Unidos da Tijuca pode perder quadra na Francisco Bicalho

Quadra da Unidos da Tijuca. Foto: Reprodução/Google Street View

Quadra da Unidos da Tijuca. Foto: Reprodução/Google Street View

A quadra da Unidos da Tijuca, na Avenida Francisco Bicalho, na zona portuária do Rio, é perto de tudo: do centro financeiro da cidade, da sede da prefeitura, da rodoviária, da entrada de acesso para a Avenida Brasil e para a Ponte Costa e Silva que leva a Niterói.

Em 1993/1994, os ensaios de quadra da Unidos da Tijuca foram transferidos gradativamente do antigo endereço na Rua São Miguel, na Tijuca, no início da subida do morro do Borel, para o “novo lar”, na Avenida Francisco Bicalho, na Leopoldina.

Visão aérea da Quadra da Unidos da Tijuca. Foto: Reproduç
Visão aérea da Quadra da Unidos da Tijuca. Foto: Reprodução

Num trabalho cuidadoso de resgate da memória, o diretor cultural da agremiação, Julio Cesar Farias, revela que “os frequentadores mais antigos contam que tinha se tornado inviável e perigoso demais realizar os ensaios na antiga quadra devido aos constantes tiroteios que ocorriam no local. Esses confrontos entre traficantes com a polícia faziam com que as pessoas se jogassem no chão para evitar serem atingidas por balas perdidas, o que interrompia continuamente os ensaios da escola e, consequentemente, afastava o público”.

Na antiga quadra funciona atualmente o projeto social da escola, o Instituto de Cidadania, com vários serviços e cursos que atende a comunidade do Borel e das adjacências.

Repórter: A quem pertence aquele terreno?

Fernando Horta: Eu também gostaria de saber

A nova quadra da Leopoldina passou por uma grande reforma em 2008 para ampliar as instalações, tem capacidade para 8 mil pessoas e possui 35 camarotes. Constitui-se de um ponto de encontro sem preconceito que recebe os componentes e todas as tribos que apreciam samba e uma boa paquera.

Há dois anos, durante a administração Eduardo Paes, surgiu a ideia de retirar a quadra da Unidos da Tijuca da Francisco Bicalho e  transferi-la para a sede do antigo Sabão Português (UFE), na Avenida Brasil (hoje o terreno tem outra destinação).

Se a remoção tivesse sido feita, no lugar da quadra se permitiria  a construção de duas torres sob o comando de um grupo brasileiro e do conglomerado Trump, de propriedade do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O prefeito Paes deixou o posto, mas a ideia não morreu e será retomada ainda este ano.

O terreno pertence ao Fundo de Investimento Imobiliário Porto Maravilha. Para entender em que estágio está a situação, a presidência da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (Cdurp), indicada pela prefeito Crivella, fez uma solicitação de informação à Caixa Econômica.

Fernando Horta. Foto: Tatiana Perrota
Fernando Horta. Foto: Tatiana Perrota

Através da assessoria de comunicação da Cdurp, o SRzd soube mais detalhes: “Ainda aguardamos a Caixa, que administra o Fundo de Investimento Imobiliário Porto Maravilha, autorizar a Cdurp a entrar na Justiça para a escola sair. Não temos a definição do que será no local. O licenciamento de projeto para o terreno é de torres comerciais. Nós podemos entrar com o pedido de emissão de posse somente após informação de autorização da Caixa, administradora do fundo, proprietário do terreno”.

Ao SRzd, o presidente da Unidos da Tijuca, Fernando Horta, explicou que a existência da quadra da sua escola no atual endereço colabora para evitar que o terreno seja ocupado por “cracudos”, contribui para a cultura da cidade, não prejudica a vida de ninguém e que ele não entende a razão de se querer retirar a escola de samba dali.

