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A migração das alas de compositores; a poesia foi morar em outro lugar…

A migração das alas de compositores; a poesia foi morar em outro lugar. Foto: Reprodução

Odirley Isidoro publica mais um texto em sua coluna no portal SRzd.

Natural de São Paulo, nasceu no bairro do Parque Peruche, na Zona Norte da cidade. Poeta, escritor, pesquisador e sambista. Ao longo de sua trajetória, foi ritmista das escolas de samba Unidos do Peruche e Morro da Casa Verde, além de ser um dos fundadores da Acadêmicos de São Paulo.

As publicações são semanais, sempre às terças-feiras, na página principal da editoria do Carnaval de São Paulo. Leia, comente e compartilhe!

A migração das alas de compositores; a poesia foi morar em outro lugar…

“Mentes são dotadas de virtudes e poder, basta abrir as portas, verá florescer”
(Leandro de Itaquera, 1999)

Após as palavras do multiprofissional Leandro Lehart na última semana, refleti sobre este novo processo migratório que acontece com as alas de compositores.

Ontem, as quadras das escolas de samba eram seu território, o seu reduto.

Hoje, a velha sala que era usada para as reuniões dos poetas guarda outros sonhos, longe das composições, de novos sambas.

Porém, uma pergunta fica no ar: O que separa a ala de compositores das comunidades de samba?

Para entender o atual momento, devemos mergulhar mais fundo do que Dostoievski ao influenciar o existencialismo.

O processo migratório começou na década anterior, onde as agremiações passaram a destinar o espaço dos compositores para outros eventos, gerando mais receita e assim, gradativamente, foram emudecendo as cordas. A poesia foi procurar morada em outros lugares…

Quem era profissional de renome no mercado ainda conseguiu caminhar de algum modo. Os mais novos sofreram. A mudança no segmento impediu que nomes oriundos das escolas de samba surgissem, abrindo um lastro para que criassem movimentos de resistências; as comunidades e projetos voltados ao samba.

Essa movimentação teve maior visibilidade a partir do final dos anos oitenta e se estendeu pela década seguinte. Os “pedágios musicais” das rádios e eventos de baixo custo aproximavam o artista do povo.

Em todo esse processo ficamos com o saudosismo das Festas do Chopp, do Havaí… Nelas as escolas de samba mesclavam sua cultura e apresentavam o que tinham de melhor junto com personalidades do gênero. Depois de cada festa, eram as canecas enfeitando as cristaleiras das antigas casas.

Com o passar dos anos o Carnaval evoluiu e as escolas mudaram o seu jeito de compor, diminuindo a participação das alas de compositores e os colocando em outro patamar, com menos destaque.

Muitos decidiram sair e ir atrás de seu reconhecimento. Então onde foram parar os sambistas? Convidei o cantor e compositor Marquinhos Jaca para dar sua opinião sobre este cenário todo, confira no áudio:

Existem hoje no Estado de São Paulo mais de cinquenta comunidades e projetos que estão de portas abertas para receber os compositores e suas velhas guardas. Vale citar alguns trabalhos de relevância na propagação destas vozes.

Batizados pela cantora Beth Carvalho o “Berço do Samba” de São Matheus e o “Samba da Vela” mantém a chama do samba acesa para os novos compositores. O conclamado “Pagode da 27” e o “Samba da Laje” despertam o sorriso no rosto de seus frequentadores. Comunidade “Samba Jorge” e “Maria Zélia” provam que se o solo é bom, sempre colhe bons frutos.

O “Samba que é Massa” faz pulsar o coração em plena Avenida Paulista, fazendo uma folia onde até Ivo Meirelles foi dar uma canja. Na Zona Norte o samba também é social e a “Segunda Sem Lei” alegra e contribui com a sociedade em sua já tradicional roda. O “Quesito Melodia” e seus convidados nos atraem a mergulham entre sambas de enredo. O “Samba da Feira” garante a festança na Vila Carolina. Com as bênçãos de J. Muniz Júnior, lá no litoral, o “Samba Sem Teto” faz enraizar a cultura nacional em São Vicente. Esta semente fez com que diversos sambistas fossem apresentados, mostrando para o mundo a “Baixada Sambista”.

Estes são apenas alguns, entre tantos outros por este imenso Estado. Todos defendendo a bandeira do samba.

E como cada samba novo é tratado como filho, eu dedico este texto à Dona Ruth, minha mãe, que assim como um compositor, ela em seu ventre me compôs para vida!

Parabéns e felicidades!

 

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