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Em entrevista, Eliana de Lima fala de preconceito, Carnaval e revela sua escola de coração

Eliana de Lima. Foto: Divulgação

Odirley Isidoro publica mais um texto em sua coluna no portal SRzd.

Natural de São Paulo, nasceu no bairro do Parque Peruche, na Zona Norte da cidade. Poeta, escritor, pesquisador e sambista. Ao longo de sua trajetória, foi ritmista das escolas de samba Unidos do Peruche e Morro da Casa Verde, além de ser um dos fundadores da Acadêmicos de São Paulo.

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Em entrevista, Eliana de Lima fala de preconceito, Carnaval e revela sua escola de coração

Olá amigos, um feliz ano novo para todos!

Brindando este 2018 e abrindo alas para mais uma folia, temos a honra de contar com a presença dela, que se tornou uma das maiores vozes femininas do nosso Carnaval: Eliana de Lima.

Conte-nos como foi a sua entrada para o mundo do samba, quem a incentivou?

Eliana de Lima: Para mim o samba foi coisa de pele, eu nasci dentro de uma escola de samba. Meu primo me convidou para conhecer a quadra de uma escola de samba sem a permissão de minha mãe e ele me levou para a Cabeções da Vila Prudente e lá, eu vi a Silvia, intérprete da escola. Uma mulher que tinha uma voz e que cantava lindamente. Eu gostei. Após uma semana eu voltei até lá e pedi para cantar. Eles me deixaram cantar. Logo depois veio o convite do Príncipe Negro, em 1980. Eu tenho muito a agradecer ao Rubão e ao Naor. Eles foram os primeiros a acreditar no meu trabalho e me deram a possibilidade de cantar e gravar o samba do Príncipe Negro, daí em diante, tudo começou para mim. No ano seguinte, eu fui para Unidos do Peruche e, desde a eliminatória, o samba foi em minha voz e fui para Avenida. Porém, eu tinha o sonho de gravar um disco e saí da escola. Fiquei dois anos na Mocidade Alegre, passei pela Barroca Zona Sul onde ganhei e gravei o samba, mas não fui para a Avenida, por ser mulher. Fui para Imperador do Ipiranga. O samba ganhou na minha voz, porém, eu voltei ao Peruche e coloquei a Marcia Inaya e, em 1984, defendi um samba de Ideval Anselmo e Mestre Lagrila, que me consagrou no Carnaval de 1985; Água Cristalina. Em 1988 eu tive a honra de cantar Filhos de Mãe Preta junto com o Mestre Jamelão, foi uma experiência maravilhosa e um dos maiores sambas de enredo que eu cantei em minha vida, algo inesquecível! Em 1989 veio o convite da Leandro de Itaquera. Na época eu seria remunerada e precisava ter condições melhores para apresentar o meu trabalho pois a maioria não recebia para cantar, era mais paixão. Após este período começaram a remunerar os profissionais. Porém, todo este sofrimento foi válido como aprendizado para minha história e para minha carreira.

Odirley Isidoro e Eliana de Lima. Foto: SRzd

Logo você começou a se destacar não somente pelo Carnaval, mas também, pelos LPs de samba. Como foi este momento?

Eliana de Lima: Graças ao meu público e as escolas de samba que abriram as portas para o meu trabalho eu comecei minha carreira solo. Em 1987 eu gravei um LP pela gravadora Continental, porém, não demos seguimento devido a outros ritmos que estavam em alta na época, mas estava escrito, pois em 1991 veio meu grande sucesso que foi “Desejo de Amar”, um divisor de águas em minha carreira. Hoje sou uma mulher muito agradecida ao Carnaval de São Paulo e também aos meus fãs que sempre estão comigo. Tenho certeza que escrevi em minha carreira uma história de amor.