“O lugar ideal da quadra da Unidos da Tijuca é na Zona Portuária. Estamos ali desde 1993 e existem espaços ali ociosos. É só ter uma boa vontade política. E tirar a Unidos da Tijuca por que? Se ali é um espaço vazio, aquela outra parte já foi invadida pelos cracudos. Simplesmente ali a gente está conservando até o terreno, a área. Era um lugar degradado. E o Porto Maravilha quer aquilo para que, se não conseguem acabar as obras no entorno? Até porque não está ocupado só pela Unidos da Tijuca. Têm uns barracões ali em frente”, disse.

Ao ser perguntado sobre de quem é o terreno, Horta afirmou: “Também gostaria de saber. Me parece que pertence à Caixa Econômica, não tenho certeza não. Aquilo estava com a Prefeitura, dada pela União, aí a Prefeitura fez uma jogada com aquele pessoal lá de São Paulo, acho que estava o Eike Batista metido, mais aquele Trump, aí iam fazer umas torres e as torres nunca saíam do papel. Eu acho que o terreno é financiamento da Caixa Econômica”, disse. Quando questionado se é pago algum aluguel atualmente, o presidente negou. “No momento não [paga nada]. Nunca fui procurado. Não sei nem de quem é aquilo atualmente”.

“Nós, quando entramos naquele espaço ali, aquele espaço era da União, administrado pelas Docas. Nós fizemos um contrato jurídico e nós pagávamos um aluguel. Depois, as Docas desapareceram. Nós não entramos ali por entrar. Entramos e fizemos as benfeitorias. Tudo o que está feito ali foi feito pela [Unidos da] Tijuca, sem nenhum dinheiro de órgão público”, explicou o presidente da escola.

Não deixe de ouvir a entrevista completa do presidente Fernando Horta, pois ela traz informações novas sobre o assunto:

De fato, se a quadra fechar, ela deixará saudades aos amantes do Carnaval. São incontáveis os elogios de quem frequenta o local: “Ambiente agradável, pessoas bonitas, samba de qualidade, frequentado por pessoas de todas as classes, raças e sexualidade com harmonia e respeito. Um local excelente para quem gosta de bom samba”; “Ótimo lugar pra quem curte escola de samba! Porém, o entorno um pouco perigoso”; “Quadra bem ampla e bateria muito boa”; “Não dispõe de climatização nem estacionamento, mas estar ali é tudo de bom”; “Escola de samba acolhedora. Muita gente simpática. Barato, mas é um lugar simples, também”; “Quadra muito boa, mas muito quente no verão”, dizem os foliões.

Palco dos concorridos ensaios da escola de samba, a quadra da Tijuca se tornou um importante espaço para o entretenimento. Localizada no coração da região portuária, ao lado do centro financeiro e com fácil acesso para as diferentes regiões da cidade do Rio de Janeiro, o espaço tem suprido a carência de casa de show e eventos empresariais e vem se adaptando para realizar eventos culturais.

Quadra Unidos da Tijuca. Foto: Divulgação
Quadra Unidos da Tijuca. Foto: Divulgação

Empresas de diversos setores já realizaram atividades na quadra que conta com dois palcos, camarotes, uísqueria, estacionamento, banheiros adaptados, com um GLS, e rampas de acessibilidade. Para que o serviço tenha uniformidade, a Tijuca construiu uma cozinha industrial de alto padrão para oferecer Buffet.

Nem todo mundo sabe, mas o lançamento nacional da Festa do Peão Boiadeiro e festas comemorativas para a TAP, ABAV, Cervejaria Devassa, TIM, Samba Net, Miss Gay, eventos de sindicatos, de secretarias de governo, de companhias de teatros, de estúdios de cinema e até chopadas de universitários, foram realizados no espaço.  Shows como de Preta Gil e Luiz Melodia levaram animação e boa música para quadra. Uma vez por mês acontece o “Pagode do Mestre”, com várias atrações musicais, principalmente artistas do samba e do pagode.

Nos ensaios que ocorrem aos sábados, além de receber cariocas de todas as idades, tem atraído turistas ávidos pela genuína cultura brasileira do samba e ao mesmo tempo conforto. Os frequentadores contam com bares, vários quiosques de petiscos e drinques, mesas e camarotes para alugar durante os ensaios da escola e também uma sortida loja temática de produtos tijucanos.

 

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