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Armando da Mangueira; tonelada de emoções

Armando da Mangueira; tonelada de emoções. Foto: Acervo pessoal

Odirley Isidoro publica mais um texto em sua coluna no portal SRzd.

Natural de São Paulo, nasceu no bairro do Parque Peruche, na Zona Norte da cidade. Poeta, escritor, pesquisador e sambista. Ao longo de sua trajetória, foi ritmista das escolas de samba Unidos do Peruche e Morro da Casa Verde, além de ser um dos fundadores da Acadêmicos de São Paulo.

As publicações são semanais, sempre às terças-feiras, na página principal da editoria do Carnaval de São Paulo. Leia, comente e compartilhe!

Armando da Mangueira; tonelada de emoções

Mais uma madrugada de outono paulistano, fria e silenciosa.

A noite alimenta a mente e a alma.

Saboreando os prazeres de um bom vinho Cabernet e ouvindo o último arquivo em mp3 que recebi do pesquisador Robson Hate, mergulhei profundamente dentre as ruelas de um morro.

E no reflexo de uma poça d’água eu vi, eu ouvi e senti a energia que pulsava oriunda das casas de alvenaria do morro da Mangueira.

Como o vento a soprar, um som permeava a mente e trazia a lembrança de grandes Carnavais.

Simplesmente, por um instante, eu divaguei entre tantas histórias e momentos que se eternizaram através dos tempos.

Uma faísca de luz pincela o céu, trazendo a vida deste que mudaria o rumo da história.

Logo aos oito anos ele perde seu pai, e sua família muda-se da Barra da Tijuca para o Saara Carioca. Ali, despertam suas habilidades no “Bloco Senhor dos Passos” e no “Bafo da Onça”.

Junto de amigos, ele se torna assíduo frequentador da Estãção Primeira, e ganha a alcunha de Armando da Mangueira.

“Eu sou o samba
A voz do morro
Sou eu mesmo sim senhor”
(A voz do morro, Zé Keti)

Na década de 50, sua família aporta em São Paulo, trazendo a mistura da cultura Libanesa com o sotaque dos morros cariocas.

O som da frigideira e do apito se misturam ao barulho dos mascates em plena região da Rua 25 de Março. E ele, com cheiro de saudade, sempre que podia retornava às margens da Guanabara, até criar o grupo: “Armando da Mangueira e os Acadêmicos do Guanabara”, fazendo a festa por onde passava.

A qualidade do trabalho logo fora reconhecida e ele recebe o título da verde e rosa; “Embaixador e Comendador da Mangueira”, o “Cartão de Prata”, honraria que somente o ex-presidente Geisel e o Rei Pelé haviam recebido.

Entre as glórias, seu coração pedia um lugar para fazer morada e o samba lhe presenteou com o som de um pandeiro tocado pelo “Jovem Cacique”. Esta foi a porta de entrada para, com maestria, despejar sua arte. E em 1975, assim ele fez:

“Agradeço ao criador
por ter-me feito nascer
Sob esta terra de samba”
(Nenê de Vila Matilde, 1975)

O poeta Castro Alves descreve: “A amizade é o ingrediente essencial na receita da vida”.

E desta maneira se torna fácil compreender as palavras do compositor Marco Antônio ao companheiro de tantos Carnavais na Vila Matilde: “Tive o prazer de ter sua amizade e de sua família. O Armando foi um sambista autêntico, um exímio puxador de samba-enredo e tocador de frigideira. Um versador de primeira nas rodas de partido-alto e uma pessoa querida por todos”.

Com seu coração invadido pelo manto azul e branco, ele despeja seu amor. E assim nascem lindas poesias que se eternizam com o passar do tempo.

Após um convite de seu filho mais velho ele conhece o então Bloco Gaviões da Fiel e recebe um convite especial de Osvaldinho da Cuíca para gravar o primeiro samba-enredo. Sua alma se torna alvinegra e não existe pessoa melhor para falar sobre Armando do que a eterna voz da Fiel, de Ernesto Teixeira:

O tempo, no cessar das horas, se faz importante para que os novos pudessem aprender o valor de sua história.

Para aqueles que não o conhecem, logo ao fechar os olhos uma voz ao longe pode se imaginar a cantar:

“Eu para sempre hei de te amar
Tirando em primeiro, segundo ou em qualquer lugar
Estou falando é de você, minha querida Nenê”

*Robson Hate é pesquisador e responsável pela digitalização e propagação de sambas de enredo de São Paulo.

 

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