejudica o seu trabalho mas também todo o canto da escola e o resultado fica abaixo do esperado.

Em sua ótica quais foram os seus melhores momentos na carreira?

Nilson Valentim: Um momento que recordo com carinho foi em 1998 e 1999, no qual fui agraciado com atitudes e momentos em que pessoas especiais me fizeram realmente me transformar em Nilson Valentim. Em especial o André Pantera e outras pessoas da casa, nesta época, eu estava como intérprete oficial da Mocidade Alegre. Outro momento especial foi o meu retorno à Unidos do Peruche, em 2000, escola que sempre tive muito apreço e carinho, pois foi onde tudo começou. Sou muito feliz por ter participado de vários momentos especiais e um deles é o retorno para a elite junto da Acadêmicos dos Tatuapé, onde também fui intérprete.

Você teve uma ascensão muito rápida e até hoje é lembrado por vários sambistas, mesmo estando fora do Grupo Especial. Como você enxerga isso?

Nilson Valentim: Sempre fui um cara que executei muito bem o meu trabalho por onde passei e ganhei muitas disputas em eliminatórias. Isto, de certo, me gabaritou a ser requisitado por amigos para representar durante as disputas e, claro, que foi trazendo maior exposição e não deixando meu nome adormecido. Porém tenho que agradecer à X-9 Paulistana, que me deu a honra de cantar mais alguns sambas na escola e assim, representando amigos, me sagrar campeão destas disputas.

Sua voz se tornou sua assinatura para o povo, quem ouve, logo lhe identifica. Você foi abençoado por ter este timbre diferente dos intérpretes da época, de onde vem esta voz e como ela lhe beneficiou na carreira?

Nilson Valentim: Rapaz, eu não sei da onde vem, eu sei que é igual a Janis Joplin: Quando eu abri a boca saiu assim! Sempre vivi envolto de muitas mulheres ousadas e maravilhosas e acabava moldando a minha voz as delas e foi assim, tudo se ajustando. O meu timbre acabou se tornando minha assinatura. Tudo foi fluindo e a majestosa Denise do Peruche foi me passando algumas coisas e me apoiando. Ela sempre me dizia uma frase: bendito seja Deus que lhe abençoou como uma voz assim.

Como está sua carreira atualmente?

Nilson Valentim: Estou disponível para voltar ao mercado e acabei de concretizar um sonho antigo, que várias vezes bateu na trave. Eu estava em um momento de reflexão entre Carnaval, teatro e lançar um CD. E eis que através do Salgado Luz, Marcos Boldrini e outros amigos eu pude lançar meu primeiro CD. “A voz do samba – Nilson Valentim, o intérprete”, com quatro faixas. Em breve estará disponível e espero que gostem pois foi feito com muito carinho!

Valentim deixa seu recado final para os leitores do portal SRzd

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