O seu talento impulsionou outros nomes ao universo das escolas de samba e você sempre valorizou o trabalho da mulher. Comente esse aspecto:

Eliana de Lima: Em 1991 eu tive o prazer de ver nascer mais uma puxadora de escola de samba que foi a Bernadete, na Unidos do Peruche, ela que é uma grande amiga e uma excelente cantora, muito talentosa e que veste a camisa da Unidos do Peruche, com muita honra. Ela tem um coração imenso, eu gostaria que ela tivesse ainda mais espaço para expor o seu talento. A mulher merece destaque dentro do seu trabalho no universo das escolas de samba e ela é uma expoente entre outros nomes que ainda estão aí trabalhando em prol do Carnaval. Eu sinto que falta espaço aos compositores, aos puxadores para expor seu trabalho pois São Paulo é uma cidade que acolhe, porém não dá oportunidade aos seus artistas. Nós temos muitos talentos que merecem ser reconhecidos.

Como você vê o momento da mulher nas escolas de samba?

Eliana de Lima: A mulher tem que estar a frente em vários segmentos do Carnaval, pois ela tem a capacidade para tomar decisões e para representar de maneira digna as escolas de samba. Tudo que ela faz, ela coloca amor. Eu sempre fui uma mulher que me doei ao máximo a frente das escolas de samba e fiz questão de não sair em carros de som, sempre no chão, ao lado do povo. Sempre foi algo que me fez feliz e me faz feliz, estar perto do público. Eu fui uma mulher que sofreu muito preconceito por não acreditarem que eu tinha capacidade de aguentar uma hora e vinte cantando e eu provei que sim. As mulheres quando querem, podem também.

Como era conhecer e disputar com grandes nomes do samba?

Eliana de Lima: Eu conheci pessoas maravilhosas; Ideval Anselmo, um dos maiores compositores do Carnaval Paulistano, o Zelão, Portela da Mocidade Alegre, Armando da Mangueira, Royce do Cavaco, Thobias do Vai Vai, Agnaldo Amaral iniciando a carreira, Juscelino, Carlão Maneiro, enfim, era um time fantástico. Eu sempre fui uma mulher de fazer amizades e de respeitar o espaço do outro e foi assim que me posicionei ao longo de minha carreira. Fui aprendendo com o Portela, vendo o Armando da Mangueira e fui pegando um pouco da experiência deles. E estou aplaudindo essa nova geração que está caminhando no mundo do samba como Darlan, Grazzi Brasil e tantos outros nomes.

Neste cinquentenário dos desfiles oficiais, recorde algumas personalidades de nosso Carnaval e um momento marcante?

Eliana de Lima: Para mim as personalidades de nosso Carnaval são: Moisés da Rocha e Evaristo de Carvalho, ambos me ajudaram muito em minha carreira. Waltinho Guariglio foi uma pessoa que apostou em mim e que sempre tive estima por ele. Logo quando ele trouxe Jamelão, Laila e Joãozinho Trinta, o Carnaval de São Paulo cresceu. Seo Nenê de Vila Matilde, Pé Rachado, o comandante Thobias do Camisa Verde e Branco, Geraldo Filme, nos tempos de Uesp, entre outros. Se o pessoal tivesse conhecido esta época muita coisa de errado hoje não aconteceria. Um dos momentos marcantes para mim era quando eu chegava no começo da Avenida e olhava as arquibancadas da Tiradentes lotadas e ouvia o povo chamando o nome da escola. Quando me viam chamavam meu nome também, era algo maravilhoso. Eles sempre tiveram um extremo carinho por mim.

Qual a escola de samba do coração da Eliana de Lima?

Eliana de Lima: Todo mundo me faz esta pergunta! A Unidos do Peruche foi a escola que me proporcionou o primeiro degrau da fama, mas a Leandro de Itaquera foi onde consolidei minha carreira, aquele desfile de 1989 “Babalotim, A história dos Afoxés”, foi algo mágico. As arquibancadas da Avenida Tiradentes tremiam. Ambas as comunidades sempre me abraçaram, tenho o carinho imenso pelas duas escolas.

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