Cercada de expectativa, Vai-Vai derrapa na evolução e samba não empolga

A quinta escola a desfilar no Sambódromo do Anhembi na madrugada deste domingo (26), em São Paulo, foi a do “povo”.

Sempre entre as mais esperadas pelo público, por ser a mais popular da cidade, a Vai-Vai chegou com um ingrediente diferente neste ano, temperado com a força de seu enredo e o apelo de seu samba.

“No Xirê do Anhembi, a Oxum mais bonita surgiu…Menininha, mãe da Bahia – Ialorixá do Brasil” foi o título do tema escolhido pela Saracura.

Mãe Menininha, ponto central da trama, foi batizada como Maria Escolástica da Conceição Nazaré, era Iyálorixá do terreiro “Ilê Iyá Omi Axé Iyamassê”, fundado em 1849, por sua bisavó. Era e permanece sendo uma referência do Candomblé e da preservação da cultura afro-brasileira, e morreu em 1986. Clique aqui e veja as fotos do desfile da Vai-Vai.

Na abertura, a estreante na Vai-Vai, Roberta Melo, e sua comissão de frente. Neste segmento, a Saracura levou sua pior nota em 2016, um amargo 9,6.

Tendo como figura central o Orixá Oxum, e o apoio de elemento alegórico, trouxe coreografia extensa, que contribuiu para algum atraso na evolução, algo que teve consequências mais à frente. Roberta foi orientada por diretores de harmonia e apressou sua trupe, a partir da metade da pista.

A responsabilidade de levar o pavilhão alvinegro

Pingo e Paula, primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, forjados no Bixiga, vindos de berços de sambistas.

Pingo chegou à Vai-Vai em 2001, e desde 2006 está ao lado de Paula Penteado na missão de levar um dos pavilhões mais importantes do Carnaval brasileiro.

Ela, filha do diretor de harmonia Fernando Penteado, sobrinha de Cleuzi Penteado, veio no clima e com as energias dos seus protetores espirituais. A dupla mostrou alterações importantes na sua coreografia ao longo da fase de preparação, deixando gestuais em referência aos Orixás, preferindo apostar numa dança mais tradicional, o que se repetiu nesta noite.

Wander Pires e as vozes femininas

Além de um samba popular, uma ala musical de respeito.

Wander Pires, nome gravado entre os grandes na arte, ganhou o reforço de duas doces, e não menos potentes vozes para cantar o aclamado hino de autoria dos poetas Edegar Cirillo, Marcelo Casa Nossa, André Ricardo, Dema, Leonardo Rocha e Rodolfo.

Grazzi Brasil e Didi Gomes fizeram a diferença na formação do time de canto. Mas embora popular, algo inexplicável aconteceu, já indicado desde a temporada de ensaios gerais, no desfile da Vai-Vai. Uma das vedetes deste ano em São Paulo, o samba não mexeu, como se esperava, com as arquibancadas.

Como explicar? Talvez a falta de explosão nos refrões e as variações métricas ao longo dos versos, tenham contribuído para que o tão esperado “sacode” não acontecesse. Embora bastante melódica e elaborada, a composição traz, em grande parte de sua estrutura, notas mais baixas, perfil que pode explicar o fenômeno, bem exemplificado na construção do refrão do meio:

“Xangô…Kaô Kabecilê
Eparrêi Oyá…Obá Xirê, Obá
Ogunhê meu pai Ogum”

‘Pegada de Macaco’, sob o comando de uma lenda vida do Carnaval de São Paulo

Mestre Tadeu superou quatro décadas nesta função.

Cara de bravo, irreverência para os que estão mais próximos. No auge de sua experiência, colocou sua bateria em favor do samba-enredo. Convenções bem desenhadas, precisas e sem tirar a identidade de uma das mais tradicionais batidas do Carnaval no país. Além da qualidade do ritmo, a exuberância de uma verdadeira rainha, Camila Silva.

Vivendo seu melhor ano no campo profissional e no universo do samba, foi coroada também na carioca Mocidade Independente de Padre Miguel, e reafirmou os motivos do enorme sucesso na temporada.

Depois do casal Lage, a comissão de Carnaval

Alexandre Louzada, André Marins e Júnior Schall.

O trio foi responsável por desenvolver o projeto de Carnaval da “Escola do Povo”, fruto de um desejo pessoal do presidente Darly Silva, o Neguitão.

Olorum e a criação do universo foram o destaque do setor de abertura. A Bahia de todos os santos e seus súditos, Yorubás, Jejes e Bantos, e a história de superação do Banzo, enfrentando a dor, apoiados na fé, foram retratados nos elementos seguintes.

A casa fundada por Mãe Menininha, “Ilê Iyá Omin Axé Massê”, foi representada e assim definida pelo antropólogo Julio Braga: “Historicamente, o Gantois é um Candomblé familiar de tradição hereditária consanguínea, em que os regentes são sempre do sexo feminino”.

Mais que uma homenagem à Mãe Menininha, o desenvolvimento da história contada na Avenida fez uma reverência aos cultos candomblecistas, religião animista, original da Nigéria e da República de Benin, trazida ao Brasil por africanos escravizados e aqui estabelecida, onde sacerdotes e simpatizantes encenam, em cerimônias públicas e privadas, uma convivência com as forças da natureza e ancestrais.

Os seguidores do Candomblé prestam culto e adoram os Orixás, deuses africanos que representam as forças da natureza em seus quatro elementos: água, terra, fogo e ar.

As características individuais dos Orixás, que assemelham-se aos seres humanos, identificadas pelas emoções, estiveram presentes em diferentes momentos do conjunto visual. Segundo estudos, estão identificados cerca de 400 Orixás, divididos igualmente para cada elemento da natureza.

Os mais conhecidos somam 16, em ordem alfabética: Exu, Iemanjá, Iansã, Ibeji, Iroko, Logunedé, Nanã, Obá, Ogum, Olorum, Ossain, Oxalá, Oxóssi, Oxum, Oxumaré e Xangô. São considerados intermediários entre os homens e Deus, e foram abordados ao longo do conjunto alvinegro.

Atraso na primeira metade do desfile prejudica a evolução

O atraso no começo do desfile, aberto com discurso do ator Milton Gonçalves, e a evolução mais cadenciada na primeira metade do cortejo, comprometeu todo o conjunto.

A partir dos 43 minutos da apresentação, a direção de harmonia imprimiu um ritmo frenético às alas, que fizeram a travessia pela pista com aceleração destoante daquela mostrada pelos setores iniciais. Aceleração que prejudicou ainda a leitura do enredo, através das fantasias, marcadas pela originalidade, e dos carros. Carros que também acusaram problemas de acabamento em sua decoração e iluminação. O esforço da diretoria evitou maiores danos, conseguindo tirar a escola da Avenida no limite do tempo máximo permitido pelo regulamento.

De olho no relógio!

A Vai-Vai encerrou seu desfile com 1h05

Assista à entrevista de Lourival Almeida, diretor de Carnaval, gravada após o desfile

Confira no gráfico as classificações da escola nos últimos dez Carnavais

Prêmio SRzd Carnaval SP 2017

Na noite desta segunda-feira (27), na página da editoria de Carnaval do SRzd em São Paulo, será divulgado o resultado oficial desta edição do prêmio. A votação estará disponível após o encerramento do desfile da última escola do Grupo Especial.

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A apuração das notas atribuídas pelos jurados da Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo acontece nesta terça-feira (28), com transmissão ao vivo da Rádio SRzd.

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