‘É um desfile que não vai ter medo’, diz Jorge Silveira sobre reedição da São Clemente

Carnavalesco Jorge Silveira levará a reedição de “E o samba sambou” para a Sapucaí na São Clemente em 2019. Foto: Reprodução

O samba que sambou em 1990, voltará a sambar em 2019 no desfile da São Clemente. A escola aposta na reedição de um dos seus maiores clássicos para alcançar melhores posições na tabela e chegar ao desfile das campeãs. O responsável por repetir o sucesso de 18 anos atrás é o carnavalesco Jorge Silveira, pelo segundo ano consecutivo na agremiação. Jorge assinou o desfile da preto e amarelo da Zona Sul em homenagem aos 200 anos da EBA, mas ficou apenas com o 11º lugar em 2018. Com “E O Samba Sambou”, o carnavalesco quer resgatar a característica crítica e bem-humorada da escola e promete tocar na ferida dos problemas do Carnaval sem medo.

Por que apostar numa reedição no lugar de um tema autoral?

O povo está muito insatisfeito com tudo que aconteceu

“Quando o Renatinho renovou comigo, havia um desejo de resgatar a identidade da São Clemente, o espírito crítico da escola. Eu, de imediato, pensei na possibilidade do “E O Samba Sambou”, mas a escola teve uma certa resistência. Eu convenci eles com a lógica do enredo, especialmente quando aconteceu a virada de mesa. A gente vai apresentar  um aperfeiçoamento de 1990, atualizando com as características do Carnaval de agora. O lugar de fala da São Clemente é levantar a bandeira do povo, e o povo está muito insatisfeito com tudo que aconteceu. Mais do que uma reedição, eu trato como o enredo certo na hora certa.”

Mas as últimas reedições do Especial, Estácio de Sá 2007 e Império Serrano 2009, não deram certo e as escolas caíram. O que fazer para essa reedição emplacar na São Clemente?

“A grande diferença é que essas reedições se basearam na busca de um grande samba para impulsionar o desfile da escola. Nesse momento, o que me conduz a levar a reedição adiante é a maneira como o Carnaval se encontra. Não é o apelo por um samba, é a necessidade de falar de um tema como esse. Isso faz a diferença. Existe uma identificação imediata, e isso vai acontecer com fantasias e alegorias, entre os verdadeiros sambistas e as coisas que estão acontecendo no Carnaval.”

Na sinopse, você cita a virada de mesa, a “farra das credenciais”, o alto som dos camarotes e o episódio do Crivella com a chave. Essa crítica se dará de forma explícita no desfile?

Não será uma crítica lamentosa. Vamos rir de nós mesmos

“Sim. Tudo que a gente teve coragem de falar, é porque vai acontecer. É um desfile que não vai ter medo, pelo contrário. Mas tudo com a linguagem São Clemente de ser: fazendo farra e piada dos problemas. Não será uma crítica lamentosa. Vamos rir de nós mesmos. É uma autocrítica carnavalesca, como faço questão de frisar na sinopse: a São Clemente também faz parte disso.”

Duas partes da sinopse fazem alusão a São Clemente: “peixe pequeno frita mais rápido” e “eu, pequenino, quase rodei esse ano”. Com a questão do peso da bandeira, você acha que foi mal julgado em 2018?

“Sem dúvidas. A gente não trabalhou para décimo lugar. Tínhamos um enredo validado pela Escola de Belas Artes, fizemos o Carnaval mais caro da história da São Clemente, o maior em volume de carros e fantasias, muito bem defendido e desenvolvido. Claro que a escola cometeu pecados, não cantou e evoluiu como deveria, mas eu fui penalizado em coisas surreais. Perdi ponto em alegoria porque um jurado achou que uma aquarela de Debret estava sobrepondo outra, sendo que era um elemento complementar e não principal.”

E a São Clemente não tem medo de ser novamente mal julgada com esse tema polêmico?

“Não tenho medo, porque esse é o lugar de fala da São Clemente. Seria muita hipocrisia fazer uma crítica como essa pela metade. Tem que falar aquilo que deve ser dito. Meu trabalho foi observar com o olhar do povo da arquibancada os problemas do Carnaval e trazer isso para o conteúdo do enredo. Não tenho medo da avaliação porque eu tenho a opinião do povo do meu lado.”

O Império Serrano foi criticado por utilizar a música do Gonzaguinha e não realizar disputa de samba. A São Clemente também não terá eliminatórias. Como ficou a ala de compositores?

“O caso da São Clemente é muito particular, é um reencontro emocional da escola. A ala de compositores está muito feliz, porque esse samba resgata o jeito São Clemente de ser, é a grande obra da agremiação.”

São Clemente 2019. Foto: Divulgação
Logo do enredo da São Clemente para 2019. Foto: Divulgação

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